
9 de abril de 2021
É possível que uma coincidência geológica tenha dado origem a reatores nucleares “naturais” mais eficientes do que os atuais? Na África, uma montanha contém depósitos com resíduos de urânio que sugerem a existência de uma civilização avançada a cerca de 2 bilhões de anos atrás.
Ele é chamado de “monstro atômico”. Jamais houve maior e mais eficiente produtor de energia nuclear do que este em todo o planeta. Paredes inclinadas, isolamento de lixo nuclear e o melhor sistema de resfriamento que a engenharia poderia desenvolver. Ele tinha uma estrutura tão bem projetada que poderia ter permanecido em operação para sempre. Portanto, após o período da “grande aniquilação”, muitas civilizações posteriores tentaram aproveitar o que restou do “monstro” para voltar aos tempos de glória.
Mas a construção estava muito degradada e o sistema de reciclagem de urânio não estava mais funcionando. Ao final, ao longo dos milênios, as paredes e canais de resfriamento enferrujaram, corroeram e acabaram se confundindo com a montanha que um dia os abrigou. Milhões de anos depois, o único vestígio de que existia uma estrutura tecnológica ali era o material esgotado; o resto do reator estava irreconhecível.
Este panorama fictício não poderia ser muito diferente do real se considerarmos que para muitos cientistas a existência do “Reator Nuclear do Gabão”, um gigantesco depósito de urânio encontrado na África no início dos anos 1970, é um fenômeno que nunca poderia ter ocorrido de forma natural.
Com aproximadamente 2 bilhões de anos de idade, as minas de Oklo, na República do Gabão, vieram à tona quando uma empresa francesa descobriu que seu urânio já havia sido extraído e usado.
Após analisar amostras da mina, técnicos da Usina Nuclear de Tricastin descobriram que o mineral não era adequado para uso industrial. Suspeitando de possível fraude por parte da empresa exportadora, a sede da Tricastin decidiu investigar por que as amostras normais de urânio tinham aproximadamente 0,7% de material utilizável, enquanto as de Oklo mal se aproximavam de 0,3%. Quando foi confirmado que o material parecia resíduo de uma reação nuclear, pesquisadores de todo o mundo viajaram para estudar o local.

Depois de exaustivas análises químicas e geológicas, a comunidade científica chegou por unanimidade a uma conclusão assustadora: as minas de urânio do Gabão não poderiam ter sido outra coisa senão um reator de 35.000 km2, que começou seu trabalho há 2 bilhões de anos atrás e permaneceu em operação por mais 500 mil anos!
Esses dados astronômicos fizeram muitos especialistas quebrar a cabeça pensando em uma possível explicação. Mas, quarenta anos depois, o caso do Gabão ainda levanta as mesmas questões incômodas do início da sua descoberta. Quem ou o que estava utilizando a energia nuclear antes de qualquer civilização colocar os pés na Terra? Como conseguiram projetar um enorme e complexo reator? Como conseguiram manter funcionando por tanto tempo?
A incômoda explicação
Em um esforço para explicar a origem do reator, os cientistas recorreram a uma velha teoria do químico japonês Kazuo Kuroda, que anos antes havia sido ridicularizado após postulá-la.
Kuroda explicou que uma reação nuclear poderia ocorrer sem intervenção humana se uma série de condições essenciais fossem satisfeitas na natureza: um depósito de urânio de tamanho apropriado, um mineral com alta proporção de urânio físsil, um elemento que atua como um moderador e a ausência de partículas dissolvidas que dificultem a reação.
Mas enquanto três das condições de Kuroda eram altamente improváveis, ainda mais difícil de explicar era como uma reação nuclear natural poderia ter permanecido equilibrada sem que o núcleo de urânio fosse apagado ou derretido ao longo dos 500.000 anos estimados. Por esse motivo, os cientistas adicionaram um fator final à hipótese de Kuroda: um sistema geológico casual que permitia que a água entrasse nos reservatórios e o vapor de reação escapasse.
Estima-se que, muitos milhões de anos atrás, a proporção de urânio físsil na natureza era muito maior (cerca de 3% do mineral), fato fundamental para que uma suposta reação ocorresse. Com base nesse fator, os cientistas propuseram que a cada três horas os depósitos de urânio poderiam ter se ativado espontaneamente ao serem inundados com água filtrada das fissuras, gerando calor e desligando-se quando a água, atuando como moderador, evaporasse completamente.
No entanto, de acordo com a teoria de Kuroda, a água necessária necessita ter uma boa proporção de deutério (água pesada) e não deve ter quaisquer partículas que possam interromper os nêutrons na reação. A água que escoa através das rochas pode ter essas condições excepcionais? Poderia ser encontrado na natureza um líquido que hoje exige um elaborado processo de produção?
Engenharia avançada
Após uma série de análises geológicas, os pesquisadores descobriram que o reator de Oklo ainda tinha uma última surpresa: os “depósitos” de resíduos adotaram uma disposição tal que, mesmo após milhões de anos, a radioatividade não vazou para fora. De fato, calculou-se que o impacto térmico dos reatores em operação não deveria ter ultrapassado um raio de ação superior a 40 metros. Os cientistas reconheceram a incapacidade de emular um sistema de resíduos tão eficiente, e o reator ainda está sendo estudado a fim de projetar novas tecnologias com base em sua estrutura.
Em suma, o gigantesco reator do Gabão foi melhor projetado do que qualquer reator moderno.
Por isso, apesar de a teoria dos “reatores naturais” ser hoje a mais difundida em nível acadêmico, muitas perguntas sem resposta sobre o depósito de Oklo ainda permanecem.
Por que o urânio foi encontrado em depósitos bem definidos e não espalhado aleatoriamente pela terra? Poderia uma reação espontânea ter ocorrido independentemente vinte vezes diferentes em todo o reservatório? Por que esse fenômeno ocorreria única e exclusivamente na África e não em outras partes do planeta? As paredes de uma mina podem coincidentemente formar uma estrutura tal que a radioatividade não escape para fora da mina? Mas acima de tudo: o que aconteceu exatamente no Gabão, há 2 bilhões de anos atrás?
Artigo publicado originalmente na revista 2013 e além
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