A onda antivacinação que percorre todo o mundo está trazendo de volta doenças controladas e fazendo vítimas fatais. Somente nos primeiros seis meses de 2018, houve 41.000 casos registrados de sarampo, uma doença facilmente evitável, na Europa. Entre estes, 37 mortes foram confirmadas.
No Brasil, 2018 também registra o maior número de casos de sarampo em muito tempo. Segundo matéria do portal G1, desde 1999 o país não registrava um número tão alto de casos.
Até o dia 22 de outubro, 2.425 casos de sarampo foram confirmados no Brasil – 2 mil deles no Amazonas e 332 em Roraima, estados que passam por um surto da doença. Os dois estados registram ainda um total de 7.674 casos em investigação, enquanto 12 casos de morte já foram confirmados – o Brasil havia recebido um certificado de país livre do sarampo em 2016.
De acordo com matéria da Folha de S. Paulo, 2017 foi o ano com o menor nível de cobertura de vacinação no Brasil desde 2002. “São os menores níveis já registrados. A partir de 2015 vimos uma estabilidade e uma redução, mas em 2017 tivemos uma queda ainda mais forte”, diz ao jornal Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Segundo informações da matéria, as taxas de cobertura da vacina tríplice viral eram próximas de 100% desde 2002. Nos últimos dois anos, caiu para 95,4% e 83,9%, respectivamente.
O sarampo também está em ascensão nos EUA. No ano passado, aconteceu o pior surto no estado de Minnesota em décadas, e no início deste ano, houve um surto em Nova York. Neste momento, há um surto em andamento no Brooklyn, com seis casos surgindo na semana passada, todos eles em crianças não vacinadas.
No ano passado, o Centro de Controle de Doenças dos EUA estudou o crescente número de surtos de sarampo nos EUA e descobriu que 70% dos novos casos ocorrem em pacientes não vacinados.
A razão para a gravidade do surto mundial, dizem os especialistas, é a queda nas taxas de vacinação. “É o principal fator que leva aos surtos.
É inaceitável ter no século 21 doenças que deveriam ter sido e poderiam ter sido erradicadas”, aponta Anca Paduraru, da Comissão Europeia em Bruxelas, à NBC.
Para evitar surtos, pelo menos 95% da população precisa ser vacinada com duas doses da vacina tríplice viral (que age contra sarampo, caxumba e rubéola). Em algumas partes da Europa, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cobertura de vacinação é inferior a 70%.
Boatos, desinformação e fraude
O movimento antivacinação vem crescendo nos últimos anos baseado em informações falsas. O exemplo mais simbólico disso é um estudo de 1998 do ex-médico Andrew Wakefield – ex-médico justamente por ter sido retirado do registro médico do Reino Unido por má conduta.
O estudo de Wakefield usou resultados deliberadamente falsificados para fazer a afirmação fraudulenta de que havia uma ligação entre a vacina tríplice viral e o autismo. O motivo? Wakefield havia patenteado uma vacina alternativa contra o sarampo e estava tentando tirar a vacina rival do caminho.
Embora pesquisas posteriores tenham descoberto que não há absolutamente nenhuma ligação entre vacinas e autismo, o boato já, havia, ironicamente, se tornado viral. Até hoje muitas pessoas ainda acreditam e se recusam a vacinar seus filhos.
Assim como no Brasil, o sarampo foi erradicado dos EUA, ou seja, nenhum novo caso é originado no país. Os surtos que ocorrem tanto aqui quanto lá são trazidos de fora de fora. “Isso ficou comprovado pelo genótipo do vírus (D8) que foi identificado, que é o mesmo que circula na Venezuela”, diz o Ministério da Saúde na matéria do G1.
Nos EUA, o surto de Nova Iorque foi causado por um turista, e o atual surto de Brooklyn foi o resultado de uma criança não vacinada viajando para uma área em Israel, atualmente em fase de surto de sarampo.
Segundo especialistas, a situação pode ficar ainda pior. Um artigo de 2014, escrito por pesquisadores italianos, aponta que, com o avanço dos boatos antivacinação na internet, ficou muito difícil de conter essa onda de desinformação. “Por essas razões, os médicos e profissionais de saúde precisam ter conhecimento atualizado sobre as vacinas e conhecer os conteúdos propostos pelos céticos das vacinas.
Educar o público em geral não pode ser totalmente eficaz a menos que haja uma disposição, entusiasmo e compromisso correspondentes por parte dos profissionais de saúde treinados”, alertam.