20 de jun. de 2020
Gilmar Mendes ouviu do comandante do Exército o que não queria
Comandante do
Exército diz a ministro do STF que as últimas decisões da Corte atropelaram as
atribuições do Presidente da República
General Edson
Leal Pujol durante a solenidade de passagem de Comando do Exército -
11/01/2019 / Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF), Gilmar Mendes, se reuniu recentemente com o comandante do
Exército, general Edson Pujol.
Oficialmente, o encontro era para entregar a
nova edição do livro do magistrado, Curso de Direito Constitucional, mas na
conversa o ministro aproveitou a oportunidade para tentar desfazer a interpretação
corrente, em boa parte estimulada pelos generais que ocupam assento no Palácio
do Planalto – Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria
de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) – de que há
um complô em curso para enfraquecer politicamente o presidente.
A conspirata, segundo bolsonaristas,
incluiria o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o presidente da Câmara
Rodrigo Maia (DEM) e o ministro do STF Alexandre de Moraes, autor das decisões
judiciais que mais têm desagradado ao Palácio do Planalto.
O próprio Gilmar
Mendes, que foi atacado em uma rede social pelo vereador Carlos Bolsonaro após
criticar o presidente por ter estimulado cidadãos a fiscalizar hospitais e UTIs
durante a pandemia, passou a ser listado no rol de persona non grata.
O ministro, porém, acabou ouvindo o
que não queria. Segundo interlocutores que conversaram com o magistrado, Pujol
se alinhou à interpretação da caserna de que o Judiciário tem extrapolado em
suas funções.
Mesmo entre os militares considerados mais “institucionais” e
avessos ao mundo político, como o comandante do Exército, não foram bem
assimiladas decisões de Moraes como a que vetou o nome de Alexandre Ramagem
para a diretoria-geral da Polícia Federal.
A ordem judicial que mais
impressionou os fardados, no entanto, foi a decisão do STF que impediu o
presidente de decidir sobre políticas relacionadas ao novo coronavírus.
Mendes explicou a Pujol cada uma das
decisões e procurou desfazer a interpretação de que o Judiciário seja um
opositor do Palácio do Planalto.
Procurado, o ministro nega o tom da
conversa ocorrida na reunião. O comandante não respondeu ao pedido de
entrevista.
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