Aliados do presidente Michel Temer avaliaram que a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de abrir investigação sobre possíveis omissões no acordo de delação da JBS podem enfraquecer politicamente a apresentação de uma segunda denúncia contra Temer.
As informações estão sendo analisadas com cautela.
Para eles, Janot quis se proteger ao admitir irregularidades envolvendo o ex-procurador Marcelo Müller, que trabalhou no seu gabinete e depois atuou como advogado do grupo.
Já a oposição disse que a atitude de Janot não invalida as provas já obtidas contra Temer e não inviabiliza a apresentação de uma nova denúncia.
Ambos os lados, porém, concordam que Janot acaba agradando a sociedade ao anunciar que poderá cancelar os benefícios dados a Joesley Batista, dono da JBS.
O deputado Arthur Maia (PPS-BA), que foi relator da reforma trabalhista, disse que o episódio desmoraliza a apresentação de uma segunda denúncia contra o presidente.
A primeira, por corrupção passiva, foi rejeitada pela Câmara no dia 2 de agosto.
Para Arthur Maia, Janot deveria ter "sensatez" e não apresentar nova acusação faltando poucos dias para deixar o cargo.
— Isso desmoraliza por completo uma (nova) denúncia contra o presidente Temer. Isso revela o açodamento da delação da JBS, que trouxe um estrago tão grande ao país e ao presidente.
Foi um ato de muita precipitação de Janot. Comprova ainda que nem tudo que chega aqui, no Congresso, vindo do Ministério Público, pode ser tomado como verdade absoluta.
Ele (Janot) quer consertar o erro — disse Arthur Maia.
— A Câmara saberá se manifestar no momento em que será preciso ter o seu manifesto.
O que houve foi a citação do procurador em relação a um fato jurídico e não cabe à Câmara estabelecer citação em relação a isso.
Não há conhecimento na Casa sobre uma eventual denúncia.
Só poderei afirmar se enfraquecerá ou não quando tivermos conhecimento do que virá nela.
O que posso dizer é que a Câmara não se furtará — disse Fufuca.
Líder da maioria e vice-líder do PMDB na Câmara, o deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), disse que "a festa parece ter acabado", referindo-se às denúncias feitas pela Procuradoria Geral da República.
Ele fez questão de fazer um discurso a respeito.
— O procurador Janot acaba de anunciar que instaurou uma investigação sobre as tratativas da delação dos executivos do grupo J&F, responsável pela JBS.
Esse fato cria um novo momento em relação a esse tema que ocupou a tribuna desta Casa por vários momentos e que, com certeza, ocupará por outros tantos para mostrar que essa festa parece ter acabado — disse Lelo Coimbra.
O presidente em exercício da Câmara, deputado André Fufuca (PMDB-MA), afirmou ter sido informado sobre as declarações de Janot.
O líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), admitiu que uma segunda denúncia ficaria enfraquecida e teria que ser analisada "com mais cuidado".
— Não enfraquece nada e as provas são mantidas. Joesley e Temer são grandes criminosos — disse o deputado.
— A tarefa de passar o Brasil a limpo é irreversível, mas uma segunda denúncia começa a ficar sob a condição de análise mais apurada dos fatos.
Terá que ser analisada com muito cuidado, e o próprio Janot avaliará isso.
Como havia uma disputa política muito forte, o fato com certeza traz contestações ao conteúdo da antiga denúncia e de uma nova — disse Efraim Filho.
Para o líder do PP, Arthur Lira (AL), as delações eram usadas para "proteger os amigos".
— As delações estavam sendo usadas para tudo isso: acertar os inimigos e proteger os amigos — disse o líder do PP, Arthur Lira (AL).
Do lado da oposição, deputados afirmam que, apesar das declarações de Janot, nada muda nas acusações contra o presidente.Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), a atitude de Janot não tira a "robustez" das denúncias contra Temer.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) foi na mesma linha.
— A decisão do procurador não enfraquece uma nova denúncia.
O governo não pode comemorar ou ter alívio — disse Chico Alencar (PSOL-RJ).
Henrique Fontana (PT-RS) afirmou que as provas permanecem em jogo.— O procurador quis dizer que não protege ninguém, mas não enfraquece em nada a denúncia — disse Molon.
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