A encruzilhada
da América
Nesta semana, milhões de americanos vão às urnas em
quatro estados decisivos — Nova York, Nova Jersey, Virgínia e Texas.
À primeira vista, são disputas regionais.
Mas, na
essência, tratam-se de algo maior: um teste de resistência ideológica.
Depois de anos de expansão do governo federal,
aumento da carga tributária, permissividade judicial e radicalização
identitária, o país chega a um ponto de inflexão.
As eleições locais se
transformaram em um referendo sobre a hegemonia socialista do Partido Democrata
e sobre a capacidade da direita americana de reorganizar-se em torno de
princípios permanentes:
liberdade, responsabilidade e lei — especialmente em
bastiões dominados pelo esquerdismo radical.
Nova York: o laboratório do socialismo
urbano.
A eleição em Nova York é o caso mais emblemático. O
democrata Zohran Mamdani, integrante dos Democratic Socialists of America,
representa a consolidação do projeto de esquerda mais agressivo dos últimos
tempos.
Seu programa inclui congelar aluguéis, aumentar
maciçamente os gastos públicos, reduzir o orçamento policial e criar novos
impostos sobre propriedades e grandes fortunas — um plano que seus críticos
classificam como “Venezuela com luzes de neon”.
Mas as preocupações não são apenas econômicas.
Mamdani foi acusado por grupos judaicos e organizações de direitos civis de
antissemitismo, após defender a revogação da definição de antissemitismo
adotada pelo Conselho Judaico de Nova York.
Apesar de ter moderado sua retórica nas últimas
semanas, Mamdani — muçulmano e ativista pró-Palestina — já declarou apoio à “Intifada
global” e continua defendendo o boicote a Israel pelo suposto
“genocídio do povo palestino”.
Também defendeu o corte de verbas da polícia
após os protestos do Black Lives Matter.
Donald Trump reagiu duramente. Chamou Mamdani de
“comunista doido” e advertiu que, se ele for eleito prefeito, os repasses
federais ao município poderão estar em risco. Em entrevista ao programa 60
Minutes, Trump afirmou: “Se você tiver um comunista correndo Nova York,
todo o dinheiro que for mandado pra lá estará sendo desperdiçado.”
O principal adversário de Mamdani é Andrew Cuomo,
ex-governador de Nova York e símbolo do establishment democrata que ele tenta
destronar.
Derrotado nas primárias, Cuomo decidiu permanecer na
disputa como independente,
transformando a eleição em um duelo interno dentro
da própria esquerda — entre o socialismo radical de Mamdani e a
social-democracia do ex-governador.
A presença de Cuomo fragmenta o voto democrata e
cria um cenário de incerteza. Pesquisas indicam que parte do eleitorado
tradicional do partido vê em Cuomo uma alternativa “menos perigosa” ao projeto
revolucionário de Mamdani, embora muitos ainda o rejeitem pelo legado de
escândalos e autoritarismo-sanitário durante a pandemia.
Se Mamdani prevalecer, Nova York se tornará o
primeiro experimento abertamente socialista de grande escala da história
recente dos Estados Unidos — um modelo de estatização, aumento de impostos e
controle ideológico que pode contaminar outras administrações urbanas.
A eleição é realizada sob o sistema de voto por
classificação (ranked-choice voting), em que o eleitor ordena até cinco
candidatos por preferência. Caso ninguém alcance mais de 50% dos votos na
primeira contagem, o menos votado é eliminado e seus votos são redistribuídos
para as segundas escolhas — e assim sucessivamente, até restar apenas um
vencedor com maioria.
Esse método, criado sob o pretexto de ser “mais
democrático”, frequentemente favorece candidatos da esquerda radical, que
contam com bases militantes capazes de acumular votos de segunda e terceira
opção — exatamente o perfil de Mamdani.
A pesquisa mais recente da AtlasIntel, divulgada
entre 31 de outubro e 2 de novembro, mostra Mamdani com 43,9% das intenções de
voto na primeira escolha, contra 39,4% de Andrew Cuomo, e cerca de 15% para o
republicano Curtis Sliwa.
A diferença estreita, dentro da margem de erro,
indica risco real de virada, especialmente nas rodadas subsequentes do sistema
de ranqueamento. Mesmo liderando na contagem inicial, Mamdani pode perder
terreno se os eleitores de Sliwa ou de candidatos menores preferirem Cuomo como
segunda opção.
Esse formato torna o resultado altamente
imprevisível e abre espaço para uma surpresa eleitoral. Analistas avaliam que
Cuomo pode crescer justamente nas recontagens, captando o voto útil de
democratas moderados e independentes alarmados com o radicalismo de Mamdani.
