Por Liliane Jochelavicius, em 5.04.2020
A pandemia do novo
coronavírus tem sido considerada um dos problemas de saúde pública mais sérios
dessa geração. O número de casos confirmados no mundo passou de um milhão e
países de diversas partes do mundo instituíram o isolamento e restrições de
acesso como medidas de segurança.
Diante dessa situação a CNET conversou com o
especialista em pandemias Eric Toner para compreender melhor pelo que o mundo
passa nesse momento. Ele é cientista do Johns Hopkins Center for Health
Security e tem mais de 30 anos de experiência em preparação hospitalar para
desastres e pandemias.
Toner trabalhou durante epidemias e desastres em conjunto com
governos e profissionais da saúde pública, ele diz que o novo coronavírus é
único.
O começo
Casos incomuns de pneumonia começaram a
aparecer, no final de 2019, em Wuhan, na China. Naquele momento, os
profissionais de saúde não sabiam o que estava causando aquilo. O vírus era
semelhante ao causador da SARS ou da gripe aviária. Mas era uma cepa totalmente
nova e se espalhava rapidamente.
Três meses depois, o SARS-CoV-2 se espalhou
pelo mundo. Países inteiros precisaram parar e houve um salto no número de
pessoas doentes e de mortes. A expectativa é de que uma vacina demore pelo
menos 18 meses para estar disponível. A pandemia foi declarada pela Organização
Mundial da Saúde no dia 11 de março.
Com os Estados Unidos passando China, Itália e
Espanha em número de infectados e a previsão dos especialistas de centenas de
milhares de mortes nos Estados Unidos nos próximos meses, Toner diz que está
assustado.
Ele fala que a China foi surpreendida, porque ninguém conhecia o
vírus. Depois, a Itália não previu o que estava chegando e foi surpreendida
também. Mas, para Toner, os Estados Unidos há meses viu o que estava chegando,
portanto não pode dizer que foi pego de surpresa.
Para o especialista, uma pessoa precisa não ter
noção do que está acontecendo para não estar assustada nesse momento. Ele
considera que essa pandemia é pior do que o esperado e vai acabar marcando a
história de forma negativa.
Nos últimos 15, pesquisadores vinham avisando
que era questão de tempo ocorrer uma pandemia envolvendo uma nova doença
respiratória.
A ameaça do novo coronavírus está na velocidade
de disseminação e na quantidade de pessoas que ele mata. Tão contagioso quanto
a influenza o novo coronavírus é muito mais letal. Toner explica que as pessoas
ainda não tem imunidade contra a Covid-19, por isso muito mais pessoas serão
infectadas pelo SARS-CoV-2, do que são afetadas pela influenza, que atinge
entre 10% e 15% da população global anualmente.
Por isso, mesmo
com baixa taxa de mortalidade, milhões de pessoas vão acabar morrendo, de
acordo com o especialista. As proteínas spike no exterior do novo vírus se
prendem a receptores no trato respiratório das pessoas e cria uma abertura para
entrar nas células. Assim, o vírus injeta material genético nas células humanas
que passam a produzir mais cópias do vírus e depois explodem.
Assim, a célula libera muito mais vírus em uma reação em cadeia,
aumentando cada vez mais a quantidade de vírus e de células doentes. Toner
explica que os pulmões da pessoa infectada ficam inflamados, incham e se enchem
de fluido. Em casos graves as pessoas morrem porque os pulmões falham.
Há esperança
Pesquisadores e empresas de biotecnologia
trabalham em ritmo sem precedente para desenvolver vacinas contra o SARS-CoV-2
a partir do código genético do vírus, para tentar simular resposta imune em
pacientes não contaminados.
Também há pesquisadores analisando o sangue de
pacientes que se recuperaram da Covid-19, para ver se é possível transferir sua
imunidade para outros pacientes.
Embora possa
demorar um ou dois anos para uma vacina ficar pronta, seria a primeira vez que
temos uma vacina para uma doença infecciosa emergente. Encontrar tratamentos
para a Covid-19 pode levar entre três e seis meses.
Mas com a tecnologia disponível hoje é possível
produzir drogas e vacinas muito mais rápido do que antes, diz o especialista.
No passado isso levava muito mais tempo.
Toner diz que como a doença não pode ser controlada,
só pode ser desacelerada. Isso é essencial e requer ação. É preciso que as
pessoas se unam no atendimento às intervenções que mudam dramaticamente a vida
de todos. As medidas para atenuar a pressão do sistema de saúde precisam durar
mais do que algumas semanas para ter efeito significativo, diz o especialista.
No momento, um terço da população global vive algum tipo de
restrição. É preciso fazer isso por você mesmo e pelos outros, porque o não
atendimento a essas medidas pode causar catástrofes, para muitas pessoas,
inimagináveis como foi visto na Itália e na China, explica Toner. [CNET, Johns Hopkins University, BBC, Medscape, World Health Organization]
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