Com Dilma, Brasil cai em ranking global de competitividade

Indicador de competitividade medido pelo Fórum Econômico Mundial mostra que, por falta de reformas, país passou da 53ª para a 57ª posição no ranking entre 2011 e 2014

Ana Clara Costa e Naiara Infante Bertão
Competitividade: país avançou no indicador, mas recuou no ranking
Competitividade: país avançou no indicador, mas recuou no ranking (Antonio Milena/VEJA)
O Brasil perdeu quatro posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial entre 2011 e 2014. O Relatório de Competitividade Global divulgado nesta terça-feira avalia os principais pilares das economias mundiais, como estabilidade macroeconômica, educação e solidez das instituições públicas, e os traduz num indicador. Segundo o Fórum, apesar de o indicador do Brasil ter avançado de 4,32 para 4,34 nos últimos quatro anos, outras economias avançaram mais. Com isso, o país passou da 53ª posição entre os mais competitivos, em 2011, para a 57ª em 2014.
A competitividade no governo Dilma - Gráfico
Em relação ao ano passado, dos 12 quesitos avaliados para compor o indicador, o Brasil só melhorou em dois: Educação Superior, ao passar da 72ª posição para 41ª; e Saúde e Educação Primária, saindo de 89ª para 77ª. Em dois deles, o Brasil manteve a mesma colocação de 2013: Eficiência do Mercado de Bens (123º lugar) e Tamanho do Mercado Consumidor (9º). Nos demais, houve piora.
No quesito Instituições, o país passou de 80º lugar no ano passado para a 94ª colocação neste ano. No critério Infraestrutura, que avalia os investimentos feitos em logística e transporte, o Brasil passou de 71º para 76º. Já em Macroeconomia, a piora fez com que o Brasil, a sétima economia do mundo, passasse de 75º para 85º lugar, atrás mesmo de países como Bolívia, Costa do Marfim e Guatemala. O relatório mostra ainda que, em Eficiência do Mercado de Trabalho, importante indicador de qualidade da mão de obra e produtividade, o Brasil perdeu 17 posições, ficando no 109º lugar em 2014. O quesito de Facilidades Tecnológicas mostrou o mesmo movimento, passando de 55º para 58º. 
O documento enfatizou os problemas de infraestrutura como indutores da piora no ranking. "O declínio se deve, principalmente, aos progressos insuficientes em melhorar as fraquezas de infraestrutura no transporte, além da deterioração do funcionamento das instituições, com preocupações crescentes sobre a eficiência do governo e a corrupção", afirma o levantamento. Segundo o economista Banat Ortega, um dos responsáveis pela elaboração do documento, o modelo econômico colocado em prática no Brasil, que busca o aumento da presença do estado na economia, acaba impedindo o avanço da produtividade. "A estabilidade macroeconômica é crucial, e esse tem sido um dos problemas do Brasil nos últimos anos", afirma. 
VEJAGráfico - Competitividade
Não à toa, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado na última sexta-feira mostrou que o Brasil entrou em recessão técnica, após dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. Houve também queda de 6,80% nos investimentos, que é a ferramenta primordial para estimular o crescimento de um país e gerar competitividade. Segundo Ortega, a desaceleração ou queda dos investimentos estrangeiros indicam que um país caminha no sentido contrário ao do aumento da produtividade. "O capital estrangeiro ajuda a prover acesso a melhores tecnologias para as empresas locais. Ajuda também a melhorar a qualificação dos profissionais. Mas é preciso haver avanço em competitividade. Caso contrário, o capital se muda para outros lugares", afirma o economista.
O Brasil tem sido constantemente comparado ao México em questões ligadas à economia. Segundo o relatório, o país latino-americano teve uma piora em seu indicador e caiu 6 degraus, para 61º lugar. Contudo, o texto aponta que suas perspectivas são boas porque as reformas implementadas pelo atual presidente, Enrique Peña Nieto, devem surtir efeitos nos próximos anos. "Quando os dados sobre o México foram coletados, ainda não era possível verificar o resultado das reformas. Mas eles são esperados para os próximos anos. No caso do Brasil, as reformas não estão sendo feitas. Por isso a avaliação de perspectivas é pior", afirma Banat Ortega.
VEJA
América Latina - Entre países vizinhos, o Chile se destaca. Em ambiente macroeconômico, por exemplo, ele está em 22º lugar. Mesmo assim, diante da presença de países extremamente anticompetitivos, como Argentina e Venezuela, na região, o Fórum Econômico Mundial alerta que os países latino-americanos não estão avançando o suficiente para lidar com os desafios da competitividade. A solução proposta é velha conhecida: reformas estruturais e investimentos sérios e focados em infraestrutura e inovação. "O Brasil, assim como os BRICS, precisará implementar reformas e se comprometer em fazer investimentos produtivos. Esta estratégia é não apenas importante, mas urgente para que o Brasil reforce sua resiliência", afirma o relatório.
A crise não é desculpa - O relatório mostra que diversos países europeus fortemente atingidos pela crise de 2008/2009, como Espanha (35º colocado), Portugal (36º) e Grécia (81º) fizeram um grande esforço para melhorar seus indicadores de competitividade. Primeiramente, eles trabalharam em melhorias no funcionamento de seus mercados para evitar problemas como os vistos anos antes. Em segundo lugar, apostaram em incentivo à produtividade.  


BRICS - A China não é apenas a que mais cresce entre os BRICs, grupo de países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Ele é também o país do bloco com a maior índice de competitividade. No último ano, o gigante asiático pôs em curso uma série de medidas para moldar seu sistema regulatório, estimular a abertura da economia à iniciativa privada e dar mias segurança aos investidores. O resultado foi a 28ª colocação no ranking, uma melhor do que no ano anterior. 

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