Carros clássicos podem ser investimentos ou dinheiro jogado fora


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Meu interesse em automóveis hoje em dia é bastante básico: eles precisam comportar crianças e cachorros, e não podem ser uma minivan.


Meu interesse em automóveis hoje em dia é bastante básico: eles precisam comportar crianças e cachorros, e não podem ser uma minivan.
Claramente, não sou louco por carros. Todavia, lá estava eu no primeiro fim de semana de junho no Greenwich Concours d'Elegance, em Connecticut, lutando para resistir ao canto da sereia de belos conversíveis, 'muscle cars' e carros conceito. 

Eu não estava ali para comprar. Eu queria saber se eles tinham valor de verdade. Ou, trocando em miúdos, se podiam ser considerados um investimento, item de colecionador, feito arte, ou um escoadouro de dinheiro, feito um iate.
'Cortam meu barato quando perguntam de cara quanto vale esta coisa', contou Ralph Marano, negociante de carros e colecionador de Westfield, Nova Jersey. 'Não é o preço, é o amor pelos automóveis.'
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Esse amor o levou a comprar 85 veículos clássicos; 70 dos quais, segundo ele, são únicos ou, ao menos, o último que sobrou. Não duvidei que sua coleção fosse valiosa, mas também era idiossincrática: 48 dos carros são Packards, do primeiro modelo de fibra de vidro a uma perua.
Como com qualquer outra coisa, modelos raros como o Packard Panther de 1954 que Marano inscreveu no Greenwich Concours não perderão o valor. Segundo o dono, era um quatro únicos produzidos. Contudo, existem montes de automóveis clássicos que são apenas velhos.
Wayne Carini, restaurador de veículos clássicos e apresentador do programa de televisão 'Chasing Classic Cars', do Velocity Channel, afirmou que o entusiasmo dos novos colecionadores precisa ser definido se quiserem ver a coleção ser apreciada.
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'Nós buscamos guiá-los na direção da qualidade e não da quantidade', disse Carini. 'Para investimento, desejamos refinar uma coleção para que, primeiro, eles fiquem felizes e, segundo, tenham um ótimo investimento. Detestamos ver as pessoas comprando um monte de carros sem valor que não fazem sentido.'
Esses 'carros sem valor' costumavam ser produzidos em grande escala, mas também podem estar saindo de moda. Sedãs das décadas de 1920 e 30, com estilo 'art déco' e linhas elegantes, estão perdendo valor, pois as pessoas que se lembram de ter andado neles estão morrendo. (Para ele, os conversíveis são uma exceção.)
De acordo com Carini, hoje em dia, o mercado de luxo agita o segmento. Uma marca muito procurada é a Ferrari. (Esqueça Camaros e Corvettes se deseja ganhar dinheiro de verdade.)
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No leilão de Greenwich Concours, uma Ferrari 275 GTB de 1965 foi vendida por US$ 1,25 milhão, recorde para um automóvel vendido na Nova Inglaterra, assegurou a Bonhams, empresa leiloeira. Já uma Ferrari 365 GTB de 1973 que pertenceu ao roqueiro Rod Stewart não alcançou o valor estimado, mas saiu por US$ 330 mil, incluindo a comissão do leiloeiro.
'Sempre digo aos colecionadores que se você não curtir mais sair para passear com o carro, se não olha para o carro após estacioná-lo, o amor acabou', afirmou Carini. 'É hora de vender.'
Muitos colecionadores são atraídos pelas lembranças de um automóvel que já possuíram ou desejaram. 'Nosso mercado se resume à nostalgia', disse Rupert Banner, chefe do departamento de automóveis da Bonhams, leiloeiros com escritórios em Nova York. Segundo ele, para os vendedores, a conjuntura atual pode ser boa. 'Em momentos conturbados, as pessoas olham mais para trás do que para frente.'
