Fiocruz testa mosquito que não transmite dengue no RJ

 

Os ovos dos mosquitos foram contaminados com a bactéria Wolbachia, que impede que o vírus se multiplique no organismo do 'Aedes aegypti'

Imagem do mosquito Aedes aegypti, mais conhecido como mosquito da dengue

Imagem do mosquito Aedes aegypti, mais conhecido como mosquito da dengue (Ana Macedo/Futura Press/VEJA)

A  Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) começou a testar nesta quarta-feira uma forma inovadora de combater a dengue na cidade do Rio de Janeiro. Mosquitos modificados em laboratório foram liberados nesta manhã no bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte, onde moram 3 mil pessoas. Os ovos dos mosquitos foram contaminados com a bactéria Wolbachia, encontrada em 60% dos insetos, como as drosófilas (pequenas moscas) e pernilongos. Essa bactéria atua como uma espécie de vacina para o Aedes aegypti, impedindo que o vírus da dengue se multiplique no organismo do mosquito, que deixa, assim, de transmitir a doença. É a primeira vez que essa estratégia é testada no continente americano - já há experimentos em andamento na Austrália, Vietnã e Indonésia.

A Wolbachia também atua na reprodução dos insetos. A bactéria é transmitida naturalmente para as gerações seguintes de mosquitos e o método se torna autossustentável: Aedes com Wolbachia acabam se tornando predominantes na natureza, sem que os pesquisadores precisem liberar insetos contaminados constantemente. Em localidades da Austrália, isso aconteceu em 10 semanas, em média. O líder da pesquisa no país, Luciano Moreira, explicou que a expectativa é de que, até o final do ano, toda população de Aedes aegypti seja infectada pela Wobachia e esteja livre do vírus da dengue em Tubiacanga. As liberações serão feitas por aproximadamente três ou quatro meses e vai depender dos resultados sobre a capacidade dos mosquitos com Wolbachia de se instalarem no local.

A Wolbachia é uma bactéria intracelular, que só pode ser transmitida de mãe para filho, no processo de reprodução dos mosquitos. É maior que o canal salivar do mosquito, ou seja, não sai pela saliva, meio pelo qual o homem é contaminado. Para ter certeza de que não infecta seres humanos e animais domésticos, integrantes da equipe, na Austrália, deixaram-se picar durante cinco anos por uma colônia de mosquitos com Wolbachia.

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O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil foi lançado no Rio de Janeiro, em 2012. Nesses dois anos, os pesquisadores capturaram Aedes aegypti nos locais que servirão de testes, estudaram essas regiões e criaram os mosquitos contaminados em laboratório. Depois de lançados em Tubiacanga, os cientistas poderão avaliar a capacidade dos mosquitos com a bactéria se estabelecerem no ambiente e cruzarem com os demais mosquitos. Cerca de 10 mil insetos serão liberados semanalmente em Tubiacanga, por até quatro meses. Para reduzir o incômodo da população, a Secretaria Municipal de Saúde fez uma campanha para eliminar focos de criação do mosquito. Depois da Ilha do Governador, os bairros da Urca e Vila Valqueire, no Rio de Janeiro, e de Jurujuba, em Niterói, receberão os mosquitos. Estudos em larga escala para avaliar o efeito da estratégia estão previstos para ocorrer a partir de 2016.

(Com Agência Brasil e Estadão Conteúdo)

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