Um médico e doutorando na Universidade de Aveiro criou uma solução alternativa aos ventiladores tradicionais na ventilação em doentes com covid-19, revelou hoje fonte académica.
Anestesiologista no Hospital de Gaia, agora em licença de paternidade, Paulo Roberto, que também é doutorando de Biomedicina na Universidade de Aveiro, está a ultimar uma nova solução de recurso para doentes com covid-19 que necessitem de sistemas não invasivos de ventilação assistida.
A solução, refere a Universidade de Aveiro em comunicado, apoia-se em dispositivos existentes não invasivos e em caso de indisponibilidade dos convencionais mecanismos invasivos de ventilação, e conta com a colaboração de uma equipa de engenheiros da Bosch Termotecnologia que ajuda nos testes.
"O que está em causa nesta solução proposta pelo anestesiologista Paulo Roberto é um novo conceito de circuito de ventilação, que pressupõe uma outra manga de conexão, não um novo aparelho de ventilação em si. Cria-se um novo circuito para conduzir o ar expelido, a partir do tubo traqueal, envolvendo uma válvula de Ruben ligada a uma manga de conexão e a um filtro que, finalmente, liberta o ar resultante da respiração do paciente", descreve uma nota de imprensa da Universidade de Aveiro.
A alternativa agora divulgada usa consumíveis comuns nas unidades de saúde e, quando os aparelhos convencionais invasivos (que implicam intubação traqueal) e que são mais eficazes não estão disponíveis, pode salvar vidas, segundo é referido.
Segundo Paulo Roberto, "apesar da eficácia intrínseca ao mecanismo de ação do equipamento e da segurança de se utilizarem dispositivos próprios para ventilação largamente testados, a adaptação não aspira a substituir os equipamentos especializados e próprios para ventilação invasiva".
"Claro que ter mais ventiladores invasivos adequados é a solução ideal, mas até essas condições serem conseguidas, podemos enfrentar a necessidade de ter equipamentos, que mesmo não sendo ideais, cumpram a função eficazmente", afirma o médico.
Paulo Roberto iniciou um projeto de colaboração designado "Project Tube Connector" na aplicação "Slack", onde se tinha iniciado o "openair", que pretende desenhar e construir ventiladores com recurso a novas tecnologias e fazendo uso da disponibilidade de peritos e empresas de manufatura.
Trata-se de um grupo que envolve especialistas em várias áreas: engenharia, biomedicina, design; e empresas envolvidas em impressão 3D e fabricação de plásticos e borrachas.
No dia 16, em colaboração local com Pedro Duarte Menezes, mestrando na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, foi conseguido um protótipo funcional.
O contributo da equipa de engenheiros da Bosch Termotecnologia - Duarte Almeida, Vitor Silva, Filipe Rego, Nuno Mateus e Tiago Moura, consistiu na construção de um equipamento de medição e registo de dados, especialmente desenvolvido para o efeito, utilizando material técnico e laboratórios existentes na empresa.
Com esse contributo, a equipa tornou possível a realização de medições laboratoriais, com o objetivo de validar a viabilidade do conceito: adaptar um VNI (Ventilador Não Invasivo), de forma a poder ser usado em situações de emergência de forma invasiva.
O teste de resiliência por 24 horas teve resultado positivo e o ventilador é capaz de se manter eficiente em operação contínua por esse período, sem variações significativas.
"A conclusão mais relevante dos testes é que os parâmetros programados no ventilador são consistentemente similares aos que são administrados na via aérea (no caso, o tubo traqueal)", salienta o médico e investigador, que tem vindo a estabelecer contactos com o Infarmed, representantes do Ministério da Saúde e a debater a solução com colegas médicos, de modo a ajustar o conceito às condições reais de aplicação.
Em Portugal, registaram-se 76 mortes, mais 16 do que na véspera (+26,7%), e 4.268 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 724 novos casos em relação a quinta-feira (+20,4%).
Dos infetados, 354 estão internados, 71 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.
Fonte: NM
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