Sarney, Lula, Dilma, Temer, FHC e Collor na cerimônia de inauguração da Comissão Nacional da Verdade, em 2012
Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma foram
mencionados ou são alvo de inquérito com base em depoimentos de executivos da
empreiteira. Acusações envolvem propina, caixa 2, lobby e mesadas para
parentes.
O fim do sigilo sobre as delações da
Odebrecht e da lista do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson
Fachin, nesta terça-feira (11/04), revelou menções ou pedidos de inquéritos
envolvendo todos os cinco ex-presidente brasileiros vivos.
Apenas no caso de Fernando Collor já existe a abertura de um
novo inquérito. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva, foram feitos seis
pedidos. No de José Sarney, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso, existem
menções em delações que foram enviadas para diferentes tribunais. Veja o
que disseram executivos e ex-executivos da Odebrecht contra cada um dos
ex-presidentes:
José Sarney (1985-1990)
O ex-presidente e ex-senador é mencionado numa delação da
Odebrecht que envolve propinas na construção da ferrovia Norte-Sul, cuja obra
foi iniciada no governo Sarney. De acordo com as delações dos executivos Pedro
Augusto Carneiro Leão Neto e João Antônio Pacífico Ferreira, figuras do círculo
político do ex-presidente receberam entre 2008 e 2009 cerca de 1% sobre o
contrato da obra.
As acusações constam no pedido de abertura de inquérito contra o
deputado federal Milton Conti (PR-SP). As informações sobre Sarney, passadas
pelos delatores da Odebrecht, foram encaminhadas à Justiça de Goiás.
Sarney já é alvo de um inquérito no Supremo por suspeita de
obstrução da Justiça no âmbito da Lava Jato, junto com os senadores Romero Jucá
(PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL). O caso se refere à conversa grampeada
que o ex-presidente teve com o ex-diretor da Petrobras Sérgio Machado.
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Renan e
Sarney prometeram a Machado que iriam acionar o advogado Eduardo Ferrão e o
ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Cesar Asfor Rocha para
influenciar uma decisão do STF sobre um possível desmembramento do inquérito
que envolvia o ex-diretor. Sarney não comentou o caso.
Fernando Collor de Mello (1990-1992)
Único ex-presidente com foro privilegiado, já que ainda mantém
uma cadeira no Senado, Collor é o único da relação que já é alvo de um
inquérito aberto com base nas delações da Odebrecht. O seu caso não foi
encaminhando para outros tribunais, permanecendo no Supremo. O relator da Lava
Jato, Edson Fachin, já determinou a abertura do inquérito.
Collor é suspeito de ter recebido 800 mil reais de propina e
caixa 2 para a sua campanha ao Senado em 2010. Segundo os delatores da
Odebrecht, o valor foi pago pelo grupo em espécie. Em troca do dinheiro, Collor
teria se comprometido a atuar a favor do grupo no Legislativo. Na planilha de
políticos beneficiados por propinas pagas pela empresa, Collor era tratado com
o apelido de "Roxinho”.
Antes da decisão de Fachin, o ex-presidente já era alvo de cinco
inquéritos no Supremo por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção
investigado pela Lava Jato. Em um deles, o senador já foi denunciado pelos
crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, sob a acusação de receber 29 milhões
de reais em propina em troca de influenciar contratos da BR Distribuidora. A
aceitação da denúncia ainda não foi avaliada pelo Supremo.
Investigadores da Lava Jato apontaram que Collor comprou
veículos de luxo para lavar o dinheiro. Entre os veículos, um Lamborghini
avaliado em 3,2 milhões de reais e uma Ferrari de 1,45 milhão.
Collor não comentou a abertura do inquérito.
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)
Em sua delação, Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de
Administração da Organização Odebrecht, disse ter pago "vantagens
indevidas não contabilizadas” para as campanhas de Fernando Henrique à
Presidência da República em 1994 e 1998.
"Ajuda de campanha eu sempre dei a todos eles. E a ele
[FHC] eu também dei. E com certeza teve ajuda de caixa oficial e não oficial.
Se ele soube ou não, eu não sei", disse Emílio.
Em resposta, FHC disse que desconhece eventuais gastos de
campanha citados por Emílio Odebrecht. "Não tenho nada a esconder, nada a
temer e vou ver com calma do que se trata. Por enquanto, não há nada
especifico, é tudo muito vago”, disse, em um vídeo.
A delação envolvendo FHC foi enviada para a Justiça Federal em
São Paulo.
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010)
O ex-presidente se tornou alvo de seis pedidos de inquéritos
baseados nas delações da Odebrecht. Todos eles foram enviados para a Justiça
Federal do Paraná, onde o petista já é réu em duas ações penais. Lula também é
réu em três outros casos no Distrito Federal.
Os novos pedidos envolvem tanto a suspeita de lobby promovido
pelo ex-presidente em favor da Odebrecht quanto ao pagamento de mesadas para
seus parentes.
Agora cabe ao juiz Sérgio Moro decidir pela abertura de novos
inquéritos ou se eles vão ser incorporados aos já existentes que tramitam
contra o ex-presidente no Paraná.
A defesa do petista disse que as acusações são
"frívolas" e que não há provas contra o ex-presidente.
Dilma Rousseff (2011-2016)
A ex-presidente foi mencionada. Em uma das delações, Emílio
Odebrecht disse que Dilma foi "responsável pelo favorecimento” da empresa
Tractebel-Suez na licitação para construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, em
Rondônia. À época da licitação, Dilma era chefe da Casa Civil do governo Lula.
Segundo o depoimento, executivos da Odebrecht dizem ter pedido
ajuda de Lula para reverter a vitória da empresa na concorrência, mas Lula
teria preferido "não contrariar a então presidente Dilma Rousseff, vista
como responsável pelo favorecimento da Tractebel".
Em outro depoimento, o ex-executivo Alexandrino Alencar citou
pagamentos ilegais para a campanha de Dilma em 2014. Segundo Alencar, o
dinheiro foi pago por intermédio do assessor Manoel Sobrinho, a pedido de
Edinho Silva, que foi o tesoureiro da petista.
Não são citados valores, mas em seu depoimento, Marcelo
Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, disse que pagou 150 milhões de reais à
campanha da petista, parte dele em caixa 2. Uma parte desse valor foi repassada
como pagamento da edição de medidas provisórias que beneficiaram a Odebrecht
ainda no governo Lula.
Outro pacote de delações foi arrolado com o nome de Dilma. Elas
narraram que o governo Lula agiu em diversos momentos nos anos 2000 para
beneficiar a expansão da Braskem, o braço petroquímico da Odebrecht. Em troca,
milhões de reais teriam sido repassados para campanhas eleitorais do PT. Os
depoimentos não citam quais teriam sido as irregularidades cometidas por Dilma.
Parte das delações que envolvem Dilma serão encaminhadas para o
Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, porque estão atrelados a Edinho
Silva, que hoje é prefeito de Araraquara (SP). O restante foi encaminhado para
a Justiça Federal do Paraná.
A presidente já é alvo de um inquérito no Distrito Federal por
suspeita de obstrução de Justiça O caso envolve o episódio da nomeação de
Lula como ministro em 2016.
Quando o sigilo sobre todas as delações foi extinto, Dilma
divulgou nota afirmando que "vem sendo vítima de vazamentos seletivos e
direcionados há meses". Ela não comentou o conteúdo das delações.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃONo topo do poder: Michel Temer
O nome de Michel Temer aparece 43 vezes na delação, de 82 páginas. O delator diz que o conheceu em 2005, por intermédio de Geddel Vieira Lima. Relata encontros com Temer, um deles jantar no Palácio do Jaburu com Marcelo Odebrecht, em que foi solicitada ajuda financeira de 4 milhões. Revela que Temer atuava indiretamente. Temer alega que pediu auxílio formal à construtora, quando comandava o PMDB.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOEliseu Padilha, o "Primo"
O ministro da Casa Civil é apontado como coordenador "de contribuições de campanha que o PMDB recebeu da Odebrecht" em 2014. O delator o classifica como o "preposto" de Temer. "Nas vezes que me foi solicitada qualquer agenda com Michel Temer, procurava Eliseu Padilha, que viabilizava os encontros para as demandas da empresa. Sempre soube que Padilha representava a figura política de Temer", diz.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOMoreira Franco, agora ministro: o "Angorá"
Moreira Franco, que Temer alçou a ministro para ter foro privilegiado, tem codinome que se refere aos cabelos grisalhos. O delator fala de encontro entre ele, Moreira e Temer, quando disse a ambos que Graça Foster, então presidente da Petrobras, queria saber quem do PMDB recebia dinheiro da Odebrecht. O ministro diz que nunca conversou com Melo Filho sobre doações.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOGeddel Vieira Lima, o ex-ministro "Babel"
O delator diz ter sido próximo do ex-ministro e que ele "recebia pagamentos qualificados em períodos eleitorais e não eleitorais; e fazia isso oferecendo contrapartidas claras". Um exemplo foi a liberação de recursos do Ministério da Integração Nacional a obra de interesse da Odebrecht. Geddel foi ministro de Dilma e de Temer, mas durou pouco no cargo por conta de denúncias de corrupção. Ele nega.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃO"Núcleo dominante": Jucá, Renan e Eunício
O diretor da Odebrecht disse na delação que o PMDB tinha dois núcleos de arrecadação, um no Senado e outro na Câmara. No Senado, Eunício Oliveira (na cabeceira), hoje presidente da Casa, Renan Calheiros (à esq) e Romero Jucá (à dir.) eram o trio poderoso. "Esse grupo é bastante coeso e possui enorme poder de influência sobre outros parlamentares, tanto do partido como de outras legendas."
