03/06/2013
às 14:00 \ Política & CiaDisputa pela herança de Quércia mostra mágica: o ex-governador, fazendo exclusivamente política desde jovem, acumulou um colossal patrimônio de 1,5 bilhão de reais
Durante décadas mantido em sigilo, finalmente começa a vir à tona o valor do colossal patrimônio acumulado pelo falecido ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB) — por causa da disputa judicial por seus bens. Quércia, que fez política em tempo integral desde os 21 anos, quando se elegeu vereador e possuía como bem um automóvel Ford ano 1937, até morrer, aos 72 anos, em 2010, conseguiu a proeza extraordinária de amealhar fortuna de 1,5 bilhão de reais.
Conjuntos residenciais, vários shopping centers, um grande lote de fazendas (só na sua terra natal, 14 delas), edifícios inteiros em áreas nobres de São Paulo, duas retransmissoras de televisão, mansão de frente para o mar — nada faltou na vasta lista de bens valiosos do ex-governador que, tendo feito exclusivamente política ao longo de meio século, se ganhou tudo isso como empresário revelou-se um dos empreendedores mais argutos da história. Presume-se, para tanto, que fazia negócios durante as refeições, nos finais de semana e roubando horas de sono, pois todo o tempo restante sempre foi dedicado à política.
Confiram abaixo a disputa por esses bens.
Reportagem de João Batista Jr., publicada em edição impressa deVEJA São Paulo
ESPÓLIO BILIONÁRIO NA MIRA
Fazendas, shoppings e outros bens deixados por Orestes Quércia estão no centro da partilha de herança, que põe, de um lado, a viúva, Alaíde, com os quatro filhos que tiveram juntos e, de outro, os dois primogênitos do político, nascidos quando ele ainda era solteiro
O complexo onde fica o Novotel Jaraguá, no centro, com 415 quartos, 25 salas para eventos, dois restaurantes e um teatro: 100 milhões de reais. A sede do Octavio Café, construída em um terreno de 1600 metros quadrados na Avenida Faria Lima: 50 milhões de reais.
A torre do bloco A do condomínio comercial Millenium Office Park, na Vila Olímpia, com sete pisos de 650 metros quadrados cada um: 55 milhões de reais. O prédio de treze pavimentos e 5 600 metros quadrados de área útil na esquina da Avenida Paulista com a Rua Frei Caneca, alugado para a Universidade Anhembi Morumbi: 70 milhões de reais.
A retransmissora da Record em Campinas: 60 milhões de reais. A afiliada da Band em Santos: 36 milhões de reais. Catorze fazendas em Pedregulho, no total de cerca de 3 000 hectares, com plantações de cafés especiais, cana-de-açúcar, soja e banana: 200 milhões de reais. Uma mansão na Chácara Flora com piscina e academia de ginástica em um terreno de 4 300 metros quadrados: 7,5 milhões de reais.
Uma casa com seis suítes de frente para o mar no condomínio mais sofisticado da Praia da Baleia: 6 milhões de reais. Quatro shoppings e galerias da rede Jaraguá, com unidades em São Paulo, Campinas, Araraquara e Indaiatuba e um total de 32 348 metros quadrados de área bruta locável: ao menos 300 milhões de reais.
Na lista acima, estão alguns dos principais bens de Orestes Quércia e quanto valem hoje, conforme estimativas de mercado. Ao morrer, em decorrência de câncer de próstata, na véspera do Natal de 2010, aos 72 anos, o paulista natural de Pedregulho (a 455 quilômetros da capital), que governou o estado de 1987 a 1991, deixou para trás uma fabulosa riqueza, hoje no centro de uma disputa entre herdeiros que parece longe de se encerrar.
De um lado, estão a viúva, a médica oftalmologista Alaíde, de 55 anos, e os quatro filhos que teve com ele: Cristiane, 27, Andreia, 26, Rodrigo, 22, e Pedro, 20. De outro, figuram os irmãos Sidney, 47, e Fernando, 46, ambos frutos de relacionamentos com mulheres diferentes, vividos antes de seu casamento.
Na terça-feira (14), um encontro dos dois últimos com os advogados representantes de Alaíde terminou sem acordo para a divisão do patrimônio, avaliado pelas partes, nos bastidores, em 1,5 bilhão de reais. No fim da conversa, depois de meses em busca de uma solução não litigiosa, os primogênitos decidiram que não querem mais esperar: vão entrar com uma ação para pleitear seu quinhão nessa fortuna.
A proximidade das duas frentes de batalha praticamente inexistia antes da morte de Quércia, que pouco via os dois mais velhos. Sidney, 47 anos, só foi reconhecido em 2002, após exame de DNA. Apesar de o pai continuar distante, recebeu seu apoio financeiro para cursar direito na Unip de Campinas – antes, ganhava a vida como motorista. Ele atua na área trabalhista e mora provisoriamente com o filho e a mulher em uma das dezenas de apartamentos da herança.
Fernando, 46, também estudou direito, mas na PUC-Campinas. É bem-sucedido na área tributária, com escritórios em São Paulo e no interior. Casado e pai de três filhas, foi reconhecido oficialmente em 1993, aos 27 anos, quando era delegado de polícia. Sua história, porém, difere da vivida por Sidney. “Tive algum contato com meu pai na infância”, lembra ele, batizado Orestes Fernando Corssini.
» Clique para continuar lendo e deixe seu comentário
Tags: Abílio Diniz, Aloysio Nunes, Antônio Ermírio de Moraes, armas israelenses,Carvalho Pinto, condomínio comercial Millenium Office Park, corrupção, Cris Oak, DER, exame de DNA, FHC, Franco Montoro, Geraldo Alckmin, herança,Improbidade Administrativa, irregularidades na impressão da Loteria Instantânea, Novotel Jaraguá, Octavio Café, Orestes Quércia, Paulo Maluf,plástica no nariz, PMDB, Praia da Baleia, regime militar, Sol Panamby Agroempresarial LTDA, superfaturamento, testamento, TSE, Valentina Caran
Nenhum comentário:
Postar um comentário