27 abr 2010, Irã convida Brasil para uma
“nova ordem mundial”
O chanceler Celso
Amorim em encontro com o presidente iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad (AFP/VEJA)
O
Irã convidou o Brasil para criar uma “nova ordem mundial”. A iniciativa foi
apresentada nesta terça-feira pelo presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad.
Segundo informou a agência de notícias Irna, a declaração foi feita após o
encontro com o ministro de Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, que
foi ao Irã para preparar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos
dias 16 e 17 de maio.
“Irã
e Brasil devem desempenhar juntos um papel para a criação de uma nova ordem
mundial justa”, disse Ahmadinejad, amparado pela posição do Brasil que defende
o direito do Irã de manter seu programa nuclear, o que tem sido alvo de
intensas discussões na comunidade internacional.
Mais
cedo, Amorim havia reafirmado a posição brasileira em favor do uso da energia
nuclear para fins civis.
O chanceler disse, porém, que o Irã deve apresentar
garantias de que seu programa atômico não tem fins militares.
Amorim
pediu que o governo iraniano e as potências mundiais mostrem “flexibilidade” em
torno de um acordo envolvendo combustível nuclear.
“O Irã deve ter atividades
nucleares pacíficas, mas a comunidade internacional deve receber garantias de
que não haverá violação nem desvios (da tecnologia nuclear) para fins
militares”, disse.
O
diplomata ofereceu ainda ajuda do Brasil para efetuar a troca de urânio entre o
Irã e a comunidade internacional. Trata-se da proposta do P5+1 (grupo que reúne
as cinco potências com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU –
Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China) e a Alemanha, que prevê o
envio de 85% do estoque de urânio pouco enriquecido do Irã para outro país. Em
troca receberia combustível enriquecido a 20%, adequado para o uso médico, mas
não para fins militares.
O
chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, por sua vez, alertou para a necessidade
da criação de um mecanismo adequado para colocar em prática a curto prazo a
troca de combustível nuclear.
Na segunda-feira, o presidente do Parlamento
iraniano, Ali Larijani, elogiou a uma eventual mediação do Brasil na questão.
Polêmica
– O fato é que os discursos de Mottaki e Larijani
não despertam confiança na comunidade internacional. As idas e vindas do Irã, a
resistência em cumprir as exigências estipuladas pela Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA) e as bravatas de Ahmadinejad levantam suspeitas de que a
República Islâmica esteja desenvolvendo um arsenal nuclear.
Só
para citar dois exemplos recentes, enquanto o Irã finge que negocia com a
comunidade internacional, surgem informações sobre novas usinas no território.
No fim de semana, o país também disse ter testado cinco mísseis em um exercício
militar na região do estreito de Ormuz, uma das principais rotas de comércio de
petróleo e gás do mundo.
Na segunda-feira, o mesmo governo que pede
flexibilização da ONU, classificou como “satânico” o Conselho de Segurança da
organização.
Diante
da resistência do Irã em seguir as normas do tratado de não proliferação
nuclear (TNP), potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, tentam
impor novas sanções ao país.
O
Brasil, que é um dos dez membros provisórios do Conselho de Segurança da ONU,
não só é contrário à aplicação de medidas mais severas contra um governo que
pode estar desenvolvendo uma bomba atômica, como dá respaldo ao líder iraniano
ao enviar uma delegação de oitenta empresários para ampliar as linhas de
crédito entre os dois países.
O
presidente Lula também recebeu o presidente iraniano em novembro do ano
passado, e planeja uma viagem a Teerã, em maio, no momento em que a comunidade
internacional tenta fazer o Irã entender que, para ser respeitado como qualquer
outra nação, é preciso antes respeitar as normas internacionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário