STJ derruba
tese de advogados e estraga Natal de figurões da Lava Jato
Expectativa de
algumas das principais bancas do país era a de que os empreiteiros seriam
liberados em massa porque, segundo as defesas, não havia mais risco de
continuarem cometendo crimes. Tribunal discorda e mantém empresários na cadeia Por: Laryssa Borges, de Brasília 10/12/2015
'Saidão de Natal' é frustrado e
executivos como Marcelo Odebrecht vão passar as festas de fim de ano na cadeia (Vagner Rosário/VEJA.com)
Nos últimos dias, os advogados mais
importantes do país lotam o plenário das sessões da 5ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) na expectativa de que o recém-empossado ministro
Ribeiro Dantas, que assumiu a relatoria dos processos da Operação Lava Jato,
convencesse os demais ministros de que existem argumentos capazes de
interromper os quase cinco meses de cadeia de figurões como o ex-presidente do
Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e de permitir que os executivos das maiores
empreiteiras do país passem o Natal em casa.
Na última semana, ouviram do
próprio Dantas, ministro apadrinhado pelo presidente do Senado Renan Calheiros
(PMDB-AL), o diagnóstico de que as prisões no maior escândalo de corrupção do
país representavam um "julgamento de exceção".
Desde então, conforme
revelou VEJA, cada ministro que julgaria os casos da Lava Jato passou a estar
sob a maior pressão de suas carreiras, com ameaças de dossiês e promessas de
boicotes em indicações.
O voto de Ribeiro Dantas, permeado
por um rosário de críticas às decisões do juiz Sergio Moro, deu esperanças - ou
a quase certeza - de que o STJ iria sucumbir e liberar em massa empreiteiros da
Lava Jato presos desde junho.
O entendimento do relator, contrário às
evidências colhidas pela Força-tarefa da Lava Jato, era o de que personagens do
escândalo do petrolão, como o próprio Odebrecht, poderiam ser colocados em
liberdade por não haver risco de cometerem crimes e nem de continuarem a atuar
no bilionário esquema de fraudes em licitações na Petrobras.
Mas o esperado
"saidão de Natal" dos empresários não se consolidou. E em boa medida
por causa dos votos do ministro Félix Fischer.
Na sessão desta quinta, depois de
Ribeiro Dantas ter votado pela liberdade do executivo Rogério Araújo, ligado à
construtora Odebrecht, Fischer pediu vista e adiou a conclusão do processo que
poderia levar à liberdade do empresário.
A concessão do habeas corpus a Araújo
era interpretada como a senha para que, na sequência, Marcelo Odebrecht também
pudesse ir para casa.
Os dois foram presos no mesmo dia, 19 de junho, por
razões semelhantes: suspeitas de envolvimento no desembolso de propina a
ex-dirigentes da Petrobras e fraude em contratos na estatal.
O caso específico
do presidente do Grupo Odebrecht não foi pautado hoje porque havia pedidos de
vista feitos há mais tempo, como o relativo ao publicitário Ricardo Hoffmann,
ligado ao deputado cassado e ex-petista André Vargas.
O destino de Marcelo Odebrecht pelas
mãos do STJ deve ser analisado na próxima terça-feira, 15, mas agora com parcas
chances de êxito.
No caso de Rogério Araújo, apenas o relator Ribeiro Dantas
votou por conceder a liberdade.
Ainda que Dantas tenha afirmado com todas as
letras que "inexiste elemento concreto a indicar a presença de risco de
reprodução delitiva", a tendência é que os ministros da 5ª Turma atestem
que Odebrecht deve continuar atrás das grades por ainda oferecer risco às
investigações sobre o propinoduto que sangrou os cofres da Petrobras e pelo
fato de o executivo, em liberdade, poder usar empresas da holding para camuflar
indícios e provas do esquema de formação de cartel, fraude em licitações e
corrupção de agentes públicos.
Um último argumento, já aventado pelo
juiz Sergio Moro, pode reforçar por fim o entendimento de ministros do STJ
favoráveis à manutenção da prisão do executivo: o de que o herdeiro do Grupo
Odebrecht tem influência política e recursos suficientes para inibir novos
flancos de investigação e potenciais delações premiadas.
A se repetir a larga maioria firmada
hoje para manter presos o presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de
Azevedo, o executivo Elton Negrão e o publicitário Ricardo Hoffmann, o Superior
Tribunal de Justiça confirmará o que o próprio ministro Félix Fischer disse na
tarde desta quinta-feira sobre o propinoduto da Operação Lava Jato:
"Não
são crimes comuns, são casos gravíssimos que deixam sociedade inteira perplexa.
E crimes como esses da Lava Jato exigem firme atuação do Judiciário".
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