Esses são os agressores mais comuns de mulheres: relatório da OMS Por Marcelo Ribeiro, em 12.03.2021
Os
calçados vermelhos fazem parte de uma instalação pública de arte denunciando a
violência contra as mulheres. A foto foi tirada na praça principal de Durresi,
em Tirana, Albânia, no dia 8 de março — Dia Internacional da Mulher.
Os números são gritantes – e
surpreendentes.
No mundo todo, quase uma a cada 3
mulheres sofreram violência física ou sexual pelo menos uma vez na vida, de
acordo com um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde. Esse
número permaneceu praticamente inalterado na última década, disse a OMS.
O relatório, que a OMS afirma ser o
maior estudo já feito sobre a prevalência de violência contra a mulher,
baseia-se em dados de 161 países e áreas sobre mulheres e meninas de 15 anos ou
mais coletados entre 2000 e 2018. Por isso não explica o impacto da pandemia.
Bloqueios e restrições relacionadas ao movimento levaram a relatos
generalizados de uma “pandemia sombria” — uma onda de violência contra mulheres
e meninas em todo o mundo, já que muitos se viram presos em casa com seus
agressores.
Os números “realmente trazem à tona o
quão amplamente prevalente esse problema já era” mesmo antes da pandemia, disse
a Dra Claudia Garcia-Moreno, da OMS, uma das autoras do relatório. Ela diz que
os pesquisadores não saberão o verdadeiro impacto da pandemia na violência
contra as mulheres até que possam realizar novas pesquisas de base populacional
novamente no futuro.
De acordo com o relatório, a violência
entre parceiros íntimos foi a forma mais prevalente – e começa cedo. Quase uma
a cada 4 meninas e mulheres que estavam em um relacionamento já sofreram
violência física e/ou sexual aos 19 anos, segundo o relatório.
Globalmente, 6% das mulheres relataram
ter sido abusadas sexualmente por alguém que não seja um marido ou parceiro —
embora o número real seja provavelmente maior, porque o abuso sexual ainda é
altamente estigmatizado e pouco divulgado pela mídia, de acordo com a análise.
“Os resultados
pintam um quadro horrível” da escala da violência contra as mulheres, disse o
diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma coletiva de imprensa
na terça-feira. Em um comunicado, ele chamou de um problema “endêmico em todos
os países e culturas que foi exacerbado pela pandemia COVID-19”.
“Mas ao contrário do COVID-19, a violência contra as mulheres não
pode ser interrompida com uma vacina. Só podemos combatê-la com esforços
profundos e sustentados — por governos, comunidades e indivíduos — para mudar
atitudes prejudiciais, melhorar o acesso a oportunidades e serviços para
mulheres e meninas e promover relacionamentos saudáveis e mutuamente
respeitosos”, disse Tedros.
A diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, chamou
a violência contra as mulheres de “a violação mais generalizada e persistente
dos direitos humanos” no mundo.
Embora o problema da violência contra as mulheres seja
generalizado globalmente, não é distribuído igualmente. A desigualdade social e
econômica é um dos maiores fatores de risco, e as mulheres em nações e regiões
baixa renda são desproporcionalmente afetadas, segundo o relatório. Por
exemplo, na Melanésia — região do oceano Pacífico sudoeste — 51% das mulheres
sofrerão violência de um parceiro íntimo durante a vida, em comparação com 25%
das mulheres na América do Norte.
As disparidades são particularmente surpreendentes quando se trata
de violência recente: A análise constatou que 22% das mulheres residentes em
países designados como “menos desenvolvidos” haviam sido sujeitas à violência
de parceiros íntimos nos últimos 12 meses antes de serem pesquisadas, muito
acima da média mundial de 13%.
“Eu sei que este relatório apresenta um quadro muito sombrio e que
os números são muito chocantes”, disse Garcia-Moreno. Ela diz que os dados
fornecerão uma linha de base que as Nações Unidas podem usar para acompanhar o
progresso futuro. “Nomear e contar o problema é, muitas vezes, um primeiro
passo para a ação e para o diálogo tanto no nível político quanto na sociedade
com o público em geral.”
O relatório pede
intervenções como a reforma de leis que discriminam a educação das mulheres, o
emprego e os direitos legais e a melhoria do acesso das mulheres aos cuidados
de saúde, incluindo o pós-estupro. A prevenção também inclui desafiar
estereótipos de gênero, começando pela forma como educamos crianças desde muito
jovens, disse a diretora-geral assistente da OMS, Dra. Princess Nothemba
Simelela.
E agora é a hora que o mundo precisa ter essas conversas, disse Mlambo-Ngcuka, da ONU Mulheres. “A violência de gênero é parte do que precisa ser enfrentado quando saímos da pandemia”, disse ela. [NPR]
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