Ex-presidente dos EUA é contra a ideia de maior controle sobre a distribuição de armas no país
Por Agência O Globo |27/05/2022 20:30
Trump é contra a ideia de
maior controle de armas nos Estados Unidos
Discursando em uma convenção
do maior lobby pró-armas dos EUA, o ex-presidente Donald Trump rejeitou a ideia de que um maior
controle sobre armas impediria episódios como o massacre em uma escola de
Uvalde, quando 19 alunos e 2 professoras foram mortos há três dias, afirmando
que mais cidadãos deveriam se armar justamente por causa da existência do
"mal".
“A existência do mal em nosso
mundo não é motivo para desarmar cidadãos que cumprem a lei”, disse Trump a
membros da Associação Nacional do Rifle (NRA). “A existência do mal é uma das
melhores razões para armar cidadãos cumpridores da lei.”
O ex-presidente também
afirmou que é necessária uma mudança na abordagem dos EUA a questões de saúde
mental, além de uma reforma na segurança nas escolas.
Por ordem do Serviço Secreto,
responsável pela segurança de presidentes e de ex-presidentes, a plateia presente
no evento precisou deixar suas armas do lado de fora da sala.
Muito aplaudido, Trump abriu
seu discurso ironizando quem não apareceu no evento, em uma aparente indireta
ao governador do Texas, o também republicano Greg Abbott, que optou por
permanecer na cidade de Uvalde. Outras pessoas que também estavam confirmadas
também cancelaram a ida após o massacre desta semana.
O ex-presidente também chamou
o ocorrido na escola primária em Uvalde de uma "atrocidade selvagem e
bárbara", pedindo um momento de silêncio da plateia em homenagem às
vítimas, enquanto lio o nome de cada uma delas.
Com expectativa de receber 80
mil pessoas, a reunião da NRA é considerada o maior evento armamentista dos
EUA, e este ano, além do grande público e da extensa coleção de armas à vista,
também é alvo de protestos do lado de fora do salão de convenções em Houston. A
segurança nas ruas da maior cidade do Texas foi reforçada, e por enquanto não
há relatos de incidentes mais sérios.
Apesar das muitas
divergências internas e problemas legais, a associação segue como um dos
principais bastiões do conservadorismo nos EUA, e que tem no direito à
autodefesa e ao porte de armas pela população, regido pela Segunda Emenda à
Constituição, seu pilar central.
Criada no século XIX, a NRA
tem cinco milhões de membros (segundo números próprios), incluindo
representantes de destaque: entre eles, atores como Tom Selleck e Chuck Norris,
a apresentadora e atriz Whoopi Goldberg e o vocalista do Metallica, James
Hetfield.
Mas é no meio político que a
NRA desempenha seu papel mais importante e quase sempre discreto. Atuando como
defensora da indústria das armas, a organização despeja milhões de dólares nos
processos eleitorais, apoiando candidatos na expectativa de vetos a restrições
ao acesso a revólveres, pistolas e fuzis de assalto, como os usados em Uvalde.
De acordo com o site Open
Secrets, a NRA gastou, nas eleições de 2020, US$ 12 milhões em anúncios contra
o então candidato democrata à Presidência, Joe Biden, visto como uma ameaça por
defender medidas para controlar quem pode adquirir armas, e quais equipamentos
podem ser comprados nas lojas. Outros US$ 4,5 milhões foram diretamente para a
campanha de reeleição de Trump.
Os valores foram menores do
que os de 2016, quando o republicano derrotou a democrata Hillary Clinton:
segundo estimativas, o total pode ter chegado a US$ 70 milhões. A NRA financiou
ainda campanhas de outros aliados de Trump, como Abott, o governador do Texas,
e o senador Ted Cruz — ambos se opõem a controles no acesso às armas.
Cruz, que em 2016 concorreu
nas primárias de seu partido para a Casa Branca, acusou um repórter da rede
britânica Sky News de “defender uma agenda partidária” ao ser questionado sobre
o tema, em entrevista esta semana.
