João
Muniz Leite contador da família de Lula há mais de dez anos. Foto: Reprodução /
Facebook Foto: reprodução/faceb
Contador de Lulinha é alvo de busca pelo Gaeco; suspeito
e sua mulher ganharam 640 vezes na loteria
ABR 9, 2024
[Editada por: Marcelo
Negreiros]
O contador João Muniz Leite, de 60 anos, é um dos alvos da Operação Fim de Linha, deflagrada na manhã desta terça-feira, 9, pelo Grupo Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
A 1ª Vara
de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da
Capital expediu mandado de busca e apreensão em busca de provas que corroborem
os indícios de que ele seria um dos personagens centrais na montagem do esquema
de lavagem de dinheiro da facção pela empresa
de ônibus UPBus.
Quando começou a ser
investigado em 2021 no âmbito da Operação
Ataraxia, do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc),
Muniz era suspeito de amealhado 55 prêmios na loteria. Ao ser ouvido pelos
policiais, meses depois, ele admitiu ter ganhado 250 vezes nas mais diversas
loterias, conforme
revelou o Estadão em
fevereiro.
O número não para de crescer.
Desta vez, dados trazidos à investigação pela Polícia Federal mostram que a sorte do contador foi muito maior.
O inquérito da PF mostrou que ele e a mulher, Aleksandra Silveira Andriani ganharam juntos 640 vezes nas Lotofácil, Mega Sena e Quina.
No caso de
Aleksandra, foram 462 prêmios entre 18 de dezembro de 2020 e 25 de novembro de
2021, recebendo R$ 2,45 milhões, após ter apostado R$ 2,14 milhões. Já o
marido, de 3 de janeiro de 2019 a 17 de abril de 2021 foi agraciado com 178
vezes, auferindo R$ 17.528.815,00, depois de apostar R$ 381.625,00.
Muniz ficou conhecido como o Contador do Lulinha por ter trabalhado para Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem também prestou serviços.
Muniz chegou a ser ouvido como testemunha durante a Operação Lava Jato no processo do caso do triplex do Guarujá, pelo então juiz Sérgio Moro.
De 11 de novembro de 2019 até 31 de julho de 2023, segundo dados da Junta
Comercial de São Paulo, Lulinha manteve uma de suas empresas, a G4
Entretenimento e Tecnologia Digital Ltda, registrada no mesmo endereço do
escritório de Muniz, na zona oeste da capital. A defesa de Lulinha diz que as
investigações sobre Muniz nunca atingiram o filho do presidente.
Em meio à investigação
sobre a captura do sistema de transportes pelo Primeiro
Comando da Capital (PCC), os investigadores encontraram
indícios da formação de uma grande rede de negócios para a lavagem de dinheiro
do crime organizado que inclui escritórios de contabilidade, agentes, fundos
imobiliários, empresas de máquina de cartão de crédito e débito e
distribuidoras de combustível.
É nesta rede de empresários, contadores, advogados e criminosos que entram as suspeitas envolvendo Muniz e seus clientes ligados à UPBus.
Nos últimos sete anos,
enquanto a empresa registrava prejuízos de até R$ 5 milhões por ano, só um de
seus acionistas, Admar de Carvalho Martins,
recebeu R$ 15 milhões em “lucros distribuídos”.
Martins, segundo os
promotores seria ligado a acusados de outros esquemas de lavagem, como o que
envolveria a distribuição de combustível Noroest Distribuidora de
Combustíveis e o que envolveria e empresa Zipag
Correspondente e Cobrança, que, de acordo com as investigações,
teve movimentações financeiras de 974,3 milhões em 2022, mas declarou uma
receita bruta de R$ 10,4 milhões
De acordo com o Gaeco, Martins ocultou e dissimulou a natureza, origem, a localização, a disposição e a movimentação de valores provenientes dos crimes de tráfico de drogas e organização criminosa para aquisição, em nome próprio, de cinquenta e oito cotas do capital social da UPBus, avaliadas em R$ 7.168.800,00, entre os anos de 2015 e 2021.
