M4A1 Sherman, O TANQUE ETERNO.

Após o início da Segunda Guerra Mundial, o exército norte-americano empreendeu um ambicioso plano de reequipamento que incluía uma especial atenção com a arma blindada. 

O primeiro modelo resultante do programa foi o tanque médio M3 – denominado “Lee” ou “Grant” consoante fosse para o exército norte-americano ou britânico, respectivamente –, carro de combate com algumas características interessantes a nível da blindagem, mobilidade, conforto e potência de fogo, porém limitado pelo projecto e desenvolvimento apressados que, entre outros problemas, o levava a apresentar uma silhueta demasiado alta e a ter a peça principal de 75mm instalada no casco, o que obrigava a girar o carro para apontar a arma.

Impressionados com a Blitzkrieg que marcou a batalha de França de 1940, os americanos iriam desenhar uma série de evoluções a partir do casco e mecânica confiáveis do M3, com o US Armored Forces Board a eleger um novo modelo M4 para o padrão do futuro tanque médio, já com a arma principal instalada numa torre e capaz de superar os carros alemães do tipo PzKpfw III e PzKpfw IV vistos nos combates de 1940.

Pensado desde início para ser construído em grande número nas mesmas linhas de montagem de onde saíam centenas dos referidos tanques M3, no novo M4 foi mantido o mais próximo possível do seu antecessor, conservando os mesmos rodados, suspensão, trilhos com aplicações de borracha, motor e transmissão, embora com uma nova torre e um casco de novo desenho, soldado ou fundido conforme a versão, que marcava uma clara evolução para o anterior casco rebitado do M3.

O motor Wright R-975 Whirlwind construído sob licença pela Continental foi a opção inicial. Proveniente da aviação, tratava-se de um versátil e resistente motor radial a gasolina, refrigerado a ar, fornecendo 400cv às 2400rpm. 

Era alimentado por dois depósitos de combustível de 660 litros que permitiam uma autonomia algo limitada devido a um alto consumo a rondar os 450 litros de gasolina aos 100 quilómetros. 

Os primeiros Sherman com motor em estrela dividiam-se em duas séries: M4 com o casco soldado e M4A1 com o casco fundido.

Foram seguidos pelo modelo M4A2 também com casco soldado e que diferia essencialmente dos anteriores pela adopção de dois motores Detroit Diesel 6-71 de seis cilindros em linha.

Fornecido ao exército britânico nas três versões, a estreia em combate do Sherman ocorreu na segunda batalha de El Alamein, em 1942, revelando desde logo ser rápido, bem protegido e bem armado, com a peça M2 de 75mm capaz de bater todos os tanques que os italianos e alemães dispunham nessa altura. 

O bom resultado parecia confirmar a aposta norte-americana num carro que era mecanicamente fiável, fácil de produzir e prático de utilizar, beneficiando dos ensinamentos práticos provenientes da indústria automóvel norte-americana, então a mais avançada do planeta.

No entanto, alguns meses mais tarde, quando regressaram ao Norte de África no decurso da Operação Torch, as unidades M4A1 americanas iriam ter uma desagradável surpresa ao enfrentar um adversário diminuído porém muito aguerrido e experiente que tinha sido reequipado com os novos tanques Panzer IV (PzKpfw IV Ausf F2 e Ausf G) dispondo de uma peça de 75mm com cano longo, e com os temíveis Tiger I (PzKpfw VI), com a inigualável peça de 88mm. De modo inesperado, as forças americanas iriam perder dezenas de Sherman nos primeiros embates com o Afrika Korps. 

Com a rápida evolução dos equipamentos, em poucos meses o M4 tinha perdido a vantagem, sendo ainda assim um bom carro de combate, certamente o melhor e mais numeroso que os aliados ocidentais possuíam em 1943, sendo por isso o principal tanque usado em seguida no desembarque na Sicília e na subsequente campanha de Itália.

Mais ainda, com os dois mil tanques produzidos por mês a partir de meados de 1942, os M4 estavam disponíveis em grande número e, além do exército norte-americano, foram sendo fornecidos ao exército soviético e ao exército britânico (M4, M4 A1 e M4 A2 ou Sherman I, II e III na designação britânica). 

Aos soviéticos foi provido na nova versão M4A2 de casco soldado e os referidos motores a gasóleo Detroit Diesel, opção muito importante por questões da logística local. 

No entanto, apesar das tripulações soviéticas apreciarem a fiabilidade e conforto dos Sherman, consideravam o M4A2 inferior ao seu T-34/76, mais blindado e melhor adaptado às condições extremas da frente Leste.

A grande prova de fogo chegaria com a Operação Overlord e os desembarques na Normandia. 

Os Sherman iriam conhecer então o seu maior desafio no confronto com os mais recentes tanques alemães, em muitos aspectos tecnicamente superiores aos M4A1 e M4A2 Sherman usados maioritariamente pelos aliados.

Por seu turno, sendo mais previdentes e tendo estudado um Tiger I que capturaram na Tunísia, os britânicos criaram a tempo do Dia D a versão Firefly modificada a partir de tanques Sherman já existentes e equipada com a peça AC QF de 17 polegadas (76.2mm) capaz de enfrentar os tanques alemães com potência de fogo equiparada. 

No dia do desembarque estavam disponíveis cinco centenas de Firefly, ou seja, um em cada cinco Sherman dos britânicos, tornados de imediato alvos prioritários para os artilheiros alemães devido à ameaça que constituíam. 

Na realidade, a partir da sua própria experiência em combate, os americanos tinham começado a produzir algumas semanas antes uma versão do Sherman equipada com uma peça de 76mm mais comprida e com desempenho significativamente melhorado em relação à peça original de 75mm que continuaria a equipar a esmagadora maioria das divisões blindadas nas primeiras semanas após os desembarques.

Os Sherman acabariam por vencer pela força do número e pelo apoio aéreo dos P-47 Thunderbolt e P-38 Lightning da USAAF, e dos Hawker Typhoon da RAF, porém a um preço muito elevado, uma vez que o comando americano estava disposto a perder cinco Sherman para conseguir envolver e neutralizar um único tanque alemão Panther. 

Claro que as tripulações não estavam a par desta estatística, nem o comando achava prioritário colocar de imediato em serviço os tanques com a nova peça de 76mm que só se generalizaria nos meses finais da guerra, tal como a nova versão do Sherman equipada com trilhos mais largos e rodados do tipo HVSS.

Esta versão final do Sherman resolvia em boa parte a grande disparidade qualitativa entre tanques que se viveu na reconquista da Europa, sendo também muito apreciada pelas tripulações soviéticas, pois à proverbial fiabilidade juntava-se uma peça razoavelmente eficaz e as lagartas largas que melhoravam o desempenho da neve e lama típicos da frente Leste.

Entre todas as versões foram produzidos 49.630 tanques Sherman. 

Dos milhares que sobreviveram à guerra muitos foram cedidos a países aliados, mantendo-se em serviço por muitos anos e, por inerência, participando em quase todos os conflitos travados no mundo do pós-guerra, desde a guerra civil chinesa que se prolongaria até 1949 até ao colapso do Exército Cristão do Sul do Líbano no ano 2000, quando os derradeiros exemplares dos veteranos e muito modificados M-50 Sherman foram devolvidos a Israel, fechando assim um ciclo de aproximadamente 58 anos de carreira de combate activa.

Ficha técnica:

  • 1943
  • EUA
  • 400cv
  • 9 cil. (radial)
  • 16L
  • 5 velocidades + marcha-atrás
  • 30.000 kg
  • 46 km/h
  • Armamento: um canhão M3 de 75mm, duas metralhadoras .30 e uma metralhadora .50 para defesa anti-aérea

O M4A1 Sherman pode ser visto na exposição “A Segunda Guerra Mundial ao Vivo e a Cores”, patente no Museu do Caramulo, até dia 11 de Janeiro.

Fotografias: Joel Araújo

https://www.jornaldosclassicos.com/2025/11/11/m4a1-sherman-o-tanque-eterno/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

EM DESTAQUE

A HISTÓRIA DO " LINDNER *PORSCHELI* COUPÉ, O 356 DE QUATRO LUGARES.

  Dois irmãos gémeos, Knut e Falk Reimann, trabalhavam antes Segunda Guerra Mundial na Lindner Karosserie, em Dresden.  Após o fim da guerra...

POSTAGENS MAIS ACESSADAS