17/09/2022
Nos últimos nove anos, a frota de veículos em Rio Preto registrou aumento de 25,7% (Guilherme Baffi 15/9/2022)
Chegar mais rápido em Bady Bassitt do que em
um bairro da região Norte de Rio Preto. Essa é a situação enfrentada por muitos
rio-pretenses diariamente nos horários de maior fluxo de veículos nas vias da
cidade.
Com a segunda maior taxa de motorização do
Brasil, Rio Preto vive o desafio de repensar sua mobilidade urbana. Em todo o
País, entre as 60 maiores cidades, Rio Preto tem a segunda maior taxa de
motorização – percentual da divisão da frota de veículos pela população total.
Com 88,9 veículos a cada cem habitantes, a cidade aparece atrás apenas de Belo
Horizonte, que tem taxa de 97,9. No Brasil, a taxa média é de 52,7.
Ao mesmo tempo, que a frota de veículos
cresce, dados da Secretaria Municipal de Trânsito apontam que o número de
passageiros no transporte coletivo de Rio Preto caiu. De 32.507.738 passageiros
transportados, em 2013, a cidade transportou 17.379.827 passageiros, no ano de
2021. Uma queda de 46%.
O problema é que isso além de gerar congestionamentos
também faz aumentar a emissão de gases do efeito estufa, piorando a qualidade
do ar da cidade. "Quando falamos de aumento da frota também estamos
dizendo sobre crescimento na emissão de gases de efeito estufa. Gases que
possuem uma importância direta nas mudanças climáticas”, afirmou Felipe
Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).
Para Cristina Albuquerque, gerente de
mobilidade da WRI Brasil, o grande desafio de Rio Preto nos próximos anos é
fazer o seu transporte coletivo ser mais atrativo para o morador da cidade do
que o carro próprio. “Um ônibus convencional tem capacidade de comportar 80
pessoas, enquanto um carro cinco. Por isso, da importância de incentivar o uso
do ônibus”, ressaltou.
Estudo da Secretaria Municipal de Trânsito
aponta que apenas 9% dos rio-pretenses usam o transporte coletivo. “Há dez
anos, essa taxa era bem maior, mas foi caindo”, diz Amaury Hernandes,
secretário de trânsito de Rio Preto.
Facilidade para chegar ao trabalho e a
massiva cultura da motorização são apontados com fatores para muitos
rio-pretenses trocarem o ônibus pelo carro ou moto para se deslocar. Além da
chegada dos aplicativos de carona, em 2017, que revolucionou o modo dos
moradores se deslocarem pela cidade.
Levantamento feito pelo Diário, com base em
dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), mostra um aumento de 25,7%
dos veículos na frota da cidade. De 331.945, em 2013, Rio Preto passou a ter
417.307, em julho de 2022.
O maior aumento foi na frota de duas rodas.
Há dez anos, Rio Preto tinha 86.387 motos; agora contabiliza 110.296. Um
aumento de 27,6%. Em seguida, aparece carros com 23% de crescimento. De 220.463
para 271.898 neste ano.
"Fora os veículos de Rio Preto também
recebemos inúmeros diariamente da região. O único jeito é criar caminhos
alternativos para tentar aliviar o trânsito da cidade. O Anel Viário é um
exemplo disso, mas, também estamos estudando formas de incentivar ainda mais o
transporte coletivo da cidade”, afirmou Hernandes.
Clique aqui e para
ver tabela com frotas de veículos
Jales tem mais veículos do que gente
Jales tem mais veículos do que gente. É o que
mostra levantamento feito pelo Diário, com base em cruzamento de dados da
Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A cidade é a única do Noroeste Paulista em que
o número de veículos é superior ao de habitantes. Lá, são 49.328 veículos e
49.291 jalesenses.
Na lista de cidades da região de Rio Preto
com maior frota de veículos estão Votuporanga, com 95,9 veículos a cada cem
habitantes; Sebastianópolis do Sul (93,7); Meridiano (93); Fernandópolis (93);
Catanduva (92); Santa Fé do Sul (90); Marapoama (89,7); Bebedouro (89,5) e Rio
Preto (88,9).
Na contramão, entre as cidades menos
motorizadas está Riolândia. Lá, são 4.738 veículos e 12.856 habitantes. Uma
média de 36,8 veículos a cada cem habitantes. Em seguida, aparece Palmares
Paulista (37); Pontalinda (42,5); Altair (43); Novais (44,6); Nova Luzitânia
(45); Ipiguá (46), Elisiário (48), Paulo de Faria (49,6) e Guzolândia (50,6).
