Enquanto
o século XX viu cerca de 200.000 mortes por conta de apenas duas bombas
atômicas lançadas pelos EUA no Japão, isso não é nada perto da arma mais
mortífera desse período: o AK-47, também chamado de fuzil de Kalashnikov,
responsável por tirar milhões de vidas.
Como o nome já sugere,
o inventor desse instrumento letal foi o russo Mikhail Kalashnikov. AK-47
significa “Automat Kalashnikova 1947”, o ano em que o primeiro deles foi
produzido.
O nascimento de uma arma icônica
Kalashnikov
nasceu em 10 de novembro de 1919. Nos anos 1940, era mecânico de tanques das
forças armadas soviéticas. Ele foi ferido durante a invasão alemã da URSS em
1941.
Ao
observar o estrago feito por armas mal projetadas durante a Segunda Guerra
Mundial, o mecânico decidiu criar sua própria arma, com um design melhor. E
conseguiu: o AK-47 é tão popular porque é relativamente barato de se produzir,
pequeno, leve, fácil de se transportar e fácil de se usar, com pouco recuo.
Também
possui uma “confiabilidade lendária” sob condições adversas, funcionando bem
tanto em florestas e pântanos quanto em tempestades de areia, no frio ou no
calor.
Por
fim, requer pouca manutenção, o que se deve principalmente a seu grande pistão
a gás e aos espaços entre suas partes móveis, que ajudam a evitar que a arma
“atole” e falhe. O fuzil possui uma vida útil de 20 a 40 anos.
Por
todo o mundo
Em 1949, o AK-47 se
tornou o fuzil oficial do exército soviético. Depois do Pacto de Varsóvia, a
arma se espalhou pelo mundo, tornando-se inclusive um símbolo de revolução em
países como Vietnã, Afeganistão, Colômbia e Moçambique (neste último, a arma
figura na bandeira).
As próprias forças
armadas dos EUA já distribuíram o fuzil em conflitos no Afeganistão e no
Iraque.
Tantas
vantagens tornam o AK-47 atraente não somente para a defesa de nações, mas para
criminosos e terroristas também. Foi a arma escolhida pelos sequestradores que
invadiram a Vila Olímpica de Munique em 1972, por exemplo, bem como já foi
utilizada em mais de uma ocasião por atiradores em massa nos EUA.
De
acordo com o portal Science Alert, cerca de 100 milhões de AK-47 e
suas variantes já foram produzidas até hoje. A arma agora é encontrada em todo
o mundo, inclusive nas mãos de muitos civis americanos – em 2012, eles
compraram tantos AK-47 quanto a polícia e as forças armadas russas.
E
Kalashnikov, dormia bem à noite?
Kalashnikov recebeu vários
prêmios por sua invenção, incluindo o Prêmio Stalin, a Estrela Vermelha e a
Ordem de Lenin. Ele morreu em 2013, com 94 anos.
Durante a maior parte de sua vida, o criador do AK-47
se eximiu de qualquer culpa pelas mortes causadas por sua arma, dizendo que ela
foi projetada para defesa, não ataque. Em 2007, ao responder como podia dormir
à noite, disse que “dormia bem” e que eram “os políticos os culpados por não
terem chegado a um acordo e recorrido à violência”.
Apesar disso, é
improvável que o peso de tanta destruição não tenha tido um impacto no
psicológico de Kalashnikov. No seu último ano de vida, ele escreveu uma carta
ao líder da Igreja Ortodoxa Russa dizendo que “a dor em seu peito” era
“insuportável”. “Eu continuo me perguntando a mesma questão solucionável: se
meu fuzil tirou tantas vidas, isso significa que sou responsável por suas
mortes”.
Kalashnikov não
apertou o gatilho milhões de vezes – e sabe-se quantas milhões mais enquanto
ainda existirem AK-47s -, mas possibilitou que isso acontecesse. Deveria mesmo
sentir culpa? [ScienceAlert]
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