Brasil 24.11.15 12:56
Eis a íntegra do
trecho do depoimento em que o delator Fernando Baiano conta em detalhes como se
deu a contratação da Schahin pela Petrobras, para operar o navio-sonda Vitória
10.000 e a influência de Lula no negócio.
Vale a pena ler até o
final:
"que, em relação
ao tema, no final de 2006, não se recordando o mês exatamente, o depoente teve
uma conversa com José Carlos Bumlai, na qual ele veio conversar com o depoente;
(...) que Bumlai queria consultar o depoente se poderia ajudá-lo em uma
pendência que existia entre ele o grupo Schahin; que questionado sobre qual era
tal pendência, segundo o relato de Bumlai, consistia em obter um contrato de
construção e aluguel de uma ou duas sondas em favor da Schahin junto à área de
Exploração e Produção da Petrobrás; que Bumlai, há aproximadamente dois anos,
buscava viabilizar tal projeto, mas sem êxito; (...) que Bumlai explicou que
esta pendência se devia a um empréstimo que o Partido dos Trabalhadores havia
contraído junto ao Banco Schahin e que Bumlai constava como avalista deste
empréstimo; que então Bumlai queria a ajuda do depoente para favorecer o grupo
Schahin na obtenção destes contratos com a Petrobras; que, em outras palavras,
o contrato com a Petrobras seria uma forma de ressarcir o empréstimo feito ao
Banco Schahin; que o empréstimo com o Banco Schahin não seria pago pelo Partido
dos Trabalhadores e a forma de compensar seria o Grupo Schahin obter os
contratos de sondas junto à área de Exploração e Produção da Petrobras; (...)
que questionado ao depoente por qual motivo o Partido dos Trabalhadores fez um
empréstimo no Banco Schahin, o depoente ouviu do próprio Bumlai que tal
empréstimo tinha por finalidade quitar dívidas contraídas pelo Partido na
campanha presidencial de 2002; (...) que questionado por qual motivo Bumlai
teria sido o fiador do empréstimo para o Partido dos Trabalhadores, o depoente
respondeu que Bumlai tinha uma relação de amizade muito forte com o ex-Presidente
Lula; que o depoente nesta época não tinha muita amizade com Bumlai, relação
que se fortaleceu apenas após tais fatos, mas ouviu de terceiros que Bumlai e
Lula eram muito próximos; que inclusive presenciou Bumlai atendendo e fazendo
ligações telefônicas para o então Presidente Lula e o grau de intimidade nas
conversas era realmente muito grande; que Bumlai procurou o depoente pedindo
sua ajuda exatamente na mesma época em que estava negociando a aquisição do
Segundo navio sonda construído pela Samsung (Vitória 10.000); que o depoente
disse a Bumlai que não poderia ajudá-lo na Diretoria de Exploração e Produção,
pois não tinha nenhuma relação com qualquer funcionário da área; que, no
entanto, comentou com Bumlai que havia esta negociação em curso, na Diretoria
Internacional, e que inclusive a Petrobras não tinha ainda um sócio escolhido
para este empreendimento, pois a Petrobras não queria mais a Mitsui como sócia;
que disse a Bumlai que o depoente precisaria conversar com Nestor Cerveró e com
Luis Carlos Moreira para verificar a possibilidade de trazer a Schahin como
sócia no empreendimento Vitoria 10.000; que, então, ainda em 2006, o depoente
conversou com Nestor Cerveró e com Luis Moreira na Petrobras sobre isto,
oportunidade em que o depoente colocou claramente a situação, exatamente como
havia sido relatado por Bumlai, assim como esclareceu quem ele era; que,
inclusive, mencionou a proximidade de Bumlai com o então presidente Lula e até
mesmo com o próprio Delcídio do Amaral; que Bumlai era próximo de Delcídio pois
Bumlai é um dos maiores fazendeiros e empresários do Mato Grosso do Sul; que
Bumlai conheceu Delcídio quando este saiu da Petrobrás e foi ser Secretário de
Estado do Governo do Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul; que Nestor Cerveró