Além de relações com o grupo de Martins, Muniz teria relação ainda com
os principais líderes do PCC envolvidos com a empresa.
Seriam, segundo o Gaeco, Sílvio
Luiz Correia, o Cebola. Foragido por ter sido condenado por tráfico
de drogas – ele foi solto no plantão judicial pelo desembargador Otávio
Henrique de Sousa Lima, do Tribunal de Justiça de São Paulo,
posteriormente aposentado compulsoriamente, após soltar outro traficante: Welinton
Xavier dos Santos, o Capuava – Cebola é defendido por
outro personagem conhecido de Muniz: o advogado Ahmed Hassan Saleh,
o Mude.
Décio Gouveia Luis, investigado
pela Denarc sob a suspeita de lavar dinheiro na UPBus, é apontado pelo
Ministério Público como um dos líderes do PCC em
liberdade Foto: Reprodução / Polícia Civil
Uma das provas da relação do contador com os acusados seria o fato de
ele ter transmitido as declarações de renda de Cebola, Mude, de Décio
Gouveia, o Décios Protuguês e dos traficantes de droga Claudio Marcos
de Almeida, o Django, e Anselmo Becheli Santa Fausta, o Magrelo ou Cara Preta,
do mesmo MAC Adress.
Além disso, ele recebeu com Magrelo um prêmio na Mega sena de mais de R$
40 milhões, além de ter sido responsável pela abertura de uma empresa com uma
identidade falsa usada pelo traficante.
A reportagem procurou o contador, mas não conseguiu localizá-lo.
De
acordo com os investigadores, mais da metade do valor recebido em loteria por
Magrelo foi transferido, por meio de operação controlada por João, a empresas
aparentemente de “prateleira” em nome de uma mulher, que recebi, em 2020, R$ 5
mil mensais em seu emprego.
Por fim, a Receita Federal concluiu que os lucros obtidos pelo contador não são compatíveis com a receita bruta de suas empresas, mesmo que considerados os valores recebidos com a premiação das loterias.
Em 2022, ele
declarou receber R$ 1,8 milhão da JML Consultoria e Assessoria
Empresarial LTDA – a sua empresa –, que teve receita bruta declarada
de apenas R$ 162.666,67.
No fim de 2022, Muniz foi ouvido pelo Denarc e admitiu que, por cinco anos, teve Magrelo entre seus clientes, ainda que o conhecesse apenas pelo nome falso de Eduardo Camargo de Oliveira.
Também admitiu que ganhara na loteria,
mas negou qualquer participação na lavagem de dinheiro do crime organizado.
Bilhetes deixados pelo PCC
ao lado do corpo esquartejado do homem acusado de ter sido contratado para
matar Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta Foto: Reprodução / Polícia
Civil
Magrelo ou Cara Preta foi assassinado em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé, na zona leste, ao lado de seu motorista, Antonio Corona Neto, o Sem Sangue.
Em
junho de 2022, a 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e
Lavagem de Dinheiro da Justiça Estadual de São Paulo determinou o bloqueio de
R$ 45 milhões em imóveis e ônibus de integrantes do PCC e do contador.
De acordo com o Gaeco, Magrelo era um dos maiores traficantes de drogas do País. Responsável por receber cocaína do Peru e da Polícia e reenviá-lo para a Europa, ele atuava na conexão que uniu o PCC à Máfia dos Bálcãs e à ‘Ndrangheta, a máfia da Calábria, no sul da Itália.
Em 2021, ele foi investigado
sob a suspeita de ter financiado o roubo de 770 quilos de ouro no Aeroporto de
Guarulhos, acumulando uma fortuna estimada em R$ 500 milhões. Segundo os
promotores, entre abril e setembro daquele ano, ele movimentou R$
105.987.085,00.
[Por: Estadão Conteúdo]
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