Ayrton Senna, piloto da Ferrari.
O capacete amarelo sobressaindo do automóvel vermelho.
Nunca se tornou realidade, mas foi por pouco, muito pouco.
Numa altura em que os campeonatos são dominados, pela McLaren e a Williams, pilotar pela Ferrari continua, ainda assim, a ser o sonho de qualquer piloto de Fórmula 1 e Senna não é excepção.
Por seu lado, a equipa de Maranello sabe que só
poderá regressar às vitórias se tiver os melhores pilotos e Ayrton Senna é
obviamente um deles…
Em 1989 Cesare Fiorio é nomeado director desportivo da Scuderia Ferrari. Depois de ter levado a Lancia aos triunfos nos ralis, é-lhe confiada a missão de fazer o mesmo com a Scuderia Ferrari.
Para isso, é mandatado para constituir uma equipa com os
melhores profissionais e, claro, os melhores pilotos.
Assim, logo a seguir ao Grande Prémio do Mónaco desse ano, Fiorio começa a sondar Senna para saber do seu interesse em pilotar para a Ferrari já no próximo ano.
Invocando o seu vínculo contratual com a McLaren até o final de 1990, as negociações ficam adiadas.
Fiorio não consegue trazer Senna, mas consegue trazer Prost, o qual fará equipa com Nigel Mansell para a próxima época.
Esta dupla contentaria qualquer equipa, mas ainda assim, a Ferrari não desiste de Senna.

Após o Grande Prémio do Brasil de 1990, Alain Prost, vencedor da prova, bem como o resto da equipa deixam o circuito de Interlagos rumo a Itália, excepto Cesare Fiorio, que fica em São Paulo. No dia seguinte, reúne-se em casa de Senna para falar do futuro, mais concretamente das épocas de 1991 e 1992.
O interesse
manifestado pelo piloto brasileiro em pilotar um Ferrari e a concordância
quanto aos principais aspectos duma eventual colaboração, deixam Fiorio
confiante de que poderá contar com Ayrton Senna na Ferrari a partir do próximo
ano.
Nem a reedição de
uma “parceria” com Alain Prost incomodara o piloto brasileiro.
As conversações prosseguem na quinta-feira que antecede o Grande Prémio de França.
Antes de ir para o circuito do Castellet, Fiorio faz um desvio pela residência de Senna no Mónaco para tratar dos últimos pormenores do futuro contrato.
A vitória de Prost no domingo demonstra uma vez mais a competitividade do Ferrari 641 e conforta Senna quanto à sua escolha para o próximo ano.
Na segunda-feira seguinte, a sede da Ferrari recebe um fax: trata-se de um pré-acordo assinado por Ayrton Senna que coloca no papel o entendimento formulado oralmente entre este e Cesare Fiorio durante as reuniões anteriores.

O Ferrari 641 de 1990, evolução do 640 do ano anterior concebido por John Barnard, pioneiro nas mudanças semi-automáticas ao volante, começa a devolver alguma alegria aos tiffosis.
Internamente, muitos querem capitalizar sobre esse sucesso e ganhar algum protagonismo.
Para Cesare Fiorio, o presidente da Ferrari é um deles: “Era um burocrata que sofria por não estar sob os holofotes”.
Agora que a equipa regressava às vitórias, Piero Fusaro precisava de afastar Fiorio para ficar com os louros dos novos sucessos.
Assim, informa Prost das diligências levadas a cabo por Fiorio para recrutar o seu ilustre rival brasileiro, o que desagradou, e muito, ao piloto francês e desencadeando um conflito entre piloto e director desportivo.

Invocando
uma desculpa com os patrocinadores, Piero Fusaro cancela as negociações com
Senna, desautorizando assim Cesare Fiorio que não vê outra saída senão a
demissão, levando com ele o pré-acordo assinado por Senna que permanece então
na McLaren e conquista o seu terceiro título em 1991. Na Scuderia o ambiente
está eléctrico e Prost acabará despedido por ter comparado o seu Ferrari a um
camião.
Chegamos a 1994, Senna é piloto da Williams-Renault e a Ferrari é agora dirigida por Luca di Montezemolo e a direcção desportiva é confiada a Jean Todt.
Mudaram os nomes mas permanece a vontade de contratar Senna.
Poucos dias antes do fatídico Grande Prémio de Imola, Ayrton Senna reúne-se com di Montezemolo em casa deste, no dia 27 de Abril.
Nessa reunião, reiteram-se as vontades recíprocas de colaboração, remetendo para um próximo encontro a resolução dos últimos aspectos de um eventual contrato.
Todos sabemos o que aconteceu no domingo seguinte.
Infelizmente, o mito Senna e o mito Ferrari nunca se juntaram.
https://www.jornaldosclassicos.com/2024/01/20/quando-senna-assinou-pela-ferrari/

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