18/5/2012 Por Denise Assis - do Rio de Janeiro
A História tem seus ciclos e estes tendem a se repetir. Porém, quando não tratada com seriedade e atenção, quando os fatos evidenciados em algum período não são devidamente esmiuçados e levados em conta pela sociedade, eles se repetem mais rapidamente. Com este nariz de cera assumido, pretendo desaguar nos fatos vindos à tona agora, com a CPMI do Carlinhos Cachoeira, com relação à revista Veja.
O que a revista Veja fez, nada mais é do que a repetição dos métodos de atuação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês), no período compreendido de 1962 a 1964, quando amparado de forma escancarada pela mídia, atingiu o seu objetivo: o golpe.
Foi desta e de outras formas, tais como as gordas doações para reforçar os cofres do instituto, que a sociedade civil participou da derrubada do presidente João Goulart.
Tivesse ele um cenário intrincado para governar, ou limitações para conduzir o momento político delicado, foi a campanha desenfreada, custeada por empresários, multinacionais e simpatizantes (incluindo os donos de veículos de Comunicação), que minaram o seu poder e despertaram na sociedade a ânsia por mudanças. Fosse da forma que fosse.
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E da maneira que foi, um golpe, os destinos do país caminharam para os rumos sombrios que agora conhecemos e começamos a autopsiar. Esse é o risco. No calor da hora ninguém vislumbra a tragédia que está a um palmo do nariz. Importa apenas impor seus interesses e surrupiar o poder. E poder, hoje, não se limita à cadeira de presidente. Já se sabe. Pelo muito ou pouco que se ouviu das gravações vazadas, sabe-se que o poder hoje é o casamento da política com a economia, e de forma espantosa.
Ao mapear pioneiramente o incrível sistema montado por Golbery do Couto e Silva no Ipês, que acabaria desembocando na vitória do golpe, o cientista político René Armand Dreifus, (1964: A Conquista do Estado – Ação Política, Poder e Golpe de Classe – lançado em 1981) nos apontou a fórmula que hoje é usada por Veja. Outros autores trataram do tema, e em meu livro: Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe, lançado em 2001, o assunto voltou a ser enfocado, desta vez aproximando a lupa na direção desse resultado: a atuação da mídia e do cinema enquanto armas de convencimento. Para o bem ou para o mal.
Não foi, portanto, falta de aviso, de que o método era eficiente. Quero crer que houve, sim, um alheamento conveniente, já que "os tempos eram outros". Eram, mas o vento sempre pode virar. Com outra roupagem, agora com o auxílio de tecnologias mais sofisticadas, mas a mesma intenção: o poder.
O que o grupo de Cachoeira não avaliou, no entanto, foi que a tecnologia pode falhar (vide o Nextel que permitiu o grampo, quando não era o esperado), ou pode trabalhar, agora, a favor dos caluniados. Não apenas os "grampos", que isto é do tempo dos arapongas, mas a Internet, que está aí para infernizar a vida dos que pensam poder articular à sorrelfa contra o poder constituído, instituições, pessoas. Não podem. Em tempos de Carolina Dieckmann e de internautas politizados, a verdade termina por vir à tona.
Denise Assis é jornalista e colaboradora do Correio do Brasil.
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