Edição 1912 . 6 de julho de 2005 | |
Brasil
Lula à sombra da crise
Com sua biografia, energia pessoal e recursos políticos descomunais, o presidente Lula sempre se mostrou maior do que os abismos que se abriram a sua frente. Na semana passada, pela primeira vez, Lula não conseguiu esconder seu desconforto
O presidente Lula não consegue mais esconder no semblante sua contrariedade com a permanência e o paulatino aprofundamento da crise política. A natureza da crise, calcada em indícios sérios de corrupção a sua volta, já é em si algo com que Lula nunca teve de lidar. Em sua fulgurante carreira política, ele e seu partido, o PT, sofreram as mais diversas acusações.
A que mais colou dava conta de que Lula e o PT seriam apenas um aríete democrático valendo-se de eleições democráticas para abrir as cancelas a sabotadores da democracia. Isso mostrou-se uma tolice. A outra linha de reparos ao PT no governo sustentava que o apego à estabilidade financeira e à responsabilidade fiscal seria apenas uma demonstração inicial passageira. Uma vez firmes no Planalto, os petistas cederiam ao desatino populista na condução da política econômica. Outra bobagem. A acusação de coabitar com a corrupção nunca colara na imagem do PT. Está colando agora.
O surgimento de provas de comportamento pouco recomendável da cúpula petista se soma a sua insistência em atribuir os problemas a conspirações ideológicas inverossímeis. A combinação dessas duas situações é que tem agravado a crise. Ela tem dominado a cena. Sua sombra caiu sobre as grandes realizações econômicas do governo Lula e suas espalhafatosas iniciativas no campo da diplomacia. Nas próximas 24 páginas, o leitor vai deparar com uma série de reportagens que refletem o estado de desarranjo em que se acha o governo, que, em sua simbiose com o PT, não encontra mecanismos para enfrentar a crise de maneira eficiente. Pela tentativa de evitar e, depois, pela exasperação diante da quebra do sigilo bancário do publicitário Marcos Valério, o governo, o PT e o próprio presidente passaram recibo de que temem o pior. Os temores não são infundados. Uma nota na seção Radar relata o destempero de José Genoíno, presidente do PT, quando soube da quebra do sigilo. A reportagem de capa explica as razões do desespero do líder petista.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário