Não, a foto acima não mostra um mutante homem-lagarto.
Em Fortaleza,
pacientes queimados estão sendo cobertos com pele de peixe – especificamente,
tiras de tilápia esterilizadas.
O tratamento inovador é parte de um projeto
piloto aplicado em pacientes com queimaduras de segundo grau, superficiais ou
graves, do Instituto Dr. José Frota.
O estudo começou ano passado, e mais de
150 pessoas devem passar pelo procedimento até abril deste ano.
A investigação, realizada pelo Núcleo de
Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade Federal do Ceará, será registrada
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Útil ao agradável
A inovação surgiu de uma necessidade
brasileira: enquanto a pele animal tem sido usada há muito tempo no tratamento
de queimaduras em países desenvolvidos, por aqui não temos a pele humana, a de
porco ou as alternativas artificiais amplamente disponíveis em locais como os
EUA, por exemplo.
Os três bancos de pele funcionais no Brasil
podem atender apenas 1% da demanda nacional.
Como resultado, os pacientes são
normalmente vendados com gaze embebida em um creme de sulfadiazina de prata.
Enquanto o creme impede que as queimaduras
se tornem infectadas, não necessariamente ajuda na sua cura.
Além disso, o
curativo deve ser trocado todos os dias, um processo doloroso.
Entra a humilde
tilápia – um peixe amplamente cultivado no Brasil e cuja pele, até agora, era
considerada lixo.
Ao contrário das bandagens de gaze, a pele de tilápia
esterilizada não precisa ser trocada com frequência.
Processo rigoroso de
esterilização
De acordo com o Dr. Edmar Maciel, cirurgião
plástico e especialista em queimaduras liderando os ensaios clínicos com pele
de tilápia, o primeiro passo da pesquisa foi analisar a pele do peixe.
“Tivemos uma grande surpresa quando vimos
que as proteínas de colágeno, tipos 1 e 3, que são muito importantes para a
cicatrização, existem em grandes quantidades na pele da tilápia, ainda mais do
que na pele humana e outras peles”, disse o Dr. Maciel.
“Outro fator que
descobrimos é que a quantidade de tensão e de resistência na pele de tilápia é
muito maior do que na pele humana. Também a quantidade de umidade”.
Os lotes de pele de tilápia foram
preparados por uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará.
Técnicos de laboratório primeiro usaram
vários agentes esterilizantes, e depois enviaram as peles para receber radiação
esterilizante em São Paulo a fim de matar vírus.
Em seguida, as peles foram
embaladas e refrigeradas a 3° C. Uma vez limpas e tratadas, as bandagens podem
durar até dois anos.
Como funciona
Em pacientes com queimaduras superficiais
de segundo grau, os médicos aplicam a pele e deixam-na até que o paciente
cicatrize naturalmente.
Para queimaduras profundas de segundo grau, as ataduras
de tilápia devem ser trocadas algumas vezes ao longo de várias semanas, mas
ainda com muito menos frequência do que a gaze com creme.
O tratamento também reduz o tempo de
cicatrização em até vários dias, e reduz o uso de medicação para dor.
O tratamento foi oferecido a Antônio dos
Santos, um pescador que sofreu queimaduras em todo o braço direito quando uma
lata de gás em seu barco explodiu. Ele aceitou.
“Depois que eles colocaram a pele de
tilápia, realmente aliviou a dor”, disse. “Achei realmente interessante que
algo assim pudesse funcionar”. Confira seu depoimento no vídeo abaixo:
Além dos ensaios clínicos, os pesquisadores
estão atualmente realizando estudos histológicos para comparar a composição das
peles de humano, tilápia, porco e rã.
Os cientistas ainda estão realizando
pesquisas sobre os custos comparativos do uso de pele de tilápia versus
tratamentos de queimadura convencionais.
Se os ensaios clínicos se mostrarem um
sucesso contínuo, os médicos esperam que uma empresa processe as peles em
escala industrial, a fim de vendê-las para o sistema de saúde público
brasileiro. [StatNews, DiariodePernambuco]
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