08/05/2012
às 7:37Ainda Edir Macedo, o jornalismo e a teologia - “Até o tolo, quando se cala, se passa por sábio; você falou o que não devia”
Escrevi ontem dois posts sobre o padrão jornalístico e teológico de Edir Macedo. Alguns tontos tentaram pespegar em mim a pecha de preconceito contra os evangélicos. Não cola! Chega a ser uma piada! As pessoas têm história, bobalhões! E não há aparelhamento da Internet, com seus falsos perfis no Twitter e suas falsas páginas no Facebook, que consiga mudar isso. Os posts que escrevi aqui sobre o processo absurdo de que foi alvo, por exemplo, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, acusado estupidamente de homofobia, estão entre os mais comentados do blog. Um deles, que continua a receber comentários, já conta com 3.817 intervenções. Devo ter sido o único jornalista ligado à chamada “grande imprensa” que defendeu Malafaia abertamente de uma acusação cretina e injusta.
Criticar certas práticas do senhor Edir Macedo não agride os evangélicos, não! Ao contrário: preserva-os. De resto, os fiéis de uma igreja nunca são automaticamente responsáveis por aquilo que fazem seus líderes. Eu estou entre aqueles que concordam que esses fiéis estão firmemente empenhados em criar a Igreja de Cristo. Mas os pastores de qualquer denominação — inclusive os católicos — são falíveis.
Demonstrei, com meus posts, a teologia manca de Edir Macedo e afirmei que ele impõe à emissora de sua propriedade um jornalismo igualmente manco. A trajetória não deixa de ser curiosa. Quando Lula era um oposicionista, era caracterizado na TV de Macedo como um Belzebu, quase um anticristo. Agora que está no poder, nota-se o alinhamento automático da emissora com a ala mais radical do PT. Trajetória semelhante fez seu empregado, Paulo Henrique Amorim. De grande acusador de Lula, como já demonstrei aqui (foi processado pelo petista), passou a fiel escudeiro, embora Lula continue a desprezá-lo. Encontrou, finalmente, o patrão certo.
Macedo impõe à sua empresa jornalística, como costuma acontecer, aquele que é o seu padrão de moralidade. Vocês devem se lembrar deste vídeo:
Acho que fala por si mesmo. Há alguns momentos encantadores, como quando ele conta que jogou a Bíblia no chão para demonstrar valentia (1min13s). O vídeo está no Youtube faz tempo. Já foi acessado 407.995 vezes. Não tenho nada a ver com as intervenções agregadas às imagens. Coisa antiga? Não! A cultura continua mesma. No vídeo abaixo, um dos atuais comandantes da Universal ensina como arrecadar em tempos de crise.
Que fala esclarecedora!
“Com essa crise, ela não pegar tudo o que tem no banco e dar para Deus, o espírito da crise vai pegar ela”.
“Você crê na crise ou você crê em Deus? Se você crê em Deus, vai pegar o que a crise poderia pegar e você vai colocar onde? Vai semear no altar”.
“Você crê na crise ou você crê em Deus? Se você crê em Deus, vai pegar o que a crise poderia pegar e você vai colocar onde? Vai semear no altar”.
Edir Macedo passou esse espírito elevado e grandioso para o jornalismo da Record, dotado, como se nota, de sofisticado espírito público. É essa gente que se arvora agora em grande farol ético do jornalismo e que resolve satanizar o trabalho correto de profissionais que estavam cumprindo a sua função. Não! Não estavam tentando roubar o dinheiro de ninguém! Não estavam tentando enganar ninguém! Não estavam dando truque em ninguém! Ao contrário: as reportagens da VEJA — e isso estou dizendo eu; ninguém me passa instruções por videoconferência! — ajudaram a pôr na rua alguns larápios que estava roubando o povo brasileiro.
Se o repórter falou com A, com B e com C, isso não é da conta de Macedo nem de ninguém. Se o demônio tivesse uma boa informação, seria usada — desde que não fosse preciso fazer um pacto com ele. E a reportagem da VEJA não fez trato com ninguém. Mas entrevistar o demônio, como vimos naquele vídeo de ontem, em que Macedo aparece com um chicote na mãe expulsando o coisa ruim do corpo de um gay, é exclusividade que o Chifrudo só concede a este santo homem.
Não me venham com essa história de “preconceito” porque isso não cola comigo, não! Até porque, ao ver os vídeos acima, eu formo é “conceito” mesmo. Não acho que seja o momento mais indigno deste senhor. Para mim, nada supera a suja peroração em favor do aborto, alegando que fala com base num preceito da Bíblia — aquela que ele afirmou ter jogado no chão…
É Macedo que vai mobilizar os seus falsos profetas do jornalismo para dar lição de ética profissional? Não mesmo! É tontice tentar fazer corrente contra mim na Internet porque, afinal, sou católico. Os evangélicos me conhecem muito bem e sabem o que eu penso. E foi um evangélico, justamente Malafaia, a pôr o dedo em algumas das feridas do “teólogo” Edir Macedo. Uma carraspana humilhante. Vejam. Volto para encerrar.
EncerroNão tentem me intimidar com os bate-paus de aluguel. Não estou recorrendo às palavras de Malafaia para dizer quem é Macedo. As suas próprias palavras e getos, nos vídeos acima, falam por si. Mas como perder um bom gancho: “Até o tolo, quando se cala, se passa por sábio. Você é pior do que o tolo. Porque falou o que não devia”.
Ora, meus caros, dizer o quê? Trata-se de escolher um padrão. Existe o jornalismo da VEJA, cujos serviços prestados ao país são conhecidos. E existe o jornalismo de Edir Macedo. Existe a teologia, e existe a teologia de Edir Macedo. Que se façam as escolhas.
Texto originalmente publicado às 7h10 desta terça
Tags: CPI do Cachoeira, TV Record
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