BERLIM -
A iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani, de 43 anos, foi libertada da prisão, afirmou nesta quinta-feira Mina Ahadi, líder da Comissão Internacional contra a Pena de Morte e o Apedrejamento, à correspondente do GLOBO em Berlim, Graça Magalhães-Ruether. Sakineh estava presa condenada por adultério e envolvimento no assassinato do marido.
O dia da libertação não foi informado, mas a imprensa estatal iraniana divulgou fotos com data de 5 e 6 de dezembro da iraniana fora da prisão e em casa. Também foram soltos o filho de Sakineh, Sajjad Ghaderzadeh, o advogado Hotan Kian e dois jornalistas alemães.
Mina Ahadi diz temer que a libertação de Sakineh não seja definitiva, como já aconteceu em outros casos no Irã, mas minimiza o que foi noticiado pelo jornal britânico "Guardian".
O diário não descarta que a iraniana tenha sido levada para casa com o objetivo de gravar uma confissão forçada dos crimes.
- Eu tenho certeza que hoje aconteceu algo de muito importante no Irã, mas os caminhos das informações no meu país são lentos e complicados - afirmou a ativista, que vive na Alemanha.
O governo iraniano não confirma a libertação, mas a TV estatal anunciou para esta sexta-feira um programa especial sobre Sakineh.
As autoridades internacionais estão evitando comentar o assunto. Um dos poucos a falar, o chanceler italiano, Franco Frattini, comemorou a "excelente notícia", mas disse que o seu governo ainda estava tentando confirmá-la.
Segundo Mina, a libertação se deveu à pressão de líderes mundiais e de personalidades. A ativista destacou a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, presidente eleita, no processo que culminou com a soltura.
- Nós vivemos hoje momentos felizes - disse Mina, ao confirmar a libertação, lembrando porém que a luta continua. Atualmente, 21 mulheres e cinco homens aguardam em prisões iranianas execução por apedrejamento.
Lula teria se emocionado com libertação
O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que a informação não está "100% confirmada", mas que deixou o presidente emocionado. Ele ainda minimizou a participação no caso do governo brasileiro, que há alguns meses chegou a oferecer asilo político a Sakineh.
- O presidente, nesse assunto, se manifestou publicamente e fizemos uma série de questões junto ao governo iraniano. Mas não estamos querendo reivindicar isso. Para nós, o que é importante é a libertação dela. O Brasil não quer faturar sobre isso. O presidente ficou muito emocionado, satisfeito, contente - afirmou Garcia, citado pelo portal G1.
Para Garcia, quem mais tem que ser aplaudido é o próprio governo iraniano.
- É um sinal positivo por parte do governo iraniano. Se alguém tem que ser festejado é o governo iraniano, por ter revertido sua posição - disse.
Antes de saber da libertação, o Parlamento Europeu havia anunciado o envio de uma comitiva internacional de advogados a Teerã para negociar com o governo iraniano.
Entenda o processo contra Sakineh
Sakineh foi condenada à morte em 2007 por apedrejamento, pena aplicada aos condenados por adultério no Irã. Em setembro deste ano ela ganhou o perdão da família do marido para esse delito, mas a Justiça confirmou outra pena, de enforcamento, por suposto envolvimento na morte dele.
A iraniana chegou a confessar na TV estatal ter traído o marido e participado do assassinato, mas sua família diz que o depoimento só foi conseguido sob tortura. Ela voltou à televisão depois, em novas declarações amplamente contestadas por seu advogado, para negar ter sofrido qualquer tipo de pressão na penitenciária de Tabriz, onde estava presa.
A decisão final sobre a aplicação da sentença foi seguidas vezes adiada ao longo de 2010 e, atualmente, como as próprias autoridades iranianas admitiam, o caso estava aberto. As circunstâncias da libertação ainda não foram explicadas.
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