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Porém, é difícil saber como tal anseio afeta o valor. Banner disse que exibir um carro num evento como o Greenwich Concours não aumenta necessariamente seu valor. Já o que pode ajudar é saber que o automóvel estava em boas condições, sendo destacado pelos juízes e levando um prêmio. (O Packard de Marano foi considerado o melhor entre os veículos norte-americanos.)
Ainda segundo Banner, a maioria dos carros clássicos tem tido um aumento constante de valor e a grande quantidade de informação disponível sobre cada modelo torna o preço bastante consistente. Somente sendo excepcional o automóvel excederá o preço de similares.
Ano passado, no leilão anual de carros clássicos em Scottsdale, Arizona, uma Mercedes-Benz 300 SL Gullwing de 1955 foi arrematada por US$ 4,2 milhões (US$ 4,62 milhões com a comissão do leiloeiro). O veículo chegou a esse preço tão alto por ser um dos únicos 29 feitos com chassi de alumínio.
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Assim que se compra um desses carros, os custos começam a crescer. Para muitos investidores interessados numa pechincha, a restauração é um custo grande. Curt Ziegler, consultor de investimentos de Denver, contou ter comprado uma 300 SL Gullwing, de 1956, em 2006, por US$ 500 mil. Segundo ele, o proprietário anterior fizera uma restauração completa. Agora, essa restauração custaria entre US$ 450 mil e US$ 500 mil.
Depois, vem o seguro. De acordo com Jim Fiske, gerente de marketing para os Estados Unidos da Chubb Personal Insurance, carros clássicos são um bem que as pessoas geralmente asseguram pelo valor que consideram justo, sem fugir do racional.
'Se eu compro um carro de US$ 500 mil e gasto outros US$ 400 mil para restaurá-lo, então faremos um seguro de US$ 900 mil. É claro que se vierem com uma Kombi 1979 e pedirem um seguro de US$ 250 mil, nós vamos questionar, pois ela só vale entre US$ 10 mil e US$ 15 mil e não haveria como gastar tanto para recuperá-la.'
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Colecionar nesse nível também é intensamente social, algo que deixa tudo ainda mais caro. Segundo Marano, ele gostaria de ir ao Concours d'Elegance de Pebble Beach, Califórnia, todo ano, mas gastaria pelo menos US$ 12 mil para enviar um veículo à exposição; isso se nada desse errado.
Ziegler, recém-chegado de um salão em Mônaco, disse que a pilotagem e a mera condução desses automóveis não deixavam que fossem tratados como itens comuns de colecionador.
Caso estejam sendo conduzidos, eles também pagam imposto mais alto na hora de serem vendidos, não a taxa de coleção de uma obra de arte. Porém, o grande problema é quanto vale uma coleção, em termos de seguro e planejamento do espólio. 'Você ficaria chocado ao saber de pessoas que possuíram esses carros por dez anos, fizeram apólices muito baixas e desconhecem seu valor', afirmou Ziegler.
E, depois, é preciso decidir o que fazer com eles. O marido de Nancy LeMay, Harold, possuía mais de 3.300 carros quando morreu, em 2000. (Após uma seleção, a quantidade ficou em torno de 1.500.) Ela contou que o casal abriu um museu, em 1998, pois precisavam decidir o destino de tantos automóveis. 'Se os dividíssemos, cada um de nossos filhos ficaria com 500, um absurdo.'
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Porém, foram necessários 12 anos e US$ 65 milhões em doações para criar o Museu do Carro LeMay-America, que foi inaugurado neste mês em Tacoma, Washington. David Madeira, principal executivo e presidente do museu, estimou que a coleção LeMay valesse US$ 100 milhões hoje em dia e contou que 770 automóveis seriam destinados à instituição. Ainda falta decidir o destino de centenas de veículos.
Embora o fato certamente demonstre o potencial do investimento em carros, ele também mostra o grande ponto negativo das coleções: o que fazer com elas depois que você morrer?
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