Comissão da Anistia; a da Verdade, agora

21/05/2012

Para criar mistificações e mitos oficiosos, já existe a Comissão da Anistia; a da Verdade, agora, pelo visto, vai se dedicar à mentira oficialista

A Comissão da Verdade está assentada numa farsa inicial, que sempre pautou a Comissão de Anistia — daí que alguns poucos milhares de anistiados já tenham tido direito a indenizações e pensões que passam dos R$ 5 bilhões: de um lado da contenda, estariam os heróis; de outro, os bandidos. De um lado, esquerdistas bondosos e românticos querendo democracia; de outro, direitistas raivosos e cínicos defendendo a ditadura. Isso, como tenho escrito há anos, é só má literatura.
“Ah, então era o contrário?” Não! Também não era o contrário. Trata-se de uma história sem heróis, sem bonzinhos. Mas algumas farsas não podem e não devem prosperar. A mais influente, repetida exaustivamente por aí, sustenta que a luta armada foi a opção desesperada daqueles que não viam outro modo de enfrentar o regime que decretara o AI-5. O atentado que vitimou Orlando Lovecchio (ver posts abaixo) prova que não. A ação ocorreu em março, e o ato que consolidaria a ditadura só em dezembro. Alguns grupos já haviam decidido que o caminho para instaurar o socialismo no Brasil era a luta armada antes mesmo do golpe de 1964.
Mais detalhes e video 

O grande aparato repressivo montado no país para enfrentar a esquerda armada matou 424 pessoas — 133 desse grupo são consideradas “desaparecidas”. As esquerdas, em número muito menor dos que as Forças Armadas e as forças policiais, assassinaram pelo menos 120. Sim, eram minoritárias, amadoras, precariamente armadas (na comparação com o estado), mas, como se vê, notavelmente violentas.
Vamos, então, ao que interessa. Ora, para “reparar” os eventuais males que o estado causou aos indivíduos, já existe a Comissão de Anistia. É justo indenizar pessoas (ou seus familiares) que tenham sido comprovadamente prejudicadas pelo regime ou que foram torturadas e mortas? Eu acho que sim! Ocorre que a Comissão de Anistia se transformou num grupo de concessão de privilégios e prebendas com base em critérios puramente ideológicos. E muitos vagabundos e espertalhões já foram injustamente “reparados”… De todo modo, reitero, para cuidar das compensações, já existe essa turma.
Que sentido faz criar uma outra comissão, a “da Verdade”, se não for para contar “a verdade” — ainda que eu repudie, por princípio, grupos estatais que definam a verdade oficial? E isso, está posto, não será feito. Mais uma vez, assistiremos, podem apostar, à construção de uma narrativa que vai se dedicar à hagiografia daqueles santos terroristas, que passarão para a “história oficial” como guerreiros da liberdade. Não! Alguns eram notórios assassinos. E eu vou evidenciar isso de uma forma constrangedora.
Por Reinaldo Azevedo

O filme “Reparação”, do cineasta Daniel Moreno, está no Youtube, na íntegra. Assista quando tiver um tempo. Não se trata, é evidente, da defesa da ditadura, da tortura ou da violência do estado. Ao contrário: o que se tem ali, na voz de todos os entrevistados, é a defesa enfática da democracia. Só que ele optou, à diferença do que se costuma fazer quando se retratam os embates entre as esquerdas e o regime militar, pelo rigor histórico. O fio condutor do debate é a história de Orlando Lovecchio (veja post nesta manhã), que perdeu a perna num atentado praticado pela ALN, de Carlos Marighella. O terrorista foi saudado como herói pela Comissão de Anistia. Bilhões foram concedidos em indenização. Lovecchio recebe um pensão de R$ 500 — um dos que ajudaram a pôr a bomba no Conjunto Nacional, em São Paulo, que o vitimou, é um “anistiado” e recebe pelo menos o triplo.
O filme é sereno, rigoroso, sem proselitismo. Não obstante, foi absolutamente ignorado pela imprensa, como se nunca tivesse existido. O vídeo tem quase uma hora e meia. Veja tão logo possa. Há aí vasto material para reflexão.
Por Reinaldo Azevedo

21/05/2012

Mau começo — Comissão da Verdade inicia trabalho com apoio da Comissão de Anistia

Por Priscilla Mendes, no Portal G1:
O coordenador da Comissão da Verdade, Gilson Dipp, disse nesta segunda-feira (21) que a prioridade inicial do grupo é trabalhar em conjunto com outras duas comissões já existentes e que tratam de crimes cometidos durante a ditadura, as comissões de Anistia e a de Mortos e Desaparecidos.
Dipp conversou com a imprensa após a segunda reunião do colegiado desde que seus sete membros tomaram posse, na quinta-feira (16) passada. A Comissão da Verdade vai apurar violações aos direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
“A própria lei diz que a comissão trabalhará em conjunto com duas comissões previamente constituídas desde 1995 e 2002, que são a Comissão de Anistia e a Comissão de Mortos e Desaparecidos. Esse é o foco inicial para nós iniciarmos nossos trabalhos”, afirmou.
Na reunião desta segunda-feira, o grupo não estava completo. Participaram, além de Dipp, Cláudio Fonteles, Rosa Maria Cardoso da Cunha e José Carlos Dias. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também estava presente. Ficou acertado que o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, iria se reunir à tarde com o colegiado.
“O ministro da Justiça ficou de falar com ele [Paulo Abrão], se ele estaria pronto para nos dar indicativos do que a Comissão da Anistia tem de documentação, de pedidos, enfim, de material disponível”, afirmou Dipp.
“O Ministério da Justiça tem vários órgãos que podem apoiar a Comissão da Verdade. Agora, quando forem os membros da comissão decidir sobre quem presta depoimentos, sobre qual a estratégia de investigação, [a comissão] é absolutamente autônoma e nenhum membro do governo irá participar dessas reuniões”, disse José Eduardo Cardozo.
Na reunião desta segunda-feira, disse Dipp, o grupo definirá a estrutura da comissão (número de salas, computadores, funcionários). O grupo foi instalado no Centro Cultural Banco do Brasil, local que já foi utilizado pela Presidência da República durante a reforma do Palácio do Planalto, entre 2009 e 2010.
(…)
 Trabalhar com a Comissão de Anistia?
A Comissão de Anistia é aquela que decidiu dar R$ 500 de pensão para Orlando Lovechio, que perdeu a perna num atentado praticado pela ALN, de Carlos Marighella, e o triplo para o terrorista que armou a bomba no prédio.
A Comissão de Anistia é aquela que fez uma solenidade em homenagem a Marighella, que definiu, no seu Minimanual da Guerrilha, que matar soldados fardados, só porque fardados, era um ato revolucionário. E que deixou claro que hospitais poderiam ser alvos da ação “revolucionária”.
A Comissão de Anistia é aquela cujo presidente prega abertamente a revisão da Lei da Anistia e deixa claro que crimes da esquerda não podem ser investigados porque os grupos terroristas estariam lutando pela democracia.
Começou bem a Comissão da Verdade, não?
Por Reinaldo Azevedo

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