O resultado do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff dependerá ou será fortemente influenciado por quatro fatores
por Antônio
Augusto de Queiroz*
Salvo decisão judicial que o suspenda, o
resultado do processo de impeachment contra a presidente Dilma, cujo pedido e
abertura fazem parte de um acerto de contas, dependerá ou será fortemente
influenciado por quatro fatores:
a) o comportamento do PMDB;
b) a mobilização das ruas;
c) a reação dos mercados; e
d) a eventual revelação de algo, no
âmbito da Operação Lava Jato, que coloque em dúvida a conduta ético-moral da
presidente.
Na fotografia do momento, a presidente da
República conta com apoio e voto suficiente para barrá-lo na Câmara e, com
muito mais folga, no Senado. Mas o tempo é um fator determinante. Quanto mais
demorar, maior a possibilidade de que as variáveis citadas possam interferir ou
influenciar em desfavor da presidente.
Dos quatro fatores, o governo não controla
diretamente nenhum. E um deles está umbilicalmente relacionado ao principal
pilar de sustentação da presidente, que é sua integridade ético-moral.
Este,
aliás, é o que tem polarizado o debate com o presidente da Câmara, que deu
seguimento ao processo de impeachment, curiosamente
no momento em que o Congresso votava a meta fiscal, que esvaziaria a
fundamentação técnica do pedido, e logo após os deputados do PT no Conselho de
Ética terem tomado a decisão de votar a favor da abertura do processo de
cassação do presidente da Câmara.
O primeiro fator está relacionado com o
comportamento do PMDB, especialmente dos setores mais próximos ao
vice-presidente Michel Temer. Eventual movimentação, ainda que nos bastidores,
de pessoas vinculadas ao partido na defesa do impeachment poderá atrair o apoio de atores
políticos, econômicos e sociais, que se movem menos por lealdade e mais por
perspectiva de poder.
O segundo fator tem a ver com a adesão às
manifestações de rua. Grandes manifestações em favor do impeachment ou o fiasco de mobilizações dos
adversários do impeachment terão o mesmo significado, ou seja, fortalecer a
tese do afastamento da presidente da República.
O terceiro fator diz respeito à reação do
mercado. O diagnóstico deles é de que a simples abertura do processo os
favorece, seja porque a presidente ficará mais dependente da agenda neoliberal,
seja porque a eventual substituição poderia facilitar a implementação da agenda
“Ponte para o Futuro”, do PMDB, cujo receituário é igualmente neoliberal.
Por
enquanto a postura tem sido de certo equilíbrio, sem maiores euforias com a
perspectiva de afastamento.
O quarto fator, talvez o menos provável,
seria a descoberta de eventual envolvimento da presidente Dilma em decisões
relacionadas aos assuntos ou pessoas objeto de investigação no âmbito da
Operação Lava Jato.
Por exemplo, a confirmação da suposta declaração do senador
Delcídio de que ela o teria consultado sobre a nomeação de Nestor Cerveró ou
que tivesse conhecimento das irregularidades na compra de Pasadena, refinaria
adquirida pela Petrobras nos EUA com preço superfaturado.
Uma descoberta dessa ordem colocaria em xeque
todo a estratégia de defesa da presidente, na medida em que seu principal
argumento contra o impeachment, além da
negociação da existência de crime de responsabilidade, é de que, diferentemente
do seu algoz, tem uma condução ilibada.
Esses, em minha modesta visão, são os fatores
que irão determinar o desfecho do processo.
Nesse particular, o tempo é um
fator fundamental, porque quanto mais demorar a solução do problema, mais risco
existe de que as pessoas percam a paciência, especialmente as que estão
sofrendo as consequências da crise, simbolizadas pelo desemprego, pela
inflação, pelos juros altos e pela carestia.
*Antônio Augusto
de Queiroz é analista político e pesquisador — reconhecido como um dos
pesquisadores com a maior quantidade de dados sobre as opiniões dos
parlamentares brasileiros
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