SORTUDOS DA LOTERIA► GRUPO DE AMIGOS GANHOU 1.802 VEZES! SORTE OU ESQUEMA?

 

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Investigação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, descobriu um esquema de compra de bilhetes premiados de loterias federais para lavar dinheiro.

Numa reedição do golpe aplicado pelo ex-deputado João Alves, que em 1993 atribuiu à sorte ter ganhado 221 vezes na loteria, o Coaf identificou 30 pessoas que, juntas, ganharam 1.802 vezes em jogos de loteria. 

O grupo abocanhou R$ 13,9 milhões.

A maior parte do dinheiro foi paga em prêmios sorteados entre 1999 e 2000. Salta aos olhos o desempenho de José Eugênio da Silva. 

Ele alega ter ganhado 211 prêmios em dez meses, entre 17 de novembro de 1999 e 14 de setembro de 2000.

Sozinho, recebeu R$ 1,9 milhão. O Coaf afirma que há indícios de lavagem de dinheiro.

O presidente do Coaf, Marcos Caramuru de Paiva, mandou a lista dos ganhadores ao Ministério Público Federal, que tem agora a missão de investigar o caso.

Dos 30 ganhadores, 29 moram em São Paulo. Apenas um, Fábio José Felice Pajaro, vive em Minas. Ele ganhou 23 vezes em sete jogos entre dezembro de 1998 e julho de 2000.

Prêmios de até R$ 800 são pagos ao portador do bilhete

A Caixa explicou que paga o prêmio ao portador do bilhete premiado.

No caso de ganhadores de mais de R$ 800, é necessária a apresentação de identidade e CPF, além da assinatura no verso do bilhete. 

Para a Caixa, a fraude deve ter ocorrido no momento da compra do bilhete por laranjas participantes de esquemas de lavagem de dinheiro.

Não conseguiu explicar, no entanto, como essas pessoas sabem o nome do ganhador.

Segundo a lista do Coaf, foi agraciada até uma família inteira. Amauri Gouveia ganhou 189 prêmios de nove loterias entre novembro de 98 e dezembro de 99.

Embolsou R$ 1,43 milhão. 

Seu irmão Adilson Gouveia ganhou R$ 916 mil, também de nove loterias, totalizando 157 prêmios em um ano, a partir de novembro de 1998.

O terceiro irmão, Alécio Pedro Gouveia, acertou na Loto 179 vezes no mesmo período e levou R$ 1,42 milhão.

Marcos Surjan Trofo Filho ganhou R$ 264.473,84. Acertou três vezes — duas na Loteria Federal e outra na Mega-Sena. Um dos prêmios da federal e o da Mega-Sena foram pagos no mesmo dia.

O Coaf apurou que Marcos é parente de Marco Antônio Surjan Trofo, investigado por ter recebido prêmios de loteria em 48 datas, numa média de 6,8 prêmios por dia entre abril de 2000 e outubro de 2001.

 

Foram 327 prêmios e R$ 1,58 milhões.
O GLOBO conseguiu falar com três dos 30 sortudos.

O senhor não está falando a verdade.


Além disso não interessa ao senhor saber de uma coisa tão íntima — disse Elie Nasser Kattan ao receber telefonema do jornal perguntando sobre os prêmios.

 

Antes de desligar, Kattan disse que nunca jogou na loteria. Segundo o Coaf, ele foi premiado 87 vezes e recebeu R$ 786 mil.

 

Entre 1999 e 2000, Relly Juliana Dumitresco foi sorteada em 65 concursos e recebeu mais de R$ 252 mil. 

Também por telefone, ela disse se lembrar que ganhou uma única vez. Diante da insistência do repórter, foi enfática:

Se ganhei ou não ganhei, não interessa — disse ela, desligando o telefone.

Outro que se mostrou surpreso com a notícia foi Marcos Agostinho Paioli Cardoso. 

Ele disse que foi premiado apenas uma vez, ano passado. 

Segundo a Caixa, porém, Cardoso acertou 25 vezes na loteria, ganhando R$ 149.700. Após perguntar o objetivo da reportagem, Cardoso disse que um único fator poderia explicar a coincidência.

O que pode ter acontecido é que às vezes compro do bilheteiro parte de um jogo. 

E, no meio do bolão, a gente ganha e nem sabe — disse.

O 'anão' que também dizia ter tirado a sorte grande


Em 1992, o núcleo de poder da Comissão Mista de Orçamento do Congresso era formado por parlamentares de baixa estatura. Daí o apelido de anões do Orçamento. 


Eles foram denunciados em 1994 pela CPI da Máfia do Orçamento, que apontou indícios de enriquecimento ilícito e de desvio de verbas. Segundo denúncias, os deputados trocavam favores por propinas de empreiteiras. O anão-mor da máfia do Orçamento, na época deputado João Alves, do PPR (hoje PP) da Bahia, renunciou para escapar da cassação. 


Mas foi sua justificativa para uma movimentação bancária de US$ 50 milhões, entre 1988 e aquele ano, o que mais chocou a opinião pública: João Alves alegou ser um ganhador contumaz dos jogos de azar da CEF.

 

Disse ter acertado na loteria não uma ou duas vezes, mas nada menos que 221 vezes. Durante a CPI, foi revelado seu hábito de guardar dinheiro em cofres.

 

As notas eram enroladas em papel jornal e retiradas de lá aos pacotes, disse. Em 1994, já como ex-deputado, disse que voltou a acertar os 13 pontos, na loteria especial da Copa.

 

Com mais 19 apostadores. Dois anos atrás, aos 82 anos, João Alves desfrutava da vista para o mar, no Jardim Ipiranga, uma das zonas mais nobres de Salvador.

 

Mas reclamava da sorte. 


Aos políticos baianos com quem conversa dizia que seus bens estavam bloqueados e reclamava de um parente que teria retirado de seu cofre R$ 4 milhões.

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