Nestas cidades, o uso da bicicleta é maior,
substituindo o tradicional carro, moto e ônibus encontrados em excesso em Rio
Preto. “Faz muita diferença trocar o carro pela bicicleta. Ela é uma ferramenta
de antecipação e autonomia, não precisa do horário do ônibus, não precisa do
combustível, então usar bicicleta não está só dentro da mobilidade urbana, ela
vai além disso, principalmente, porque também está atrelada a saúde”, defendeu
Glaucia Pereira, fundadora e pesquisadora do Instituto de Pesquisa do
Multiplicidade de Mobilidade Urbana.
Em Rio Preto, a falta de integração nas
ciclovias dificulta que os locais sejam mais utilizados pelos usuários. Ao
todo, a cidade contabiliza 26,55 quilômetros, sendo que os principais trechos
estão na avenida Philadelpho Manoel Gouveia Netto (6,25 km); avenida Bady
Bassitt (7,15 km); avenida Ernani Pires Domingues (2,10 km) e Lago 3 da Represa
Municipal (1,97 km).
"Falta um entendimento de muitas
prefeituras que a bicicleta precisa ser incentivada. Além da construção de
ciclovias é necessário políticas públicas para os ciclistas e que haja uma
integração das ciclovias, com controle da velocidade nas vias próximas”,
afirmou Gláucia.
Em Rio Preto, aos menos 30 quilômetros de
vias possuem condições de terem faixas exclusivas para bicicletas. É o caso da
avenidas Murchid Homsi, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Alberto Olivieri.
(RC)
Transporte coletivo precisa ser mais vantajoso
Um dos grandes desafios do transporte
coletivo rio-pretense é ser mais ágil. Especialistas em mobilidade urbana
ouvidos pelo Diário defendem que a cidade precisa pensar em um modelo integrado
de transporte coletivo. Isso porque, diferente do que acontece atualmente, em
que um usuário da região Norte precisa parar no Terminal Urbano para se
deslocar para a região do Damha ou do Hospital de Base, é necessário um tempo
menor de deslocamento do usuário no ônibus do que no carro, como forma de
tornar o transporte coletivo da cidade mais atrativo.
Amaury Hernandes, secretário de trânsito de
Rio Preto, diz que os corredores de ônibus, e os novos coletivos do transporte
urbano com internet e ar-condicionado são exemplos de iniciativas da pasta na
busca de incentivar o uso do ônibus pelos rio-pretenses, mas que ainda existem
muitos desafios.
"Esperamos que até o final dessa década
já possamos ter toda a frota com ar-condicionado. Além disso, os novos
miniterminais visam descentralizar o fluxo de passageiros do Terminal Urbano e
reduzir o tempo de viagem. São formas de incentivar o transporte coletivo”,
falou o secretário.
Amaury também ressalta que o Plano de
Mobilidade Urbana de Rio Preto deve estimular ainda mais o uso de veículos
híbridos nos próximos anos. "Estamos na expectativa de uma futura linha de
crédito do governo federal para as empresas de transporte coletivo conseguirem
comprar ônibus elétricos. Aqui em Rio Preto, temos 240 ônibus na frota urbana,
imagina ter que comprar cada um por 2,5 milhões. Infelizmente, ainda não temos
essa condição”.
Delcimar Teodózio, arquiteta, urbanista e
professora do Centro Universitário de Rio Preto (Unirp) defende que além da
frota elétrica, a cidade explore outros meios de transporte de forma integrada,
como as ciclovias e o transporte sobre trilhos. “Rio Preto está entre as
cidades que assinaram o compromisso com os 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) da ONU para 2030. Isso significa tornar a cidade inclusiva,
segura e sustentável”.
O projeto de retirada do trem de carga da
área urbana de Rio Preto, prometido pela Rumo até 2026, proporciona a
possibilidade de implantação de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) ou corredor
exclusivo de ônibus elétrico bi ou tri-articulado na cidade.
“Um projeto como esse integra todos os
modais. Um estacionamento de carros e de bicicletas ao redor das estações do
VLT permite que os usuários deixem seus veículos gratuitamente no local para
utilizar o transporte coletivo, que é menos poluente, mais rápido e evita
congestionamentos. A integração entre ônibus urbano e o VLT também favorece a
mobilidade sustentável”, defendeu a arquiteta. (RC)
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