Tudo começou em agosto de 1989 quando Chris Gibson, um observador da
Royal Observer Corps (entidade de defesa civil britânica) que estava
numa plataforma de gás no Mar do Norte, a 100 km da costa de Norfolk, na
Inglaterra, viu uma cena estranha: uma aeronave em forma de triângulo
era reabastecida no ar por um avião-tanque KC-135. Ao lado deles, dois
F-111, bombardeiros leves que eram um pouco menores do que ele.
O
conjunto voava em direção ao Reino Unido, provavelmente a caminho de uma
base americana no país.
Seis meses depois da aparição, a revista americana Aviation Week
notou que o governo dos Estados Unidos havia incluído 455 milhões de
dólares para a ‘produção de uma aeronave negra’ (como são chamados os
aviões espiões) no orçamento de 1987, um vazamento incomum no restrito
mundo da inteligência militar.
Na mesma época, um grupo de observadores
vizinhos à famosa base militar secreta ‘Área 51′ passam a ouvir um som
estranho de aeronave logo no início da manhã.
Desde então, o misterioso projeto ‘Aurora’ aguça a curiosidade de
muita gente pelo mundo. O apelido vem justamente do documento vazado
pela publicação, que cita essa denominação.
No entanto, passados 25 anos
desde os primeiros rumores, até hoje não ficou comprovada a existência
desse suposto avião hipersônico de espionagem, sempre negada pelo
governo dos Estados Unidos.
Nem por isso, o assunto esfriou. No ano passado, surgiram novos
relatos de pessoas na Inglaterra que ouviram o estranho som pulsante de
um avião extremamente veloz.
Caso seja real, o ‘Aurora’ certamente será o
segredo mais bem guardado pelos militares americanos em toda a
história. Mas a pergunta que fica no ar é: existe mesmo a necessidade de
uma aeronave assim após o surgimento dos satélites espiões?
A resposta não é simples, mas o fato de a força aérea dos Estados Unidos ter planos de recapacitar o clássico avião U-2
mostra que nem sempre os satélites conseguem captar as informações de
inteligência necessárias.
Ao menos para inúmeros entusiastas e
estudiosos do assunto, o Aurora é uma realidade.
Mesmo sem nenhum indício seguro, o suposto avião possui a uma
descrição detalhada: 33,5 metros de comprimento (o mesmo que o Boeing
737 da Ponte Aérea), 18,2 metros de envergadura, teto de voo de mais de
40 mil metros, e capacidade de voar entre Mach 5 e Mach 8, ou seja, até
oito vezes a velocidade do som (quatro X mais veloz que o Concorde, por
exemplo).
Para obter esse desempenho inigualável, o Aurora usaria motores do
tipo ‘Ramjet’ ou ‘Scramjet’. Como é preciso operar em altas temperaturas
onde turbinas e compressores não funcionam bem, um avião hipersônico
precisa de uma tecnologia capaz de gerar energia mesmo num ambiente tão
hostil.
O ‘Ramjet’ trabalha com um fluxo de ar extremamente quente e
veloz que requer uma detonação de combustível por pulsos, daí a tese de
que os relatos de pessoas que ouviram esses sons inusitados de um avião.
A ideia do motor de pulsos ganhou mais força com o avistamento de
trilhas de condensação em formato de ‘donuts numa corda’, numa tradução
literal, em 2006 na cidade de Austin no Texas.
Skunk Works
Como em quase todos os projetos secretos de aviões americanos, a
tarefa de criar o ‘Aurora’ teria sido atribuída à divisão ‘Skunk Works’
da gigante aeroespacial Lockheed Martin.
Famosa no meio aeronáutico por
criar aeronaves como o caça stealth F-117A e os aviões de espionagem U-2
e SR-71 Blackbird, a equipe foi capitaneada pelo engenheiro Clarence
‘Kelly’ Johnson, falecido em 1990.
O Aurora seria o sucessor natural do
Blackbird, avião capaz de voar acima de Mach 3 e que desempenhou papel
fundamental na Guerra Fria ao vasculhar a ‘Cortina de Ferro’ em busca de
segredos soviéticos.
O Blackbird acabou aposentado na década de 90, mas sua história
inspira os que acreditam na existência do misterioso avião. Na década de
60, ele também tinha sua existência negada pelo governo, embora várias
pessoas testemunhassem suas decolagens para missões no Sudeste Asiático
na época da Guerra do Vietnã.
Sediada na Califórnia, a ‘Skunk Works’ não costuma ter nenhum projeto
de governo ‘aprovado’, mas há sempre muita gente trabalhando em seus
hangares. E se o Aurora realmente existe, o local ideal para que ele
pudesse ser desenvolvido teria sido na ‘Área 51′.
Local de veneração para ufólogos e entusiastas sobre seres
extraterrestres, a região também é palco de avistamentos e ruídos
estranhos de aviões, mas pode-se dizer que o afã em encontrar algo não
explicado pode ter afetado boa parte dos testemunhos.
Aliás, o assunto
já foi alvo de tentativas de produzir provas de avistamento do Aurora
como uma imagem em preto e branco que mostrava o flagrante do
reabastecimento do avião ou quando uma espécie de aeromodelo com suas
formas foi considerada autêntica.
Por outro lado, é fato que a base aérea teve suas instalações
ampliadas há alguns anos, com a adição de novos hangares, prédios e uma
pista extra, sinais que os trabalhos na ‘Área 51′ foram intensificados.
Ou seja, acreditar que os Estados Unidos, depois de revelarem seus
dois aviões invisíveis aos radares na década de 90 (o F-117A e o
bombardeiro em forma de asa B-2), tenham apenas estudado alguns drones
avançados nos últimos 20 anos pode parecer algo um tanto ingênuo.
Buraco de bilhões de dólares no orçamento
Mas se alguém pode falar com propriedade sobre o Aurora esta pessoa é Bill Sweetman.
Veterano jornalista de aviação, o britânico é a maior autoridade
mundial em ‘projetos negros’. Sweetman esteve por trás justamente da
matéria que colocou o ‘Aurora’ na mídia, publicada na conceituada
revista Aviation Week.
O jornalista chegou a publicar um livro sobre o Aurora em 1992,
baseado na sua investigação do assunto.
Sweetman também se debruçou em
milhares de páginas do orçamento do governo americano em busca de
‘buracos’ onde pudessem se encaixar um projeto como esse.
Certa vez, o
jornalista encontrou a soma de 9 bilhões de dólares inexplicavelmente
gastos, uma das manobras para permitir tocar os projetos desse gênero.
Para ele, o Aurora pode ter sofrido um imenso atraso devido a
complicações tecnológicas. Uma delas seria o combustível.
Nos anos 90,
hidrogênio e metano podem ter sido testados, mas não teriam permitido
que o avião entrasse em operação por limitações de uso.
A volta dos
‘booms’ supersônicos mundo afora nos últimos dez anos pode significar
uma nova fase no desenvolvimento do aparelho.
Num artigo para a revista americana Popular Science em 2006, Sweetman deu seu veredicto:
“Afinal,
o Aurora existe? Anos de busca levaram-me a acreditar que, sim, o Aurora está provavelmente em desenvolvimento ativo, estimulado pelos
recentes avanços que permitiram recuperar o atraso do ambicioso programa
lançado uma geração atrás.”
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