disse que não via nenhum problema, desde que se comprovasse a capacidade
econômica, financeira e técnica da Schahin; QUE Cerveró pediu também a Moreira
que fizesse uma avaliação para analisar justamente esta capacidade da Schahin;
que assim que houvesse tal avaliação, seria marcada uma reunião com o pessoal
da Schahin para discutir tal possibilidade; que o depoente deu retorno para
Bumlai e pediu para que ele já conversasse com o pessoal da Schahin; que ficou
combinado com Bumlai que assim que houvesse um 'de acordo' de Nestor Cerveró
seria marcada uma reunião com o grupo Schahin; que houve, inclusive, uma
reunião entre Bumlai, Cerveró e o depoente na Petrobras, para tratar deste tema
e no qual o depoente apresentou Bumlai a Cerveró para que se conhecessem e para
que Cerveró escutasse do próprio Bumlai o que o depoente havia lhe relatado;
que alguns dias depois Nestor Cerveró deu o OK para que a reunião fosse
agendada, o que realmente ocorreu; que nesta primeira reunião vieram os dois
irmãos, Milton e Salim Schahin, além de outra pessoa, que não se recorda se
Sandro Tardim, que era o presidente do Banco Schahin na época, ou se Fernando
Schahin, filho de um dos dois irmãos; que esta reunião foi em 2006; que nesta
reunião foi tratado sobre como compatibilizar os interesses da Petrobras e do
grupo Schahin; que em um primeiro momento a Petrobras demonstrou um certo
receio em colocar a Schahin como sócia, em razão do tamanho do empreendimento;
que a Schahin estava negociando, na área de Exploração e Produção, sondas de
águas rasas, de valores entre US$ 100 a 150 milhões de dólares, enquanto a
sonda Vitória 10.000 era um equipamento de altíssima tecnologia, para águas
profundas e de um valor considerável, aproximadamente US$ 600 milhões de
dólares; (...) que, no entanto, a Schahin acabou sendo contratada para ser a
operadora do Vitoria 10.000; que, porém, esta aprovação da Schahin como
operadora também teve diversos obstáculos, pois a questão foi levada por três
vezes para análise da Diretoria Executiva e somente na terceira vez é que foi
aprovada; que a questão foi levada por três vezes em um ínterim de no máximo
seis meses; que quem levou sempre a proposta para a Diretoria Executiva foi
Eduardo Musa; que em cada assunto se escolhia um técnico da área para
apresentar a questão à Diretoria Executiva e nesse caso, o técnico escolhido
foi Musa; que nas duas primeira vezes, a Diretoria Executiva não aprovou,
tirando de pauta, e solicitando explicações técnicas suplementares; que diante
das dificuldades que enfrentaram para colocar a Schahin o negócio, o depoente
sempre comentava com Bumlai que talvez precisasse do apoio político dele e que
fosse conversado com Gabrielli, para que conversasse com os demais diretores;
que nas duas primeiras vezes o depoente não chegou a cobrar de Bumlai quem
seriam os interlocutores dele; que na terceira vez, porém, o depoente
pressionou Bumlai para que ele acionasse os contatos dele, em especial
Gabrielli e o Presidente Lula; que Bumlai respondeu que o depoente poderia
ficar tranquilo pois iria acionar Gabrielli e o 'Barba', que era como Bumlai se
referia ao Presidente Lula; que Bumlai disse ao depoente que, assim que
tivessem feitos os contatos, iria avisá-lo para que a questão fosse colocada em
pauta; que Bumlai posteriormente avisou o depoente que tudo estava certo e que
poderia levar a questão à Diretoria Executiva, pois seria aprovada; que Bumlai
não citou nomes, mas afirmou que tinha conversado com as “pessoas”; que nesta
conversa, ao contrário da anterior, Bumlai não mencionou quem seriam tais
pessoas; que, então, o depoente avisou Musa; que Musa então levou à questão à
Diretoria Executiva e realmente foi aprovado o grupo Schahin como operador do
navio sonda Vitória 10.000; (...) que, porém, em determinado momento, por volta
