ELEIÇÃO 2014: Não é só a disputa presidencial, não. Pleitos estaduais trarão também muita emoção
A tendência inexorável de que, no regime presidencialista, a escolha da figura imperial do presidente da República predomine sobre todas as demais em ano eleitoral é um fato.
Mas 2014 trará muitas emoções eleitorais, além, naturalmente, da disputa pelo Palácio do Planalto, envolvendo principalmente a presidente Dilma Rousseff, pelo PT e aliados, o senador Aécio Neves (PSDB, DEM e um ou outro partido ainda em negociação política) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que disputará o cargo tendo a ex-senadora Marina Silva de vice pelo PSB.
Confiram os sete casos abaixo:
A BATALHA PELO GOVERNO DE SÃO PAULO
A mais importante disputa estadual se dará pelo governo de São Paulo, Estado que concentra 22% da população e do eleitorado brasileiros.
Lula considera essa batalha quase tão importante quanto a que Dilma travará com Aécio Neves: desalojar os tucanos de um posto que ocupam, pelo voto, há quase 20 anos.
O governador tucano Geraldo Alckmin, bom de voto nas duas vitórias muito folgadas que já obteve pelo Palácio dos Bandeirantes — em 2002 e em 2010 (sua primeira passagem pelo cargo, entre 2001 e 2003, foi como vice que assumiu com a morte do governador Mário Covas) –, perdeu feio, no entanto, a disputa pela Prefeitura da capital em 2008, quando o então prefeito José Serra, também do PSDB, apoiou seu vice, Gilberto Kassab (DEM), que venceu a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) no segundo turno.
Este ano, Alckmin não só enfrentará todo o peso do governo federal colocado na candidatura do até recentemente desconhecido ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha como terá o ex-prefeito Kassab, agora pelo PSD, e o presidente da Federação das Indústrias, Paulo Skaf, pelo PMDB, pescando em suas águas eleitorais.
SERÁ MESMO O OCASO DE SARNEY?
Na política há 59 anos — começou como suplente de deputado federal que assumiu o mandato em 1955 — e um dos homens mais poderosos do país há décadas, o senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), 84 anos, prometeu deixar a atividade pública no final de seu mandato, em fevereiro do próximo ano, e está trabalhando para eleger o neto, Adriano Sarney, filho do deputado federal Sarney
Filho, deputado estadual pelo PV do Maranhão. Sarney jura que suas pretensões agora limitam-se a eleger o neto e tornar-se presidente da Academia Brasileira de Letras. A saída do Congresso, porém, não impedirá que suas influências políticas tentaculares — que vão de ministérios a cargos em bancos estatais e agências reguladoras e até na CBF — prossigam.
Como já escreveu Roberto Pompeu de Toledo, não estamos nem estivemos em uma “era Lula” — a verdadeira era vivida ainda hoje pelo Brasil é a era Sarney. Ou alguém tem dúvida de que o veterano cacique continuará dando as cartas no PMDB e, portanto, tendo peso específico fundamental na vida política do país?
FERNANDO COLLOR CONSEGUIRÁ MANTER-SE NO SENADO POR MAIS 8 ANOS?
Sua impressionante ascensão até a Presidência da República, em 1989, só foi proporcional em impacto à sua queda espetacular, renunciando para não ser objeto de impeachment por acusações de corrupção.
Depois da queda, em 1992, Fernando Collor fez uma tentativa canhestra de candidatar-se à Prefeitura de São Paulo e perdeu em 2002 uma disputa pelo Estado de Alagoas, que governara de 1987 a 1989.
Elegeu-se em 2006 em uma disputa muito apertada contra o mesmo adversário que o derrotara em 2002, o então ex-governador Ronaldo Lessa (PSB), contra o qual fez uma campanha não isenta de ataques pessoais e baixarias. Caminhando para os 65 anos de idade, uma derrota agora o alijará da política por um longo período e poderá significar seu fim de carreira.
FIM DE LINHA PARA UMA GRANDE REFERÊNCIA MORAL
Não apenas por estar com 84 anos, como Sarney, mas por desencanto com o andar das coisas no Brasil, deixará o Senado e a vida pública um político que tem sido uma referência moral no Congresso — o senadorPedro Simon (PMDB-RS), com seus discursos emocionais e voz trovejante.
Eterno dissidente da fisiologia que tomou conta de seu partido, Simon começou a carreira como vereador em Caxias do Sul pelo antigo PTB, em 1958, elegendo-se em 1962 deputado estadual e, a partir da extinção dos antigos partidos pela ditadura, em 1965, jamais afastou-se do MDB e, depois, do PMDB. Foi ministro da Agricultura (1985-1986), governador do Rio Grande do Sul (1987-1990) e líder do governo do presidente Itamar Franco no Senado.
EX-BRAÇO DIREITO JOGA PRESTÍGIO DE DILMA NO PARANÁ
Senadora com ainda quatro anos de mandato pela frente (PT-PR), Gleisi Hoffman deixou a Casa Civil da Presidência, onde era a mais importante auxiliar da presidente Dilma Rousseff, para enfrentar uma parada difícil que é disputar o governo de seu Estado com a poderosa máquina montada pelo governador tucano José Richa.
Mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (ex-ministro do Planejamento de Lula), não tem como uma derrota de Gleisi não significar um baque para a presidente Dilma, mesmo se reeleita.
CABRAL TENTA FAZER O SUCESSOR E, COM PRESTÍGIO EM BAIXA, QUER O SENADO
Eleito e reeleito governador do Rio de Janeiro com certa facilidade em 2006 e 2010, quando, em aliança com o PT de Lula, surfou na popularidade do ex-presidente, o governador Sérgio Cabraldespencou nas profundezas do inferno em matéria de popularidade com as manifestações de protesto de 2013 no Rio.
Teve sua residência particular acossada por baderneiros, viu sua família sofrer constrangimentos e agora, com o ibope baixíssimo, dedica-se a uma dupla tarefa hercúlea: eleger-se senador e ajudar o vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, a sucedê-lo no Palácio Guanabara, após a ruptura de oito anos de alianças com o PT, por obra e graça da insistência (legítima) do senador Lindbergh Farias em concorrer ao cargo.
O ENIGMA DE SEMPRE, SERRA NÃO QUER O SENADO E NÃO SE SABE SE AJUDARÁ AÉCIO
Será interessante, no correr do ano, observar as ações do duas vezes ex-presidenciável José Serra. Depois de, amuado, desistir de sua pretensão ao Palácio do Planalto pelas redes sociais — nem entrevista concedeu sobre o tema –, muita gente no PSDB esperava que Serra, ainda com bom cacife, disputasse o Senado e tentasse arrebatar o posto ocupado há 24 longos anos pelo senador Eduardo Suplicy (PT).
Serra, porém, segundo tudo indica, concorrerá à Câmara dos Deputados, e sua votação poderá aumentar a bancada tucana paulista. Aos 72 anos de idade, um mandato de quatro anos tem a vantagem adicional de deixa-lo mirar, como uma espécie de prêmio de consolação eleitoral, a batalha pelo governo de São Paulo em 2018.
O mais interessante será observar seu comportamento na campanha de Aécio Neves, a quem os serristas acusam de ter “traído” o candidato na eleição de 2010, quando, apesar de vencer as eleições para o Senado e fazer com facilidade seu sucessor, o hoje presidenciável tucano não impediu uma estrepitosa vitória de Dilma em Minas Gerais.
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