A repórter Mirella Cunha, do "Brasil Urgente Bahia", da Band, está agora do outro lado do garfo e experimenta um pouco de humilhação pública e pré-julgamento, suas ferramentas de trabalho na TV. A moça vem sendo linchada desde que uma de suas reportagens viralizou no YouTube há duas semanas. No vídeo, a repórter esculhamba um jovem detido sob suspeita de estupro, algemado e servido a execração na delegacia.
A repercussão do caso ganhou novo fôlego depois da carta aberta assinada por jornalistas baianos em repúdio a abusos praticados por programas policialescos, em especial o empregador de Mirella.
O documento vai direito ao ponto: a reportagem "motiva questionamentos sobre a conivência do Estado com repórteres antiéticos, que têm livre acesso a delegacias para violentar os direitos individuais dos presos".
Exato. A reportagem não só joga na vala qualquer noção de ética como afronta princípios constitucionais. Também não é caso isolado. Abusos contra presos desassistidos são a essência de programas do tipo, com patrocínio de agentes públicos. Mirella, a ponta vistosa dessa rede, servirá de boi de piranha, o bicho mandado ao rio para ser devorado, enquanto a manada atravessa em paz.Em comunicado sobre o caso, a Band diz que vai "tomar todas as medidas disciplinares necessárias. A postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora". Está aí a retribuição a quem vestiu tão bem a camisa desse show de horror.
É óbvio que a repórter deve responder pelos abusos, e já está na mira do Ministério Público Federal da Bahia. Mas, em última instância, a Band — mesmo que tente lavar as mãos — é a responsável por essa barbárie. Pena não valer para a emissora a máxima do "Brasil Urgente": "O sistema é bruto e tem consequência".
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