novembro/dezembro de 2006, o depoente foi procurado por Jorge Luz, antigo
lobista da Petrobras, que disse que soube da negociação que o depoente estava
fazendo com o grupo Schahin; que Jorge Luz questionou se poderia ajudar o
depoente na negociação da comissão com o Grupo Schahin; que o depoente
respondeu a Jorge Luz que não existia negociação de comissão no caso, porque o
Grupo Schahin tinha vindo, em atendimento a uma solicitação do Partido dos
Trabalhadores; que Jorge Luz disse que tinha uma relação antiga e forte com o
grupo Schahin e que ele teria condição de obter uma comissão para o grupo; que
questionado quem seria o grupo, respondeu que incluiria o depoente, Nestor
Cerveró, Luis Carlos Moreira, Cezar Tavares e Eduardo Musa; (...) que
posteriormente Jorge Luz trouxe Fernando Schahin e o Sandro Tordin para
conversar com o depoente e com Jorge Luz; que questionado onde ocorreu esta
reunião, afirmou não se recordar, mas acredita que foi em algum restaurante;
que nesta reunião Jorge Luz disse ao depoente, na frente deles, que já havia
conversado e acertado o pagamento de uma comissão, pela Schahin, para o grupo;
que a comissão seria em torno de três a quatro milhões de dólares; que tais
valores seriam pagos a Jorge Luz, que se encarregaria de repassar ao depoente;
que questionado sobre a reunião ocorrida em 20 de dezembro de 2006, ocorrida na
Petrobras, com a presença de Cerveró, Jorge Luz, o depoente e Sandro Tardin, o
depoente afirma que tal reunião era para tratar não das comissões mas ainda
sobre a participação do grupo Schahin como sócia do empreendimento; que em
relação à comissão, houve um ou dois pagamentos do Grupo Schahin para Jorge
Luz; que Jorge Luz dizia que havia recebido e comentava com o depoente, dizendo
que tinham um crédito com ele; que, porém, o grupo Schahin começou a atrasar os
pagamentos e Jorge Luz disse que não estava mais sendo pago; que questionado se
o restante do grupo sabia sobre este acerto, respondeu que sim; que Jorge Luz
não repassou tais valores ao depoente e nem a ninguém do grupo, ao que saiba;
(...) que Bumlai ficou muito grato com o depoente em razão de sua atuação neste
caso do grupo Schahin, pois o depoente resolveu um problema para Bumlai; que
Bumlai, uma ou duas vezes, disse na frente do filho dele que foi o depoente
quem teria resolvido um problema familiar de Bumlai, pois o Banco Schahin
ficava ameaçando tomar fazendas de Bumlai que teriam sido dadas em garantia no
empréstimo para o Partido dos Trabalhadores; (...)"
Valério falou a verdade
Como O Antagonista revelou no post anterior, a Receita Federal quebrou o sigilo das empresas de Ronan Maria Pinto e encontrou indícios de que parte do empréstimo de R$ 12 milhões, obtido por José Carlos Bumlai no Banco Schahin, a pedido do PT, foi "direcionada a Ronan Maria Pinto para aquisição de ações da empresa Diário do Grande ABC".
A análise da Receita sugere uma simulação de empréstimos, expediente também utilizado por Bumlai.
Aos poucos, a Lava Jato está confirmando tudo o que o publicitário Marcos Valério disse em 2012. Depois de condenado, ele tentou firmar uma delação premiada, que não foi aceita pelo MPF. Valério também disse na ocasião que o grupo Schahin foi compensado pelo empréstimo com contratos de operação de sondas na Petrobras, o que acaba de ser comprovado pela Operação Passe Livre.
No ano passado, a PF encontrou na Arbor Contábil, de Meire Pozza, a contadora do doleiro Alberto Youssef, um contrato de R$ 6 milhões da empresa 2S Participações, de Valério, com a Expresso Nova Santo André, de Ronan, investigado na morte de Celso Daniel, e a Remar Agenciamento, de Enivaldo Quadrado. O documento estava num envelope intitulado "Enivaldo confidencial"
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