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃORomero Jucá ou "Caju", o "homem de frente"
O delator diz que o senador , codinome Caju, era o mais procurador por "agentes privados interessados na sua atuação estratégia". Por conta desta ponte com o setor privado, diz, o gabinete de Jucá é concorrido. O delator diz ter pago 22 milhões só a Jucá, que coordenava a distribuição do dinheiro no PMDB. O senador teria articulado a aprovação de propostas de interesse da Odebrecht no Congresso.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃORenan Calheiros, o "Justiça"
Ex-presidente do Senado e ex-ministro da Justiça, é citado como peça crucial do esquema do PMDB. Em 2010, teria recebido 500 mil da Odebrecht. Logo que assumiu o Senado, Marcelo Odebrecht pediu que fosse agendada "visita de cortesia". Na ocasião, Renan disse estar afinado com pleitos da construtora. Teria pedido ajuda à campanha do filho em Alagoas (2014). O senador nega irregularidades.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOEduardo Cunha, o "Caranguejo" preso
Delator diz que se aproximou dele em 2007. O deputado teria recebido 7 milhões da Odebrecht para campanha de 2010. Seu nome constava em planilhas de executivos da empresa. Reuniões para tratar de votações e interesses da Odebrecht eram frequentes. "Ele sabia que receberia pagamentos a pretexto de contribuição de campanha." Cassado em setembro, está preso em Curitiba desde outubro de 2016.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃORodrigo Maia, o "Botafogo"
Delator disse que Maia, hoje presidente da Câmara, era "ponto de interlocução na defesa dos interesses da Odebrecht". Diz que pediu ajuda na votação de medida provisória que interessava à empreiteira e Maia aproveitou para solicitar recursos e liquidar pendências da campanha de 2012. "Decidi contribuir com o valor aproximado de 100 mil". Em 2010, teria recebido outros 500 mil. Maia nega.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOMarco Maia, em outro time: o "Gremista"
Ex-presidente da Câmara, o petista Marco Maia é identificado pelo time. Delator diz que se aproximou dele em viagem a NYC, promovida pela Braskem. Na presidência, ofereceu jantar de cortesia a Marcelo Odebrecht. Pediu contribuições quando se lançou para a presidência da Casa. "A referida solicitação foi autorizada por Marcelo Odebrecht e transmitida por mim ao referido parlamentar."
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃODelcídio Amaral, a "Ferrari" detida
O senador, ex-líder do PT, teria se empenhado para aprovar norma de tributos que ajudaria a Odebrecht. Após a votação, reclamou da "pouca atenção" recebida. O delator relata encontro com Delcídio no Hotel Fasano, em SP, quando lhe informou que receberia 500 mil reais. Naquele mesmo dia, colegas lhe contaram que o petista "tinha ficado absolutamente satisfeito e tinha pressa no recebimento".
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOAgripino, o "Gripado": comandante do DEM
Relator disse que presidente do DEM tem relação pessoal com Emílio Odebrecht e sempre foi muito cordial com empresa. Afirmou que em 2014 Marcelo Odebrecht fez pagamento de 1 milhão de reais a ele. O valor, disse, "teria sido solicitado pelo Senador Aécio Neves como uma forma de apoio ao DEM, que era presidido à época pelo Senador José Agripino". Agripino era cotado para ser vice de Aécio na chapa.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOGim Argello, o "Campari": guardião do PTB
Sob esse codinome, o então senador teria pedido "apoio diferenciado" da Odebrecht em 2010 e 2014. Presidia o PTB no Distrito Federal. O delator relata autorização de Marcelo Odebrecht para repassar a ele 1,5 milhão em 2010 e 1,3 milhão em 2014. "Não tenho como dizer se os pagamentos em dinheiro foram utilizados por Gim Argello para fins eleitorais." Argello deixou o PTB e a política em 2016.
O ESTRAGO DE UMA DELAÇÃOJaques Wagner, o "Polo"
Relator diz que fez a ponte da Odebrecht com o político de 2006 a 2010. Conta que Marcelo Odebrecht tinha dúvidas sobre êxito da carreira política do petista. O primeiro pedido de recursos foi para campanha ao governo da BA (2006). "Acredito que tenha ocorrido pagamentos de até 3 milhões de forma oficial e caixa 2." Ajudou a Odebrecht a resolver "pendências" do pólo petroquímico de Camaçari.
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CORRUPÇÃO ◘ DELAÇÕES DA ODEBRECHT ENVOLVEM TODOS OS EX-PRESIDENTES VIVOS.
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