Esta é a minha vez!


Fazer 60 anos para mim foi uma libertação. Não sei por que justamente 60, meu inconsciente deve saber, porque eu não sei, não. Mas o que importa é que hoje não faço uma porção de coisas que me obrigava a fazer.

Quer um exemplo? Não aceito programas chatos, não fico numa festa porque o dono vai ficar triste se eu for embora, sou dono do meu tempo e não faço horas-extras.

Eu fazia, mesmo sem ter patrão e sem adicional... Era como se alguém, às escondidas, estivesse me controlando, e pior, alguém onipresente, pois morava dentro de mim...

Máximo rendimento por hora vivida, superprodução e desperdício zero! Com esse curso de especialização em desvario e requintes de sadismo, na hora de finalmente parar, quem diz que você consegue? Férias? São necessários uns cinco dias para desacelerar e o final de semana quando começa a ficar bom, já termina. Que loucura é essa e aonde todos irão se albergar se continuarmos a construção de um mundo tão inóspito?

Eu demorei 40 anos para acordar e descobrir o meu próprio poder para construir um lugar de paz dentro de mim. Mas, acordei... O processo de transformação foi lento, a direção se tornou mais importante que o resultado, o ritmo, a respiração, a pausa, o sonho..., tudo foi adquirindo um novo significado e esses últimos anos foram os melhores.

Fui requintando e, aos 60, me especializei. Diante de todas as situações em que eu solicitei um "habeas corpus" à argumentação dos meus 60 anos, me concedia ajuizamento imediato. Agora tenho 60, alforria! Agora tenho 60, tchau! Agora tenho 60, eu mereço! Com o tempo criei uma expressão mais positiva para essa liberdade: esse é o meu tempo – é a minha vez!

Do que mais gosto? De gostar. E de fazer? Gosto de parar de fazer; para ouvir, sentir, escolher, temperar, "alquimizar"... Gosto de treinar um novo olhar, um novo caminho... e que seja sempre aquele que emerge de dentro mim, e que, portanto, tem dono.
Para voar é preciso romper as amarras que nos mantêm presos ao chão, pequenos, medíocres. Sonhar é essencial, libertar a nossa criança, o adolescente rebelde, o jovem idealista que queria reformar o mundo. Depois, quebrar as cadeias que nós mesmos construímos e destruir as armaduras que tolheram nossos movimentos e mataram nossos desejos mais genuínos.
Começar devagarinho, como em todo processo, um se desvestir de cobranças, as próprias e as dos outros, e se vestir de pequenos prazeres, pequenos presentes de alegria e felicidade, de coisa simples e verdadeira, de coisa que preenche a alma e fica para sempre.

E você? Como tem sido a sua compaixão por você mesmo? Você sabia que a inspiração dessa magia em sua vida vem da sua criança interior? A criatividade que havia em seu coração naquela época, ainda existe dentro de você. Lembra como você acreditava quando sonhava e quando orava?

Abra um espaço para o silêncio em sua vida e volte ao passado. Visualize você criança e sinta com a mesma inocência aquela esperança que habitava o seu coração, tirava o seu sono e iluminava o seu olhar.

A sua criança conhece o caminho...

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