No sopé verdejante de uma colina no estado de West Dunbartonshire, na Escócia, fica uma impressionante mansão em estilo gótico conhecida como Casa Overtoun. A casa se localiza a cerca de dois quilômetros ao norte da vila de Milton e a três quilômetros do condado de Dumbarton. Foi originalmente construído em 1895 para o industrial e filantropo James White e projetado pelo arquiteto paisagista Henry Ernest Milner.
A mansão feita em pedra tem o tamanho de um castelo escocês clássico, e na estrada de acesso a Casa Overtoun, a uma ponte imponente com três arcos que dá acesso a Garshake, uma outra parte da propriedade. A pesada estrutura de granito se estende por um riacho raso e rochoso chamado Overtoun Burn, quinze metros abaixo da estrada. A ponte de Overtoun ganhou atenção da mídia por causa do número elevado de cães que supostamente saltavam dela para a morte.
Os relatos contam que nas últimas décadas, pelo menos cinquenta cães pularam o parapeito da ponte e morrendo ao atingir o fundo do riacho abaixo. A ponte é conhecida na região como “Rover’s Leap” (Salto do Rover), “o lugar que induz os cães a saltar para a morte“. Já os moradores de Dumbarton, cidade que fica a noroeste de Glasgow, chamam a ponte Overtoun de “ponte do suicídio de cães“. A fama do lugar é tão grande, que donos de cães evitam passear com seus animais pelo local.
As explicações para essas mortes variam de alegações de fantasmas e causas sobrenaturais a explicações naturais de cães sendo atraídos pelo cheiro ou sons de animais próximos na vegetação rasteira e, consequentemente, perdendo o equilíbrio nas superfícies inclinadas do parapeito da ponte.
Histórias de cães aparentemente pulando para a morte na ponte por razões desconhecidas foram publicadas em mídias impressas e online, a primeira das quais – de acordo com a organização Glasgow Skeptics – foi publicada em 2005, num tópico de um fórum sobre destinos menos conhecidos em Glasgow. A história ganhou destaque em 2006 após o jornal Daily Mail escrever sobre o assunto. Foi o que precisou para que as mortes dos cães recebessem atenção da mídia internacional.
Várias teorias foram propostas sobre o fenômeno. Em 2014, o especialista em comportamento animal David Sands investigou os incidentes e descartou a possibilidade de os animais se suicidarem. Seus experimentos na ponte descobriram que os cães – especialmente as raças de focinho comprido – eram atraídos pelo cheiro de pequenos roedores.
Depois de muita pesquisa, descobriu que os alegados suicídios começaram durante os mesmos anos em que iniciou a invasão de visions americanos na região. O vison tem uma glândula anal que segrega uma substância extremamente odorosa, usada para marcar seu território, que deixa os cães loucos.
Sands propôs que a perspectiva limitada dos cães, sua ignorância de que o caminho muda de nível do solo para a ponte que atravessa a ravina profunda e os cheiros no ar podem incentivá-los a pular. No entanto, até ele reconheceu que a ponte tem uma “energia estranha“.
Além disso, em um experimento no qual dez cães foram expostos a latas impregnadas de urina de camundongo, esquilo, martas e vison. Sete cães foram direto para a lata que continha a urina de vison, demostrando que a urina deste animal era mais forte ou incomum, comparado as outras.
Tal pesquisa feita em um campo aberto pode explicar que realmente os cães são atraídos pela urina de outros animais, mas não explica o fato do cão não contornar a ponte na procura dos animais, e sim, saltar o parapeito para a morte, deixando o medo de lado, como se estivesse em trance.
Por essa questão o assunto é tratado como se os cães cometessem suicídio, coisas que somente os humanos podem ter a consciência do ato e praticar, mas não procede em animais. Existe comprovação de que gatos, elefantes, baleias e outros animais vão a determinados lugares para morrerem, mas não há estudos científicos que animais saudáveis possam cometer suicídios.
Sugestões de atividade paranormal também foram alegadas como uma razão para o comportamento incomum de certos cães na ponte. Afinal, não são todos eles que agem dessa forma, pois muitos deles atravessam a ponte com seus donos, como se estivessem em qualquer outro lugar.
Em 2019, os proprietários da mansão Overtoun, Bob e Melissa Hill, disseram que em 17 anos residindo na casa, eles testemunharam vários cães ficarem agitados, pularem e caírem da ponte. Bob Hill, originalmente um pastor do Texas, afirmou que o cheiro de marta e outros animais agitou os cães, resultando em seu salto do parapeito da ponte.
Em 1995, um cão da raça border collie chamado Ben, pulou a mureta e caiu, ferindo-se tanto que teve de ser sacrificado. A morte do cão foi divulgada pelos jornais e a ponte Overtoun se tornou um fenômeno. O jornal Daily Mail, citou um trabalho de Rupert Sheldrake, um biólogo, bioquímico, parapsicólogo e escritor inglês, conhecido por sua teoria da morfogênese. Entre seus livros estão O renascimento da natureza, Cães sabem quando seus donos estão chegando e A sensação de estar sendo observado.
Sheldrake acredita que os cães têm poderes psíquicos e mantêm uma conexão psíquica com seus donos. The Daily Mail também apontou uma conexão potencial entre suicídios humanos em Dumbarton e os suicídios de cães em Overtoun, afirmando que Dumbarton é “um local de declínio econômico e regularmente eleito um dos lugares mais deprimentes para se viver na Grã-Bretanha e portanto, um bom lugar para se cometer suicídio.“
Daí a citação de Rupert Sheldrake: os cães tornaram-se suicidas por causa de suas conexões psíquicas com seus proprietários suicidas. O Daily Mail concluiu: “Então, talvez os cães tenham morrido porque adquiriram algumas percepções humanas.” Não houve relatos de tendências suicidas por parte dos proprietários de qualquer um dos cães mortos, mas no entanto, virtualmente todos os relatórios sobre a ponte Overtoun agora incluem o artigo do Daily Mail sobre Rupert Sheldrake e seus cães psíquicos.
Alguns estudiosos apontam para a ideia dos cães saltarem da ponte da mesma forma, como existem determinados locais no oceanos, onde as baleias vão para morrer, ou do lugar secreto na selva onde os elefantes simplesmente deitam e aguardam a morte do meio de centenas de esqueletos de outros elefantes que fizeram o mesmo.
As histórias mais populares da lenda da Ponte Overtoun mencionam fantasmas que dizem residir na mansão Overtoun, postulando que talvez eles assustem os cães ou de alguma forma os assombrem para querer pular. Na mitologia celta, a etimologia do nome “overtoun” é reconhecida como “O lugar fino” – uma área em que o céu e a terra são reconhecidos por estarem perto.
Em 1994, um morador local, Kevin Moy, atirou seu filho ainda bebê para a morte na ponte, afirmando que o filho era o anti-Cristo. Logo depois, ele tentou acabar com a própria vida com uma tentativa frustrada de ser suicidar na mesma ponte. Os jornais na época afirmavam que ele estava drogado, e dizia as pessoas que o conheciam, que o lugar era assombrado e que tinha um estranho efeito sobre pessoas e cães.
Esses incidentes inspiraram um episódio da série de televisão americana The Unexplained Files, exibida no Canal Ciência da Discovery, que investiga a paranormalidade e outros fenômenos inexplicáveis. Paul Owens, professor de religião e filosofia de Glasgow, cresceu em uma cidade perto da ponte e publicou um livro sobre o mistério. “Depois de onze anos de investigação, estou convencido de que o responsável por tudo isso é um fantasma“, declarou Paul Owens.
A teoria de Owens é popular entre alguns dos habitantes locais, que cresceram ouvindo histórias sobre a Senhora Branca de Overtoun, também conhecida como a viúva de John White. “A senhora viveu sozinha por mais de trinta anos depois que seu marido morreu em 1908“, disse Marion Murray, moradora de Dumbarton. “Seu fantasma tem assombrado o lugar desde então, e muitos já a viram nas janelas da mansão ou andando pelo lugar“.
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