ROMBO NOS COFRES DA ESTATAL PODE TER CHEGADO A R$ 19 BILHÕES
Publicado: 29 de setembro de 2015
PARTE DOS VALORES FORAM RECEBIDOS POR VACCARI, CERVERÓ, DUQUE, COSTA E BARUSCO FOTO: FÁBIO RICARDO POZZEBOM
Apenas quatro ações criminais já julgadas na
Operação Lava-Jato, envolvendo duas das maiores empreiteiras do País, confirmam
pagamento de R$ 200.595.035,94 em propinas às diretorias de Abastecimento e de
Serviços da Petrobras. De acordo com as sentenças do juiz federal Sérgio Moro,
que conduz as ações da Lava-Jato, parte dos valores foi recebida pelo
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, pelos ex-diretores da estatal Renato
Duque (Serviços), Nestor Cerveró (Internacional) e Paulo Roberto Costa
(Abastecimento) e pelo ex-gerente de Engenharia da companhia Pedro Barusco.
O rombo global nos cofres da estatal petrolífera alcançou R$
6,2 bilhões, segundo o próprio balanço da companhia - mas pode chegar a R$ 19
bilhões, segundo investigações da Polícia Federal. O resumo das quatro
condenações que confirmam repasses de R$ 200,5 milhões foi incluído por Sérgio
Moro no decreto de prisão preventiva do empresário João Augusto Henriques,
apontado como lobista do PMDB na estatal petrolífera e acusador do presidente
da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) - Henriques disse à PF que abriu
uma conta na Suíça para depositar propinas para o peemedebista.
O destaque do juiz federal de Curitiba foi inserido no
despacho de prisão preventiva de Henriques, dois dias depois que o Supremo
Tribunal Federal (STF) fatiou a Lava-Jato, tirando de suas mãos importantes
desdobramentos da investigação que tem raiz na Petrobras.
Costa e Barusco fizeram delação premiada e admitiram
envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras. Duque e Cerveró negam. O
juiz Moro aponta que intermediaram o pagamento das propinas e se encarregaram
da lavagem de dinheiro o doleiro Alberto Youssef, o empresário Júlio Camargo e
os lobistas Mário Góes, Adir Assad e Fernando "Baiano" Soares, ligado
ao PMDB. Youssef, Camargo, Góes e Baiano são delatores na investigação.
Primeira empreiteira a ter seus executivos condenados no
esquema de corrupção instalado na Petrobras entre 2004 e 2014, a Camargo Corrêa
fechou, recentemente, acordo de leniência com o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (CADE) e com o Ministério Público Federal para revelar
irregularidades na estatal petrolífera e na Eletronuclear, cujo ex-presidente,
o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi preso. Na sentença, Sérgio Moro
apontou que os dirigentes da Camargo Corrêa pagaram R$ 50.035.912,33 em
propinas à diretoria de Abastecimento da Petrobras.
Dalton dos Santos Avancini, que foi presidente da
empreiteira, e Eduardo Leite, ex-diretor vice-presidente da empresa, pegaram 15
anos e dez meses de reclusão. Os dois fizeram delação premiada nos autos da
Lava-Jato e, por isso, o juiz Sérgio Moro concedeu a eles regime de prisão
domiciliar.
A OAS, outra condenada na Lava-Jato, nega ter participado do
esquema. Segundo a sentença, a empreiteira pagou propina de R$ 29.223.961,00
também na Diretoria de Abastecimento. O empresário José Aldemário Pinheiro, o
Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira, e Agenor Medeiros,
ex-diretor-presidente da área internacional, foram condenados a 16 anos e 4
meses de reclusão. Os executivos Mateus Coutinho de Sá Oliveira, ex-diretor
financeiro, e José Ricardo Nogueira Breghirolli pegaram onze anos de reclusão e
Fernando Stremel foi condenado a quatro anos em regime aberto.
Na Diretoria Internacional, a sentença de Sérgio Moro apontou
R$ 54.517.205,85 em propinas pagas em contratos de fornecimento de
navios-sondas. Teriam recebido parte dos valores o ex-diretor Nestor Cerveró e
o lobista Fernando Baiano, ambos condenados. Cerveró pegou 12 anos e 3 meses de
prisão e Baiano, 16 anos.
Na segunda-feira, 21, a Justiça Federal condenou o ex-diretor
de Serviços da Petrobras Renato Duque a 20 anos e oito meses de prisão por
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa - a mais alta
pena já imposta pela Lava-Jato. Moro indicou o pagamento de R$ 23.373.653,76 em
propinas à Diretoria de Abastecimento e de R$ 43.444.303,00 à Diretoria de
Engenharia e Serviços em outras obras da Petrobras, como as contratadas com o
Consórcio Interpar e com Consórcio CMMS.
Na mesma sentença, o juiz Moro condenou o ex-tesoureiro do PT
João Vaccari Neto, também por corrupção e lavagem de dinheiro, a 15 anos e 4
meses de prisão. Os mesmo crimes foram atribuídos a Duque. É a primeira
condenação aplicada ao ex-diretor de Serviços, apontado como elo do PT no
esquema Petrobras, e também do ex-tesoureiro do partido na Lava-Jato.(AE)
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