Apesar de 2022 ser um dos
anos com o maior número de ataques a tiros no país — foram mais de 200 desde o
dia 1º de janeiro —, deixando mortos em escolas, mercados e outros espaços
públicos, a NRA não cogita mudar suas posições;
Ao discursar na conferência,
o chefe da associação, Wayne LaPierre, disse que o porte de armas é "um
direito humano fundamental", e que limitar o acesso ao que chama de
"direito à autodefesa" não é a solução para uma crise que está
diretamente intimamente ligada à facilidade para se comprar armamentos nos EUA.
As palavras de LaPierre e a postura da NRA também trazem um modus operandi
visto em situações semelhantes no passado.
Em abril de 1999, a
associação manteve sua reunião mesmo depois do massacre na escola de Columbine,
a cerca de 30 km do local do evento, em Denver, uma semana depois do ataque. Na
ocasião, o então presidente do grupo, o ator Charlton Heston, afirmou que “atos
horríveis” não deveriam servir como oportunidade para “limitar direitos
constitucionais”.
Na quarta-feira, após o ataque em
Uvalde, a NRA disse que seus membros iriam “refletir” sobre o massacre, além de
“rezar pelas vítimas, homenagear os membros patriotas e prometer redobrar o
compromisso para fazer com que as escolas sejam mais seguras”.
Leia também
·
Ex-secretário de Trump diz que ele sugeriu disparos contra
protesto
·
Biden declara que apoiadores de Trump são uma 'organização
extremista'
· Trump diz que Zelensky é "corajoso" e líderes mundiais são "burros"
Contudo, alguns palestrantes
cancelaram suas participações na conferência, entre eles, o vice-governador do
Texas, Dan Patrick — a Daniel Defense, empresa que fabricou a arma usada no
ataque, disse que não enviaria representantes.
O governador, Greg Abbott,
mandou uma mensagem gravada, e estará em Uvalde, a cerca de 500 km de Houston,
e três cantores, Don McLean, Larry Gatlin e Larry Stewart, mudaram seus planos
após o ataque e não se apresentaram.
A poucos meses de eleições
legislativas, o ânimo parece escasso para levar adiante projetos do tipo mesmo
entre os democratas, que vêm se afastando do dinheiro da NRA nos últimos anos.
Afinal, muitos brigarão voto a voto em distritos onde os eleitores não pensam
em abrir mão de seus rifles e pistolas, e uma declaração vista como
progressista demais pode custar uma eleição…ou reeleição.
Analistas lembram ainda que,
nos próximos meses, a Suprema Corte deve decidir se uma lei do século XX do
estado de Nova York, que exige uma licença específica para que as pessoas andem
armadas nas ruas, viola a Constituição dos EUA.
Para que um cidadão obtenha
tal documento, ele deve apresentar uma justificativa aceitável e legítima, mas
a ação, movida por dois homens e um grupo pró-armas, afirma que tal exigência
fere o direito ao porte garantido pela Segunda Emenda. Eles alegam que não é
necessário convencer uma autoridade para que esse direito possa ser exercido.
“A decisão da Suprema Corte
não deve lidar com restrições a alguns tipos de armamentos ou locais onde as
pessoas poderão portar armas”, disse à CNN Jacob Charles, diretor-executivo do
Centro para Armas de Fogo da Escola de Direito da Universidade Duke.
“Mas caso a decisão seja mais
abrangente, mudando a forma como os tribunais avaliam as leis armamentistas,
isso poderia levar a um questionamento amplo sobre regras para armas, como a
proibição a armas de grosso calibre ou a carregadores de alta capacidade.”
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e
veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também
o perfil geral do Portal iG.
Link deste artigo: https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2022-05-27/trump-afirma-que-cidadaos-devem-se-armar-contra-existencia-do-mal.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário