Desde que nasci que os automóveis antigos fazem parte da minha essência e na minha imaginação, desde miúdo, sempre tive a ideia de uma lista daqueles que seriam os meus dez automóveis de sonho. O American Lafrance Speedster, curiosamente, sempre ocupou o terceiro lugar dessa lista, podem ver isso nos meus cadernos antigos em que deixava de ouvir a professora e fazia a lista dos automóveis que mais gostava de ter nas últimas páginas.
Sempre tive uma enorme paixão por automóveis pré-guerra, de preferência modelos
de alta cilindrada. Em 1999, desloquei-me com o meu pai a Beaulieu, a uma feira
de automóveis antigos realizada nos jardins do National Motor Museum. Tinha eu
12 anos e muitos sonhos com automóveis antigos. Nessa feira vi, pela primeira
vez, um American Lafrance Speedster por restaurar e lembro-me que fiquei a
olhar para o tamanho daquelas rodas dentadas e fascinado com o tamanho da
máquina.
Durante o jantar convenci o meu pai a comprar o automóvel, apesar de ele já
estar quase convencido de o fazer por si próprio. Tanto era o entusiasmo que
mal dormi nessa noite, à espera de voltar ao mesmo local no dia seguinte.
Quando lá chegámos o pior tinha acontecido, uma placa a dizer “Sold” e a
vontade ficou por ali.
Sempre tive na cabeça aquele automóvel e só
passados alguns anos, mais concretamente em 2007, é que voltei a ver um quando
participei no Londres-Brighton, uma prova dedicada a automóveis veteranos. Este
American Lafrance Speedster passou por mim a cerca de 90 km/h e abanou o
pequeno Cadillac em que eu seguia, deixando-me para trás boquiaberto. Se já
tinha vontade de ter um, ali fiquei com a certeza.
Passado um ano, em Outubro de 2008, fui dez dias
de férias para casa de um grande amigo em Lincoln, também com o mesmo vício que
nós, e ao conversar com o seu velho mecânico, Pete Smith, disse-lhe que adorava
ter um American Lafrance Speedster, ao que ele respondeu “Pedro, amanhã vamos
ver um que está aqui perto em chassis e está á venda.”
E assim foi. Após várias noites sem dormir e no
meio de muitas indefinições da minha vida, acabei por adquirir o automóvel,
apenas cinco anos mais tarde, numa deslocação feita a Inglaterra com o meu
amigo Abraão Santos, e foi então que se cumpriu o sonho de uma vida.
O restauro durou cerca de dois anos e o
resultado final foi aquele que podemos ver nas fotografias. Foi um gosto
restaurar este automóvel. Um verdadeiro prazer pela rudez mecânica e pela forma
como foi construído. Entretanto, e por motivos de força maior, acabei por o
vender com a ajuda de um amigo ao dono do Museo Automovilístico de Málaga, onde
se encontra hoje em exposição.
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