Descendentes dos povos que enfrentaram a epidemia possuem genes que reagem com mais intensidade à bactéria causadora da doença
Pesquisadores identificaram um grupo de três genes ligados ao sistema imunológico que aumenta a resposta à bactéria causadora da peste bubônica (Reprodução)
Cientistas descobriram que a peste negra — como ficou conhecida a epidemia de peste bubônica que causou milhões de mortes na Europa no século XIV — deixou uma marca no genoma humano. A conclusão é de um estudo realizado por uma esquipe internacional de pesquisadores e publicado nesta segunda-feira no periódico Pnas.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Convergent evolution in European and Rroma populations reveals pressure exerted by plague on Toll-like receptors
Onde foi divulgada: periódico Pnas
Quem fez: Hafid Laayouni, Marije Oosting, Pierre Luisi, Mihai Ioana, B. K. Thelma, Cisca Wijmenga, Leo A. B. Joosten, Jaume Bertranpetit e Mihai G. Netea
Instituição: Universidade de Radboud, na Holanda, e outras
Resultado: Cientistas descobriram que a peste negra deixou uma marca no genoma humano
Ao longo do tempo, o sistema imunológico humano evoluiu em resposta a doenças infecciosas.
Algumas "versões" dos nossos genes ajudam a combater infecções melhor do que outras, e as pessoas que as possuem têm mais chances de sobreviver e se reproduzir — transmitindo esses genes para gerações futuras — do que as demais, em um processo denominado seleção positiva.
Para se aprofundar nesse fenômeno, o imunologista Mihai Netea, da Universidade de Radboud, na Holanda, e sua equipe analisaram dois grupos étnicos distintos que viviam na Romênia durante o período da peste negra: os roma, como são chamados os ciganos, e os romenos europeus.
O povo cigano deixou o norte da Índia e se instalou na Europa há cerca de 1.000 anos. Quando a epidemia começou, os dois povos já estavam estabelecidos na Romênia, mas, por questões culturais, quase não havia miscigenação entre eles, de modo que seus genes permaneciam distintos.
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Genoma – Os cientistas estudaram o genoma de 100 ciganos, 100 romenos e 500 descendentes dos povos do Norte da Índia, cujos ancestrais permaneceram no local depois da emigração dos roma. Como a epidemia não atingiu a Índia, ela não poderia ter causado mudanças no genoma destas pessoas.
Os pesquisadores encontraram vinte genes que sofreram mudanças nos ciganos e romenos, mas não nos indianos. Três genes que despertaram o interesse dos cientistas estavam ligados ao sistema imunológico, localizados no cromossomo 4 — eles codificam receptores do tipo Toll, proteínas que atuam na defesa do organismo, atacando bactérias invasoras.
Ao testar a influência desses genes contra a Yersinia pestis, bactéria causadora da peste negra, os pesquisadores descobriram que a intensidade da resposta imunológica variava de acordo com a sequência desses genes.
Concluíram, assim, que ciganos e romenos têm a mesma versão desses genes devido à pressão exercida pela epidemia. Outros europeus, cujos ancestrais também enfrentaram a peste bubônica, apresentaram a mesma variação, ausente em chineses e africanos — locais não atingidos pela peste.
Segundo os autores, as adaptações causadas pela exposição à peste negra causaram mudanças no genoma que persistem até os dias de hoje.
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