Ficam para memória futura muitas das conversas
que tive com António Augusto Martins Pereira, criador do automóvel português
Alba.
Pelo Carnaval de 2009, em Albergaria-a-Velha,
voltámos a encontrar-nos e fomos até ao carismático Café Napoleão à conversa sobre
o quarto Alba, mais uma obra de Francisco Côrte-Real Pereira com motor Alfa
Romeo de seis cilindros originário do 6C dos anos trinta.
Francisco Côrte-Real Pereira Piloto e Construtor
Este
carro foi construído pelo Côrte-Real?
Foi, pouco participei na construção, mas vi a
carroçaria a ser feita.
Diferente
da do OT e do TN?
Quase igual à segunda versão do TN que ele fez
diferente do meu, muito ao estilo de um Maserati descapotável que havia na
altura (Maserati A6GCS-53 Convertible de 1953).
Isso
foi em que ano?
Acho que foi em 1955 (Côrte-Real Pereira acabou o
carro em Julho e fez a primeira prova em Agosto de 1955, na Régua, no Rali
Vinho do Porto).
Além do
Côrte-Real, também o Carlos Miranda electricista pilotou o carro?
Acho que sim. Era muito amigo dele e como o Chico
teve uma doença qualquer na altura, foi o Miranda que pilotou, mas aquilo
correu mal e bateu com o carro.
O carro era vermelho,
ao contrário dos outros?
Era.
Sabe
porquê?
Tanto ele como eu sempre gostámos da Alfa Romeo e
ele tinha aquele motor há muito tempo guardado e que pôs no carro. A dada
altura até pensámos nesse motor para o OT. Como vermelho é cor de Alfa Romeo
deve ter sido por isso.
O Motor Alfa Romeo do Alba Romeo no Circuito da Boavista (Foto Pedro Cruz)
Então era um Alba Romeo?
Era.
Motor Alfa Romeo seis cilindros?
Sim de origem era um 1750, mas ele alterou-o para 1500. Francisco Côrte-Real
Pereira surge com o LA-11-18 na segunda Volta ao Minho no mês de Setembro de
1955, pintado de vermelho, com o motor seis cilindros da Alfa Romeo, vidro
duplo à inglesa, prova onde estiveram pela primeira vez três Albas.
Na
Volta ao Minho estiveram três Albas?
Sim. Eu no OT fiquei em terceiro lugar porque
passei a prova toda a agarrar a porta, que não fechava, com uma mão e a
conduzir com a outra, e o Chico (no Alba LA–11-18) ficou em segundo na
categoria até 1500cc.
E
o TN?
Acho que era o Baltasar Vilarinho. Não me lembro
(Baltasar Vilarinho no TN ainda amarelo ficou em segundo lugar na classe até
1100 cc).
Nunca
conduziu o “Alba Romeo”?
Não me lembro se cheguei a dar uma volta, mas o
Chico inscreveu-me como piloto suplente desse carro no Porto (III Taça Cidade
do Porto de 1955).
Este automóvel foi inscrito na III Taça Cidade do
Porto, em 1955, como marca Alba, matrícula LA-11-18, com o número de Chassis
101014915 e com a cilindrada de 1498cc.
O
Côrte-Real Pereira teve um grande acidente com esse carro, não foi?
Teve, no Porto. Não lembro o ano, mas o carro
ficou bastante danificado.
Então
o LA-11-18 nunca ganhou nada?
Acho que não ganhou nada de importante senão
lembrava-me. O Alba Romeo ganhou uma prova de arranque no Rali Rainha Santa de
1956, que não contava para a classificação.
Em 1956, Côrte-Real Pereira, por altura do
Circuito da Boavista, inscreve-se com o Alba LA com motor Alfa Romeo na IV Taça
Cidade do Porto, que havia vencido de forma inequívoca, em 1953, ao volante do
OT e despista-se ao voltar da meia laranja do castelo em direcção à Avenida da
Boavista. Ao falhar uma mudança, embate de forma violenta nos fardos de palha e
é projectado para o chão ficando debaixo do carro. Desmaiou, foi ao hospital,
mas recuperou a tempo de assistir ao resto da prova não tendo sofrido
consequências físicas de maior. Nessa prova, o LA ainda fez várias voltas sendo
a melhor à média de 124,13 km/h.
O ano de 1957 foi sabático para Côrte-Real
Pereira, que apenas surgiu novamente com o seu Alba Romeo em 1958, em Vila
Real, com a carroçaria reparada e o conhecido motor Alfa Romeo de seis
cilindros proveniente do 6C, com modificações da sua autoria, resultando em
1498cc de cilindrada e duas árvores de cames à cabeça. Segundo o meu amigo
Manuel Dinis, a torre do tombo das corridas de Vila Real, nas voltas que fez,
teve o pior tempo dos automóveis que participaram à média de 102,76 km/h. Foi o
canto do cisne para o Alba Romeo LA-11-18, pois Côrte-Real Pereira, desiludido
com as prestações do automóvel e os vários problemas surgidos nas provas, terá
desmantelado o Alba na Branca e, após adquirir o TN a Baltasar Vilarinho, aproveita o chassis deste e
aplica-lhe a carroçaria do LA reparada (ou terá construído uma igual)
originando a configuração que o TN-10-82 tem hoje.
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