Romário, Jutahy Júnior e Rodrigo Maia (Foto: Evaristo Sa/AFP, Sérgio Lima/Ed. Globo e Alexssandro Loyola)
Os próximos
alvos da Lava Jato: Romário, Jutahy Júnior e Rodrigo Maia
Mensagens de
celular mostram que os três parlamentares negociaram doações suspeitas com
empreiteiros. Serão investigados pela força-tarefa
FILIPE COUTINHO
14/06/2016
O telefone celular do empreiteiro Marcelo
Odebrecht, preso há um ano em Curitiba, é um parque de diversões para
investigadores da corrupção.
Marcelo mantinha uma bem organizada coleção de arquivos com
conversas e anotações dos negócios ilegais com lobistas e políticos
encastelados no poder, essenciais para administrar a rede criminosa que
sustentava seus negócios com o governo.
Foi dali que surgiram as investigações sobre os primeiros sinais
de que a campanha da presidente afastada, Dilma Rousseff, ao Planalto em 2014 fora abastecida por pagamentos
realizados na Suíça, entre outras ilegalidades.
Nos últimos dias, com base em mensagens trocadas por Marcelo e
informações dadas por outros empreiteiros, o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, pediu a abertura de novos inquéritos para investigar políticos que
passavam incólumes à
ÉPOCA obteve informações sobre três nomes da nova lista de inquéritos
sigilosos de Janot, todos da oposição ao governo Dilma, com investigações
iniciadas a partir de mensagens trocadas pelo celular de Marcelo e de outro
empreiteiro, Léo Pinheiro, da OAS.
A principal
estrela da nova safra de inquéritos é o senador Romário, do PSB do
Rio de Janeiro. Há ainda os deputados Jutahy Júnior, do PSDB da
Bahia, e Rodrigo Maia, do DEM do Rio de Janeiro.
Janot vai pedir ao Supremo Tribunal Federal autorização para investigar
os três parlamentares pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Os casos dos três parlamentares podem não ter nada a ver com o petrolão.
Opositores do governo Dilma, Rodrigo e Jutahy não faziam parte de PT,
PMDB e PP, partidos donos de diretorias da Petrobras e com
direito a cobrar pedágio das empreiteiras.
A investigação indica que os três caíram pela velha prática das relações
promíscuas com empreiteiras.
>> Ex-presidente
da OAS diz que construtora doou R$ 3 milhões para a campanha de Pimentel
O nome de Romário aparece em mensagens trocadas entre Marcelo Odebrecht e seu subordinado Benedicto Barbosa da Silva Júnior, descobertas no ano passado, quando Marcelo foi preso.
O nome de Romário aparece em mensagens trocadas entre Marcelo Odebrecht e seu subordinado Benedicto Barbosa da Silva Júnior, descobertas no ano passado, quando Marcelo foi preso.
Benedicto é um dos principais executivos da Odebrecht e ganhou
notoriedade quando a Polícia Federal encontrou, em seu apartamento, planilhas
com controles de valores distribuídos a mais de 200 políticos.
Assim como o chefe Marcelo Odebrecht, ele chegou a ser preso pela Lava
Jato.
A suspeita da Procuradoria é que a Odebrecht tenha colocado R$ 100 mil
no caixa dois da campanha de Romário, após a eleição vitoriosa para o Senado,
em 2014.
Segundo Janot escreveu na petição, a conversa entre Marcelo e Benedicto
é considerada um indício da prática habitual e sistemática de pagamento de
propina.
Apesar de o diálogo citar R$ 100 mil, não houve doações oficiais da
Odebrecht para Romário.
A investigação, contudo, ainda está nos primeiros passos para tentar
descobrir se efetivamente foi pago o montante tratado nas conversas. Romário é
um dos votos decisivos na etapa final do impeachment de Dilma.
Na primeira votação, ele votou contra Dilma. Há duas semanas, no
entanto, Romário mostrou-se hesitante.
>> Rodrigo
Janot, o homem que fez Brasília tremer
Outrora cotado para ser o líder do governo de Michel Temer na Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) aparece em mensagens de celular trocadas com Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS.
Outrora cotado para ser o líder do governo de Michel Temer na Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) aparece em mensagens de celular trocadas com Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS.
