Ferramentas online criam novo cenário de combate à corrupção


 

Sites ajudam cidadão comum a denunciar corrupção em âmbito local
Mariana Della Barba
Da BBC Brasil em São Paulo
Atualizado em  9 de novembro, 2012

Antes da internet se tornar popular, denunciar um pagamento de propina passava por instâncias como repartições públicas, longos processos jurídicos, caros advogados e dezenas de formulários e carimbos.

Hoje, com um email, alguns cliques ou uma mensagem de texto, é possível - em poucos segundos - fazer denúncias de todo o tipo em sites como I Paid a Bribe ("Eu paguei propina", www.ipaidabribe.com), o brasileiro Contas Abertas (www.contasabertas.com.br) e a plataforma que produz mapasUshahidi (www.ushahidi.com).

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"O boom da internet foi o ponto de partida para termos acesso à informação. Deixamos para trás aquele tempo de repartições públicas e de arquivo morto", diz à BBC Brasil o economista Gil Castelo Branco, secretário-geral do site Contas Abertas, que recebe e investiga suspeitas de irregularidades e denúncias de corrupção no governo.

O economista afirma que o site analisa até oito pedidos por dia, sendo que a grande maioria deles chega por email. "Algumas pessoas criam emails falsos para enviarem as denúncias, no primeiro contato, e aí temos que ganhar a confiança delas para avançar na investigação."

Segundo Castelo Branco, muitas das demandas vêm de acadêmicos e jornalistas, mas há uma crescente participação por parte do cidadão comum, que cada vez mais quer monitorar contas de sua prefeitura.

 

Jovens entusiasmados com novas tecnologias estão por trás do ativismo anticorrupção

Atalho

Por trás dessas ferramentas online que servem de "atalho" para se denunciar corrupção está uma multidão de jovens internautas.

"A juventude está mudando as táticas do ativismo anticorrupção. Eles trazem consigo um incrível entusiasmo por tecnologia móveis e novas mídias, como vídeos", diz Heather Leson, uma das diretoras da Ushahidi, à BBC Brasil.

"Esses jovens ativistas agora atuam e compartilham, ininterruptamente, em suas redes sociais. E assim eles não precisam mais usar arquivos em PDF de 50 páginas para lutar contra a corrupção. Estão livres disso."

Heather é uma das palestrantes da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção, realizada até sábado em Brasília. Com o tema "Combate à corrupção: ferramentas online e medidas eficazes", o debate em que ela participou discutiu novos métodos de amplificar a luta contra a corrupção, dando mais poder ao cidadão.

É justamente esse fortalecimento do cidadão comum o principal trunfo da plataforma Ushahidi, em que ela é diretora. O projeto foi criado como uma resposta ao caos que tomou conta do Quênia após as eleições de 2008. Um mapa com os focos de violência no país foi criado com base nas informações enviadas pela população, via telefone, SMS ou email.

Terremotos

O sucesso do software de código aberto (que pode ser alterado por qualquer pessoa) fez com que ele fosse usado em seguida para as mais diversas finalidade mundo afora. Ajudou a mapear, quase em tempo real, fraudes eleitorais e emergências no pós-terremoto do Haiti e do Chile.

"Mas o que começamos a ver este ano é um incrível aumento do número de mapas para identificar corrupção em todo o mundo", afirma Heather. "Dar voz a um grupo mais amplo de cidadãos usando ferramentas simples é algo revolucionário. A ideia é justamente criar algo útil para pessoas que querem usar a tecnologia para promover mudanças positivas para a sociedade."

Pelas denúncias que recebe, Castelo Branco, do Contas Abertas, também percebe um interesse crescente do cidadão em checar as contas de seu governo. "O Brasil ainda engatinha em termos de sites para denunciar irrgularidades em determinadas áreas, mas estamos vendo mudanças e cada vez mais ações. A cultura de que o burocrata é o dono da informação está caindo por terra", afirma.

"Mas essa é uma mudança na mentalidade do cidadão brasileiro. E isso não é algo que acontece da noite para o dia."

Uma das denúncias feitas pelo site Contas Abertas neste ano trouxe à tona o fato de o governo não prestar contas de todas as suas representaçóes no exterior no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Somente 37 das 219 representações seguiam a lei nesse sentido, inserindo seus dados no sistema.

Para o economista, denúcias como essas são cruciais para destrinchar os meandros do orçamento do Estado. "Porque governo gosta de transparência é no governo dos adversários", conclui.

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