Lula e a dona Mariza com o pecuarista José Carlos Bumlai
O pecuarista José Carlos Bumlai disse em novo
depoimento à Polícia Federal que repassou pedido do lobista Fernando Baiano
para o amigo e ex-presidente Lula
DANIEL HAIDAR 23/12/2015 -
O pecuarista José
Carlos Bumlai admitiu,
em depoimento à Polícia Federal, que intermediava
“demandas” para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
O interrogatório, realizado na última segunda-feira (21), foi dividido
em dois depoimentos.
Um deles tratou das relações de Bumlai com Lula, seu amigo
desde 2002, e com o grupo Schahin. Outro depoimento tratou de “fatos ilícitos”
que Bumlai sabia
sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Esse foi o terceiro dia
em que o amigo de Lula foi interrogado pela PF desde que foi preso na 21ª fase
da Operação Lava Jato, em novembro.
Bumlai
só admitiu que repassava “demandas” a Lula depois que foi questionado duas
vezes pela Polícia Federal se tratava de “assuntos comerciais” com o
ex-presidente.
Ele confessou que encaminhou a Lula um pedido do lobista Fernando
Soares, o Baiano, “relativo a uma palestra a ser realizada em Angola, no Centro
de Estudos Avançados de Angola”.
Antes
de detalhar como repassava tais “demandas” ao ex-presidente, Bumlai tentou sustentar
a versão de que “nunca tratou de questões comerciais ou políticas” com Lula.
Mas,
logo depois, admitiu que “muitas pessoas encaminhavam demandas via e-mail
ao Instituto Lula e que, ante a ausência de respostas, solicitavam ao
reinterrogando, na medida do possível, que fizesse contato junto ao Instituto
para viabilizar ao menos a apreciação dos pedidos”.
Bumlai alegou que
conversava com Clara Ant, diretora do Instituto Lula, e “repassava os
pedidos”. Mas o pecuarista não quis mencionar nenhum caso além do “pedido” do
lobista Fernando Baiano.
Disse apenas, genericamente, que os pedidos eram
“apreciados”.
Bumlai
disse também que conversava com Lula pelo número de telefone da
ex-primeira-dama Mariza Letícia. “Lula nunca possuiu
um número de celular próprio”, alegou o pecuarista no depoimento.
Mas a
narrativa superficial de Bumlai não convenceu os policiais. Na metade do
interrogatório, o delegado Filipe Pace mostrou cópias de um e-mail
enviado por Bumlai. Era uma prova de que, até aquele momento, ele insistia em
omitir fatos importantes dos policiais.
No e-mail, Bumlai agendava uma reunião
de Lula com um embaixador do Qatar.
Na
mensagem, enviada em 21 de fevereiro de 2014, Bumlai respondia a um
interlocutor:
“Estive hoje tratando do assunto e o Sr. ex-presidente Lula volta
dia 27 de fevereiro para o Brasil e marcará a data conforme solicitada no
e-mail da Embaixada, ou seja antes de 19 de março”.
Depois
que a Polícia Federal mostrou o e-mail no meio do interrogatório, o depoimento
foi interrompido para que o pecuarista conversasse com seus advogados Daniella
Meggiolaro e Edward Carvalho.
Ao retomar o depoimento, Bumlai contou a seguinte
história, com o objetivo de convencer os policiais de que Lula e a presidente Dilma
Rousseff eram
procurados pela embaixada do Qatar para que ajudassem na realização de
negócios.
Bumlai envolveu o empresário Marcello Horcades Coutinho na trama. De
acordo com o depoimento, Bumlai “esclarece que apenas atendeu ao pedido do
secretário do Embaixador do Qatar porque havia uma explicação anterior da
demanda dada por Marcelo Horcades Coutinho; que Marcello é sócio de Eleazar de
Carvalho Filho numa empresa de vendas, fusões e aquisições de empresas; que
Marcello disse a que uma empresa do Qatar (Qatar Trading) desejava comprar uma usina
de açúcar no Brasil”, diz o depoimento.
Pela
narrativa de Bumlai, o embaixador do Qatar “desejava avisar o governo
brasileiro desta intenção, mas não estava conseguindo”.
“O embaixador do Qatar
desejava que Lula conversasse sobre o tema com a Presidente Dilma Rousseff; que
Marcello disse que o ex-presidente Lula se aproximou dos países árabes e que a
Presidente Dilma Rousseff não tinha este interesse”, afirmou.
Ao
explicar a trama rocambolesca, Bumlai acrescentou aos policiais que iria vender
uma empresa da família, a Usina São Fernando, para a Qatar Trading.
Em nenhum
momento foi mencionado exatamente o que Lula ou Dilma poderiam fazer pelo tal
negócio. Uma minuta de contrato chegou a ser escrita, mas o negócio não saiu,
de acordo bom Bumlai. De acordo com Bumlai, “a negociação não foi levada para
frente”.
Depois
de narrar toda a trama com o Qatar, Bumlai voltou a dizer que nunca tratou de
assuntos “comerciais” com Lula.
Isso fez com que o delegado Filipe Pace
perguntasse como o pecuarista queria que a Polícia Federal acreditasse na
versão,
“se ele continua a omitir e mentir sobre fatos relevantes para a
investigação”. Bumlai, então, insistiu que "não existirão tantos outros fatos
a serem elucidados". Até o próximo depoimento.
Trecho de novo depoimento do pecuarista José Carlos Bumlai. Ele admitiu que intermediava "demandas" para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reprodução/Época)
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