►Operação da PF aponta que ex-senador comprou parecer para ficar em ilha

  
Interceptações telefônicas e de e-mails levaram a Polícia Federal a desmantelar o esquema de venda de pareceres públicos que pode ter sido utilizado por um ex-senador para manter o direito de permanecer em uma ilha no litoral de São Paulo.

A operação Porto Seguro tem indícios de que o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) pode ter obtido pareceres que o autorizam a não desocupar a ilha das Cabras, em Ilhabela, litoral norte do Estado.

O negócio levou a suspeitas de participação no esquema de funcionários do alto escalão da AGU (Advocacia-Geral da União), órgão que defende a União em processos judiciais.

A investigação envolve o ex-senador e empresário, que queria regularizar a situação da ilha das Cabras, onde construiu uma mansão e um heliporto. Sendo um bem da União, cabe à AGU oferecer parecer a favor ou contra à operação.

Folha apurou que Miranda, para regularizar a situação, pediu ajuda dos irmãos Rubens e Paulo Vieira, diretores das Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e da ANA (Agência Nacional de Águas), que teriam indicado José Weber Holanda Alves, advogado-geral adjunto da União.

Em troca, o servidor seria contemplado com uma viagem de cruzeiro ao exterior.

A Polícia Federal fez busca e apreensão no gabinete de Weber na AGU ontem.
O processo também passa pelo Secretaria de Patrimônio da União, outro órgão investigado pela PF.

Em 2008, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) confirmou uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo condenando o ex-senador Miranda a uma indenização por ter interferido no meio ambiente da ilha, ao construir um heliponto no local.

A decisão também incorporou a Ilha de Cabras ao Parque Estadual de Ilhabela. A Folha apurou que o negócio da ilha não se concretizou porque a operação da PF foi deflagrada antes.

Miranda é próximo da cúpula do PMDB no Senado. Ontem, ele prestou depoimento à PF. A Folha não conseguiu localizá-lo, mas deixou recado em sua casa em São Paulo.

Em conversas com integrantes do Palácio do Planalto, o chefe de Weber, ministro Luís Inácio Adams, disse não acreditar no envolvimento de seu funcionário no esquema investigado pela PF.

Weber ajudou a redigir na AGU um projeto de lei em discussão no Congresso que garantiria mais poderes a advogados com cargo de chefia, como ele, sobre os pareceres.

O projeto estabelece que os pareceres devem ser submetidos aos superiores hierárquicos da AGU.

O ex-senador passou o último feriado na ilha, onde costuma chegar de helicóptero.

Também costuma navegar pelo local com seu veleiro, um dos mais luxuosos nos passeios marítimos em Ilhabela. Miranda ocupa a ilha há cerca de 30 anos é criticado por ambientalistas por realizar obras ilegais.


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