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☺Câncer de mama: da prevenção à cura

 Por Dr. Ricardo Antunes

Falar sobre uma doença tão complexa e multifatorial como o câncer da mama traz à tona várias discussões difíceis, como o desenvolvimento do câncer, a chamada carcinogênese, a evolução tecnológica que felizmente temos presenciado ao longo desses últimos anos, o sequenciamento do DNA humano, as assinaturas genéticas entre outros avanços importantes. Entretanto, traz à tona principalmente discussões a respeito da grande mudança no estilo de vida da mulher moderna com ocidentalização de hábitos nocivos à saúde; pelo simples fato de o câncer da mama ser uma doença essencialmente socioambiental em que apenas 10-15% possuem uma relação hereditária comprovada.

Considerado um dos maiores desafios de saúde pública no mundo, uma verdadeira epidemia, com cerca de 50 mil casos novos estimados para este ano no Brasil pelo Instituto Nacional do Câncer, é a maior causa de morte entre as mulheres desde 1970 devido à falta do diagnóstico precoce. Ainda convivemos, em nosso País, com casos simples que se tornam complexos e casos curáveis que se tornam incuráveis pela falta de informação, da conscientização da mulher sobre os enormes benefícios da prevenção e, infelizmente, ainda com uma grande dificuldade de acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado, com filas proibitivas em boa parte dos serviços públicos assistenciais à saúde da mulher, gerando um enorme prejuízo às possibilidades de cura e de cirurgias conservadoras mamárias.

Sabemos que, quanto maior o número de filhos, menor o risco de câncer da mama. Sabemos também que a mulher que tem filhos cedo e amamenta mais tem risco menor. Na década de 20, a mulher ovulava cerca de 50 vezes durante sua vida, porque engravidava e amamentava mais. Já hoje, a mulher moderna ovula cerca de 400 vezes, porque engravida e amamenta muito menos, aumentando suas chances de desenvolver o câncer pela falta de proteção hormonal. Outros fatores também contribuem para aumentar o risco, como o tabagismo, a obesidade, o sedentarismo, a dieta gordurosa, a ingestão alcoólica em excesso, a vida urbana, com contato continuado com poluentes orgânicos e toxinas químicas e, ao que tudo indica, o estresse da vida moderna. Mas são mudanças de hábitos reprodutivos, hormonais e sociais nos quais é difícil interferir.

Hoje, a realidade brasileira está na detecção precoce. Estima-se que desde a ocorrência da primeira divisão celular anômala até um nódulo chegar a ser palpável, com 1 cm, exista um intervalo aproximado de dez anos. Se o tumor for descoberto nesse período, as chances de cura podem atingir praticamente 100% quando são detectados tumores pré-infiltrativos, os chamados carcinomas in situ. Para diagnóstico desta fase tumoral pré-clínica, a MAMOGRAFIA é fundamental, considerada padrão ouro no diagnóstico, permitindo o reconhecimento de lesões a partir de 1 mm, anos antes de se tornarem perceptíveis ao toque.

Casos não-palpáveis diagnosticados por mamografia são quase sempre tratados apenas por retirada de parte da mama, com resultados estéticos excelentes. Esta é a orientação mais importante, a rotina da mamografia anual depois dos 40 anos de idade. Quando a mamografia for repetida anualmente, o medo do câncer da mama vai aos poucos diminuindo, porque a mulher sabe que depois de um exame normal qualquer anormalidade que possa surgir deverá ser inicial e, portanto, altamente curável. Em mamas densas, geralmente mamas mais jovens, deve-se realizar também a ULTRASSONOGRAFIA. Nas pacientes consideradas de alto risco, com forte traço familiar (mãe ou irmãs que tiveram câncer de mama), a rotina mamográfica deve ser particularizada, iniciando-se mais precocemente, geralmente a partir da idade correspondente a dez anos antes daquela verificada quando do diagnóstico do câncer de mama na mãe ou nas irmãs. Para essas mulheres indicam-se também ultrassonografia e ressonância magnética das mamas.

O exame físico das mamas feito pelo médico é útil também, permitindo o diagnóstico precoce de tumores com pelo menos 1 cm de diâmetro, além de ajudar na orientação do auto-exame das mamas, esclarecendo dúvidas e transformando este num ato natural e sem medo. O autoexame identifica nódulos maiores e deve ser também praticado em quem não tem acesso à mamografia, por meio da inspeção, observando alguma modificação na pele ou nos mamilos, e da palpação cuidadosa com movimentos delicados, geralmente no banho, na busca de algum nódulo na mama ou na axila. Com o passar do tempo, a ansiedade na realização do autoexame vai se tornando uma rotina tranquila e de fácil realização.

A mama é um órgão muito especial para a mulher. Mais do que fonte de nutrição para recém-nascidos, desempenha papel fundamental para sua autoestima, autoimagem corporal e identidade psicológica. A mama é realmente singular: embeleza, nutre e seduz.

Como diz o slogan da união de mulheres que trabalham voluntariamente contra o câncer de mama (Unacam): QUEM PROCURA ACHA E QUEM ACHA, CURA.
Contato:

Dr. Ricardo Antunes
- Diretor do Instituto Paulista de Cancerologia
- Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia
www.ipcgrupo.com.br

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