“A doação de 250 vai entrar?”, diz Rodrigo. Dois dias mais tarde, ele
insiste. “Se tiver ainda algum limite pra doação, não esquece da campanha
aqui.”
Como não houve nenhuma doação oficial, a PGR levanta a suspeita de mais
um caso de caixa dois na campanha de 2014.
Em situação similar está o deputado Jutahy Júnior.
Em situação similar está o deputado Jutahy Júnior.
A Procuradoria descobriu que
ele marcou uma reunião com Léo Pinheiro e, no dia seguinte, recebeu uma doação
de R$ 30 mil.
Uma mensagem de texto enviada pelo parlamentar, contudo, questiona Léo
sobre quando entraria a segunda parte do combinado.
“Caso seja possível gostaria da sua ajuda para (que a) Varjão (OAS) completasse
o combinado.
Desde já agradeço a grande ajuda que vcs (sic) deram
para minha campanha.
Do amigo Jutahy”, diz Jutahy. Como não houve uma segunda doação oficial,
a PGR apura se houve pagamento a algum fornecedor.
>> “O
desafio da nossa hora é o de combater a impunidade”, diz Janot em carta a
procuradores
Os diálogos mostram como a relação entre políticos e empreiteiras durante as eleições de 2014 mantinham-se as mesmas, mesmo com o avanço da Lava Jato sobre os negócios dessas empresas com a Petrobras.
Os diálogos mostram como a relação entre políticos e empreiteiras durante as eleições de 2014 mantinham-se as mesmas, mesmo com o avanço da Lava Jato sobre os negócios dessas empresas com a Petrobras.
O maior exemplo disso é Léo
Pinheiro. Em 3 de novembro de 2014, seu celular apitava.
Era Jutahy novamente.
“Entreguei hoje minha prestação de contas da minha campanha sem débitos.
Mais uma vez obrigado pela grande ajuda de vcs.
Abrç amigo do Jutahy (sic)”, diz a mensagem. Passaram-se 11
dias e Léo Pinheiro estava preso pela Lava Jato.
Nos três casos, o pedido de Janot foi encaminhado ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo.
Nos três casos, o pedido de Janot foi encaminhado ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo.
Teori poderá tomar dois caminhos. Se entender que o caso tem relação com
o petrolão, ele deverá abrir um inquérito para cada um dos parlamentares.
Ele pode ainda submeter a decisão ao presidente do STF, Ricardo
Lewandowski, caso conclua que não há relação direta com os desvios da
Petrobras.
Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro
negociam acordos de delação premiada com a Justiça.
Se contarem tudo o que sabem, podem esclarecer práticas criminosas de
potencial devastador, que inclui o destino de Dilma e do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Podem, também, implodir parlamentares e sua relação
financeira promíscua com as empresas.
Por meio de sua assessoria, o senador Romário afirma que não recebeu qualquer doação da Odebrecht e nunca conversou com Marcelo Odebrecht.
Por meio de sua assessoria, o senador Romário afirma que não recebeu qualquer doação da Odebrecht e nunca conversou com Marcelo Odebrecht.
Afirma que todas as doações recebidas foram legais e registradas na
prestação de contas da campanha de 2014.
Também por meio de sua assessoria, o deputado Rodrigo Maia diz que as
doações da construtora OAS foram feitas ao diretório nacional do DEM e
transferidas para a campanha do então candidato ao Senado, Cesar Maia, seu pai.
Rodrigo diz que todas as doações estão registradas e foram aprovadas
pela Justiça Eleitoral. A Odebrecht preferiu não se manifestar.
>> O
ministério da Lava Jato
O deputado tucano Jutahy Júnior nega que as doações recebidas da OAS tenham abastecido caixa dois.
O deputado tucano Jutahy Júnior nega que as doações recebidas da OAS tenham abastecido caixa dois.
Segundo o deputado, a OAS fez um depósito de R$ 300 mil para o partido
em agosto de 2014, sendo R$ 30 mil para sua campanha e o restante para o
diretório nacional.
Ele explica a troca de mensagens em que cobra uma segunda parcela: “A
OAS havia combinado de fazer uma doação maior em duas parcelas.
Minha mensagem foi um pedido para que a segunda parcela fosse
depositada. Mas ela nunca foi”.
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