1.961 - OPERAÇÃO CABRALZINHO: QUANDO
JÂNIO QUADROS QUIS TOMAR A GUIANA FRANCESA.
Fábio Marton
58 anos após sua renúncia por
conta de “forças terríveis”, Jânio Quadros segue sendo uma zebra na
história do Brasil.
O mesmo presidente que, em
seus meros 8 meses na cadeira, começou proibindo biquínis em concursos de
miss, condecoraria com a maior honraria nacional, a Grã-Cruz da Ordem
Nacional do Cruzeiro do Sul, ninguém menos que Che Guevara.
Ninguém sabia então, mas,
enquanto apertava a mão do revolucionário, estava em curso sua obra-prima,
a que teria feito todas suas outras ações parecerem sensatas: uma guerra
com a França.
(E uma real, não troca de ameaças por
crustáceos.)
A revelação veio do governador
do então Território Federal do Amapá José Francisco de Moura Cavalcanti
(1925-1994).
Ele não fora eleito, mas
apontado por Jânio para o cargo.
Cavalcanti disse que, em 3 de
agosto de 1961, o presidente o recebeu em Brasília.
Começou por dizer que havia um
problema em seu território: reservas de manganês do Amapá estavam sendo
contrabandeadas e vendidas ilegalmente no porto de Caiena, Guiana Francesa.
(O manganês é um metal usado
principalmente em amálgamas de aço inoxidável e não é precioso: vale mais ou
menos o mesmo que chumbo.)
Segundo o relato de Moura
Cavalcanti, dado pouco antes de sua morte ao jornalista Geneton Moraes Neto,
ele lembrava palavra por palavra o que ouvira então:
– Defenda os interesses
nacionais acima de qualquer outra coisa!
A proposito: eu acho que
chegou a hora de resolver definitivamente isso…
Não está no relato, mas é de
se imaginar que, até esse instante, o governador estivesse esperando tomar
um pito do presidente.
No Lugar, Jânio deixou isto:
– Por que não anexarmos a
Guiana Francesa ao território brasileiro?
Como num desenho animado,
Moura Cavalcanti passou a andar em círculos na sala, dizendo:
“Não! Não! Não!”. Jânio mandou sentar e passou um telex (telegrama por telefone) a, quem acreditava o governador, era o chefe do Estado Maior das Forças Armadas.
E deu sua justificativa:
– Um país que dominar do
Prata ao Caribe falará para o mundo!
O plano de Jânio
era enviar 2500 combatentes por meio de picadas pela Amazônia e, com
apoio naval, dominar o pequeno contingente militar francês no território.
O nome, Operação Cabralzinho,
era em homenagem ao general Francisco Xavier da Veiga Cabral, que, em
1895, repelira uma invasão francesa ao Amapá.
Moura Cavalcanti se convenceu
e jurou fidelidade ao plano.
Voltou para o Amapá, ordenou o
começo da construção das picadas, chegou a andar de helicóptero para avaliar a
situação tática.
O plano é basicamente o
mesmo que os generais argentinos tinham quando tentaram tomar do
Reino Unido as Ilhas Malvinas (ou Falklands) em 1982.
Como Jânio, não imaginavam seu
rival europeu reagiria fulminantemente por um território que, acreditavam, via
como insignificante.
A operação estava em andamento
(ao menos da parte de Moura Cavalcanti) quando aconteceu a renúncia, em 25 de
agosto de 1961.
Perguntado por Geneton Moraes
Neto sobre se poderia dar certo, afirmou que não só iria funcionar, como os
franceses ficariam gratos:
– Poderia! (…) E seria aceito
pela França!
A base francesa tinha um
coronel que vivia bêbado.
Era um batalhão de elite, que
foi para dentro da selva.
A gente via que eles tinham
desejo que aquilo acontecesse.
https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/08/30/janio-quadros-invasao-guiana-francesa/
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