A mini-lua, conforme imagem de 15 de fevereiro de 2020. Crédito: Catalina Sky Survey
Marcelo Ribeiro, em 25.11.2020
Identificado no
início deste ano, o asteroide 2020 CD3 é apenas o segundo
satélite natural temporário, ou mini-lua, já detectada ao redor da
Terra. Não durou muito, mas aprendemos algumas coisas interessantes sobre
nosso companheiro temporário e por que uma missão para interceptar objetos
semelhantes seria uma boa ideia.
O asteróide CD3 2020 foi primeiro descoberto por
astrônomos do Catalina Sky Survey da Universidade de
Arizona em 15 de fevereiro de 2020. Alguns cálculos preliminares foram feitos
sobre seu tamanho e órbita, mas uma
nova pesquisa publicada no Astronomical Journal está
fornecendo a análise mais completa ainda desta rara mini-lua, de
acordo com o Gizmodo.
Na verdade, “rara” pode não ser o adjetivo correto. O melhor
seria dizer mais “raramente detectada”. Mini-luas, ou satélites naturais
temporários, são provavelmente bastante comuns, mas são difíceis de
detectar, devido ao seu pequeno tamanho inconstância. Mas, como o
Instituto de Astronomia (IfA, na sigla em inglês) da Universidade do Havaí
informou em um comunicado,
aproximadamente um em cada mil meteoros que queimam na atmosfera da Terra já
foram uma mini-lua. Esses objetos não são grandes o suficiente para
causar problemas na superfície da Terra e tendem a fazer algumas voltas malucas
ao redor do planeta antes de retomar sua jornada em torno de um objeto mais
persuasivo gravitacionalmente, o Sol.
Trajetória de 2020 CD3 de janeiro de 2019 a maio de 2020. Crédito: Javier Roa Vicens
Mini-luas podem
parecer banais, mas a 2020 CD3 recebeu muita atenção; o novo artigo possui
com 23 autores de 14 instituições acadêmicas diferentes.
Em primeiro lugar, o novo artigo descartou a possibilidade de que
2020 CD3 fosse um lixo espacial. A relação área-massa do objeto e a baixa
luminosidade sugerem que é um asteróide de silicato, e não, por exemplo, um
foguete propulsor descartado ou um Roadster rebelde daTesla.
O asteróide 2020 CD3 é ligeiramente menor do que as estimativas
preliminares. Tem cerca de 1,2 metros de largura, então é um pouco maior
do que uma lava-louças. Os autores dizem que é provavelmente um fragmento
que se partiu de um asteróide maior e que se originou em algum lugar entre
Marte e Júpiter.
“É incrível que os
telescópios astronômicos modernos possam detectar mini-luas do tamanho de
grandes rochas tão distantes quanto a Lua”, disse o astrônomo e co-autor do
estudo do IfA, Robert Jedicke, na declaração da Universidade do
Havaí .
Os pesquisadores também conseguiram caracterizar a órbita do
objeto com mais precisão. O 2020 CD3 é uma mini-lua há dois anos e meio e não
sabíamos disso. O objeto estava orbitando a Terra desde 2018, mas
mergulhou para uma órbita mais próxima, durante a qual foi detectada por
cientistas com o Catalina Sky Survey.
No total, o 2020 CD3 passou 2,7 anos como um satélite natural
temporariamente ligado a Terra antes de retomar sua jornada ao redor do sol.
Este longo período pegou os autores do estudo de surpresa, pois
as simulações previram uma duração mais curta para a órbita terráquea do
objeto. Dito isso, as observações estavam “de acordo com mini-luas simuladas
que têm órbitas lunares próximas, fornecendo suporte adicional para os modelos
orbitais”, como escreveram os pesquisadores. Além disso, o objeto
está girando mais rápido do que a taxa prevista por modelos teóricos, o que
sugere “nossa compreensão de asteróides em escala métrica precisa de revisão”.
Na verdade, parece que ainda temos muito que aprender sobre essas
coisas, o que faz sentido, visto que este é apenas a segunda mini-lua
conhecida, a primeira sendo o 2006 RH120, detectada
14 anos atrás. Mini-luas agora são bons objetos para missões futuras, como
Grigori Fedorets, astrofísico da Queen’s University em
Belfast e principal autor do novo artigo, indicou no comunicado.
“Mini-luas trazem efetivamente o cinturão de asteróides para perto
da Terra para que, em termos astronômicos, possamos alcançá-las e tocá-las, e
potencialmente coletar amostras”, afirmou.
Uma missão a uma mini-lua poderia fornecer informações exclusivas
relativas às condições primordiais de nosso Sistema Solar, ao mesmo tempo que
fornece uma plataforma mais acessível para o teste de técnicas de mineração de
asteróides, de acordo com Fedorets.
Não podemos ter certeza se 2020 CD3 retornará,
mas como os autores do novo artigo apontam, devemos esperar encontrar mais
mini-luas nos próximos anos.
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