Jejum de dopamina funciona?
Na era
da Economia da Atenção, em que seus minutos e horas de atenção valem dinheiro
nas redes sociais e aplicativos, algumas pessoas estão praticando o chamado
“jejum de dopamina”.
O
professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia em São Francisco (EUA),
Cameron Sepah, popularizou esse tipo de jejum ao publicar um guia no último mês
de agosto orientando a prática: “fazer uma pausa de comportamentos que
engatilham a liberação de grandes quantidades de dopamina (especialmente de
forma repetida) permite ao nosso cérebro se recuperar”.
Sepah
acredita que sem intervalos, ficamos habituados com as grandes quantidades da
substância e procuramos exaustivamente por estímulos cada vez maiores para
manter este nível alto.
A
recomendação do professor é que você passe de uma a quatro horas por dia longe
de algum comportamento específico que seja problemático para você, seja isso
jogar games, apostar, ou ficar nas redes sociais.
Durante
este tempo, você deve procurar interações cara-a-cara, conectando-se com outras
pessoas. Veja as recomendações do jejum de dopamina segundo Sepah:
·
passe
de 1-4 horas no final do dia longe do comportamento problemático;
·
passe o
seu dia de folga semanal ao ar livre;
·
viaje
em um final de semana por bimestre para um local próximo da sua casa;
·
viaje
uma semana por ano.
Nada
disso parece muito chocante e é o que a muitas pessoas já fazem ou gostariam de
fazer.
Extremistas
O problema é quando
algumas pessoas leem ou escutam o termo “jejum de dopamina” e acreditam que a
solução é tentar cortar todas as fontes de prazer de sua rotina, evitando
alimentos prazerosos, assistir a filmes ou séries e até o contato visual com
outras pessoas.
Isso tem acontecido em
alguns casos pontuais no Vale do Silicone, em que algumas pessoas interrompem
conversas animadas para não se sentirem muito estimuladas e evitam até passar
por ruas movimentadas por causa da agitação.
Dopamina faz parte do aprendizado e memória
A dopamina está
envolvida em um processo complexo de aprendizado, memória e motivação por
recompensa. Em situações saudáveis, é um sinal do cérebro que você está no
caminho certo, e a dopamina é um incentivo para que você repita aquilo que você
acabou de fazer.
A liberação de
dopamina não está nas nossas mãos, portanto é possível questionar se realmente
existe um “jejum de dopamina”.
Apesar do nome que
pode gerar confusão, a proposta de Sepah não é reduzir a dopamina em si, e sim
reduzir um comportamento impulsivo por períodos prolongados.
Um exemplo disso seria resistir ao impulso de olhar o
celular imediatamente ao receber uma notificação. Outro exemplo seria não
correr para as redes sociais em busca de um alívio para qualquer desconforto leve
na vida real.
Como mudar um comportamento problemático
Já o neurocientista e
psiquiatra Judson Brewer, da Universidade Brown (EUA), especialista em vícios,
diz que evitar algo que você gosta de fazer apenas por um dia na semana não vai
resolver o problema. “Isso apenas te priva de algo que você gosta. Mas por que
você ainda gosta disso, você vai continuar voltando para isso”, diz ele em
entrevista à Vox.
A recomendação de
Brewer é ensinar para o cérebro que determinada atividade não é tão prazerosa
assim. Mas como fazer isso? O primeiro passo é perceber que um comportamento te
deixa com uma sensação ruim.
Assim, você não precisa se obrigar a se abster da
atividade, o distanciamento da atividade acaba sendo um resultado natural desse
desgosto. Para perceber que um hábito não está legal, Brewer recomenda o mindfulness, a atenção no aqui e no agora. [Vox]
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