PORTUGAL► PROCURADORAS INVESTIGAM CRIMES NO FUTEBOL.



Equipa especial do MP reúne Patrícia Barão, que está na Operação Fizz, Ana Catalão, do caso Sócrates, e Vera Camacho, dos e-mails do Benfica.

As três procuradoras do Ministério Público escolhidas pela procuradora-geral da República (PGR) como equipa especial para investigar os crimes do futebol dispersos pelo país - como os "e-mails do Benfica" ou o caso dos vouchers - são especializadas em crimes de corrupção. 

Processos mediáticos como as operações Marquês, Fizz ou Furacão passaram por, pelo menos, duas das magistradas: Ana Catalão e Patrícia Barão, ambas com mais de 40 anos e quase duas décadas de carreira.

A mais nova é Vera Camacho, que estava na 9.ª secção do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, onde se investigam crimes de corrupção e tinha em mãos o caso dos e-mails do Benfica, que levou à detenção do assessor jurídico da SAD do Benfica, Paulo Gonçalves, na Operação e-Toupeira. 

Esse é um dos inquéritos que transitam para a equipa especial que começou a trabalhar no início do mês.

A coordenadora da equipa especial é Patrícia Barão, descrita por fonte judicial que a conhece há muitos anos como "muito competente, discreta e capaz". Barão está há dois anos no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e trabalhou o processo da Operação Fizz, o caso que envolve o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente e o antigo procurador português Orlando Figueira, suspeito de ter sido corrompido por Vicente quando este era administrador da Sonangol, a petrolífera angolana.

Barão é também a magistrada do Ministério Público que tutela o processo em que o ex-dirigente do PSD Duarte Lima é acusado por abuso de confiança e apropriação indevida de mais de cinco milhões de euros de Rosalina Ribeiro, sua antiga cliente e ex-companheira do milionário Tomé Feteira. Duarte Lima é suspeito também de ter assassinado Rosalina Ribeiro no Brasil.

Já a procuradora Ana Catalão, que é atualmente adjunta na direção do DIAP, esteve na equipa do DCIAP do procurador Rosário Teixeira que investigou os alegados crimes de corrupção passiva, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais imputados ao ex-primeiro-ministro José Sócrates na Operação Marquês (que conta ainda com vários outros arguidos). 

Ana Catalão apresenta também um perfil de discrição e muita experiência em processos grandes e de elevada complexidade. Foi uma das magistradas do DCIAP que trabalharam na Operação Furacão e chegou a acusar, nesse inquérito, uma sociedade do Grupo Espírito Santo (a ESGER) e quatro ex-administradores da mesma empresa de 48 crimes de fraude fiscal qualificada.

Camacho na mira do blogue

A procuradora adjunta Vera Camacho, que estava a investigar os e--mails do Benfica, saiu nas notícias no dia 13 de março quando o blogue Mercado do Benfica, que nos últimos meses divulgou os e-mails dos encarnados, publicou um ofício assinado pela magistrada do DIAP de Lisboa e dirigido ao ser-viço de alojamento de blogues WordPress. 

Nesse documento, Vera Camacho pedia a identificação dos IP usados para alimentar a página, explicando que aquele espaço tinha divulgado um documento policial protegido por lei. 

O blogue partilhou uma informação da Polícia Judiciária relativa ao início da investigação do caso que levou à detenção do assessor jurídico da SAD do Benfica, Paulo Gonçalves, e de José Silva (técnico de informática no Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça) na Operação e-Toupeira. 

Mais recentemente, o blogue divulgou todo o processo relativo à oferta de bilhetes pelo clube a Mário Centeno, ministro das Finanças.

Acusou Pereira Cristóvão

Mas o processo dos e-mails do Benfica não foi a primeira incursão de Vera Camacho nos meandros do futebol. 

A procuradora acusou o antigo vice-presidente do Sporting Paulo Pereira Cristóvão por crimes de corrupção e por obtenção de dados sigilosos de quase 200 árbitros de futebol. 

Mas uma juíza do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa decidiu não pronunciar Pereira Cristóvão, alegando que os factos imputados a este arguido já tinham sido julgados no caso Cardinal, em que foi condenado a uma pena suspensa de quatro anos e meio e ao pagamento de 25 mil euros ao antigo árbitro assistente de futebol José Cardinal. 

Vera Camacho recorreu mas perdeu na Relação de Lisboa, que manteve a decisão do TIC.

A PGR justificou a criação desta equipa especial (sem dizer os nomes das magistradas) com o facto de terem "aumentado significativamente o número de denúncias relacionadas com o futebol". 

"Atendendo ao elevado número de casos, à sua dispersão territorial, bem como à repercussão social dos factos, considera-se fundamental que a investigação se desenvolva, com conhecimento global do fenómeno, de forma concentrada, integrada e coordenada", explicou.

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