Já para os conservadores, a meta é simples, mas
crucial: transferir o máximo de segundas preferências possíveis para Sliwa,
impedindo que Nova York se torne um laboratório do socialismo radical.
Nova Jersey: o estado azul que pode mudar
de cor
Em Nova Jersey, o republicano Jack Ciattarelli
desafia a democrata Mikie Sherrill, num estado considerado território seguro
para os democratas desde os anos 1990.
A insatisfação com impostos altos, custo de vida e
energia cara abriu, porém, uma janela histórica.
Ciattarelli, apoiado por Donald Trump, apresenta-se
como o candidato da classe média produtiva, prometendo restaurar
competitividade, cortar gastos públicos e devolver autonomia aos municípios.
Pesquisas recentes indicam empate técnico — algo
impensável há poucos anos.
Se vencer, será um recado direto ao Partido
Democrata: os americanos estão cansados do peso do Estado e dispostos a virar à
direita.
Virgínia: a disputa pela lei expõe o ódio
da esquerda
Na Virgínia, a corrida pelo governo é acirrada entre
a republicana Winsome Earle-Sears, vice-governadora e ícone conservador, e a
democrata Abigail Spanberger, ex-agente da CIA.
Mas a atenção nacional volta-se para outra disputa:
a da procuradoria-geral do estado.
O candidato democrata Jay Jones foi flagrado em
mensagens privadas de 2022 fazendo afirmações violentas contra o então
presidente da Câmara estadual republicano, Todd Gilbert — como “Gilbert recebe
dois tiros na cabeça” — e chegou a desejar que os filhos de Gilbert morressem
nos braços da mãe.
O episódio gerou forte reação entre os republicanos,
mas quase nenhum repúdio entre os democratas, que preferiram minimizar o caso.
O conteúdo das mensagens — chocante até para padrões
políticos americanos — passou a ser usado pela direita como símbolo do ódio
institucionalizado da esquerda radical e da irresponsabilidade de se confiar um
cargo de aplicação da lei a alguém com histórico tão explícito de retórica
violenta e sectária.
Earle-Sears, por sua vez, defende uma pauta de lei,
família e liberdade, simbolizando uma nova geração conservadora — firme em
valores tradicionais, mas moderna na linguagem e na representatividade.
Se vencer, consolidará a Virgínia como vitrine da
reconstrução conservadora iniciada por Glenn Youngkin em 2021.
Texas: o bastião sob cerco
No Texas, o desafio não é conquistar terreno, mas
mantê-lo.
A republicana Leigh Wambsganss enfrenta a democrata
Taylor Rehmet em uma eleição especial para o Senado estadual.
Embora o estado siga majoritariamente republicano,
os democratas avançam nas grandes cidades, explorando mudanças demográficas e a
apatia de parte do eleitorado conservador.
Para a direita americana, o Texas é mais que um
estado: é um dos últimos redutos simbólicos da América livre, onde o cidadão
ainda carrega arma, paga menos impostos e responde por si mesmo.
Qualquer retrocesso aqui seria interpretado como o
início de um declínio civilizacional — um alerta de que até os pilares mais
sólidos do conservadorismo precisam ser defendidos com vigilância permanente.
O que está realmente em jogo
Essas eleições não são um evento isolado. Elas medem
o pulso de um país que parece lutar contra si mesmo:
De um lado, o modelo socialista-identitário do
Partido Democrata, que promete justiça social às custas da liberdade individual
e da solvência fiscal; de outro, o modelo conservador-
constitucional, que
reafirma as bases da república: propriedade, mérito, segurança e fé.
O resultado dessas corridas mostrará se o eleitor
americano ainda acredita nos fundamentos que o tornaram grande — ou se
continuará cedendo ao conforto ilusório do Estado-babá.
Conclusão: o ponto de inflexão americano.
Mais do que simples disputas locais, estas eleições
testam a força de Donald Trump como eixo de um novo realinhamento.
conservador —
e a capacidade do país de conter o avanço do socialismo radical dentro do
Partido Democrata.
Se os republicanos obtiverem vitórias expressivas,
Trump consolidará sua posição como símbolo de uma virada histórica, capaz de
unir a base e projetar força para as midterms de 2026.
Por outro lado, um bom desempenho dos democratas
reforçará o poder das alas mais extremadas e aprofundará a polarização
ideológica que fragmenta os Estados Unidos.
O resultado destas urnas dirá se a América ainda é
capaz de reafirmar seus fundamentos — liberdade, fé, trabalho e lei — ou se
continuará cedendo espaço à retórica estatista e identitária que vem corroendo
o coração da república.
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