Ex-especialista da ONU: se Assange for extraditado para os EUA, nenhum jornalista estará seguro
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, pode ser extraditado para os EUA após a audiência de dois dias no Supremo Tribunal de Londres. O que isso significaria para a liberdade de expressão?
A equipe jurídica do fundador do WikiLeaks,
Julian Assange, está lutando
para impedir a sua extradição para os EUA, onde vai enfrentar 17
acusações de espionagem e uma acusação de uso indevido de computador.
Assange, que tornou públicos dados confidenciais que lhe foram fornecidos por Chelsea Manning em 2010, lançando luz sobre os alegados crimes de guerra dos EUA durante as suas invasões e ocupação do Afeganistão e do Iraque, pode receber uma pena de prisão até 175 anos."Se Assange fosse extraditado para os Estados Unidos, nenhum jornalista no mundo estaria seguro", disse à Sputnik o professor de direito internacional em Genebra, Alfred de Zayas, ex-especialista independente da ONU em ordem internacional (2012-2018) e advogado veterano aposentado do Alto Comissariado para os Direitos Humanos.
Especialista Independente da ONU pela promoção de uma Ordem
Internacional Democrática e Equitativa, Alfred de Zayas, com Julian Assange na
Embaixada do Equador em Londres, em abril de 2015
© Foto / Alfred de Zayas
"Essencialmente, significaria que qualquer jornalista que
publicasse informações que o governo dos EUA não gostasse estaria sujeito a
perseguição e acusação. A sua extradição estabeleceria um precedente muito
tóxico de que o princípio fundamental da lei dos refugiados e da lei de asilo
já não protege as pessoas que têm medo bem documentado de perseguição, conforme
codificado no artigo 1 da Convenção de Genebra sobre Refugiados", ressalta
o especialista.
De Zayas explicou ainda que este
princípio, conhecido como "non-refoulement" (não repulsão), é o
direito internacional consuetudinário — conjunto de costumes tomado por uma
sociedade como lei sem que tenha passado por um processo legislativo — e a sua
violação implicaria violações não
só da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados, mas
também do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos
(PIDCP), a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura (artigo
3.º) e a Convenção Europeia dos Direitos Humanos e das Liberdades
Fundamentais.
"Non-refoulement é um direito internacional peremptório, o que nós,
advogados, chamamos de 'ius cogens'. É um direito internacional peremptório, e
também uma norma fundamental consagrada no direito interno de todos os Estados
civilizados", sublinhou o professor.
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