Há 100 anos, no dia 10 de agosto de 1913, foi assinado o Tratado de Bucareste que concluiu a Segunda Guerra Balcânica. A Bulgária saiu então derrotada pela Sérvia, Montenegro, Grécia, Romênia e Turquia. Essa guerra durou pouco mais de um mês, mas suas consequências foram sentidas ao longo de muitas décadas
O conflito eclodiu pouco depois do fim da Primeira Guerra Balcânica de 1912, na qual as forças conjuntas da Bulgária, Sérvia, Montenegro e Grécia derrotaram o exército do Império Otomano. A União Balcânica reconquistou grandes porções de território na Macedônia e na Trácia. Seu destino teria de ser decidido, segundo o Tratado de Londres, pelos próprios países-vencedores.
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Isso acabou por ser o pomo da discórdia entre os aliados recentes. Nos Bálcãs foi decretada uma nova mobilização. Essa situação era alimentada pelas grandes potências, envolvidas numa guerra de bastidores pela influência na região. De um lado se apresentava a Áustria-Hungria, que nessa altura dispunha de instrumentos econômicos de influência sobre os Bálcãs, e a Alemanha, sua aliada.
Do outro lado estavam a Rússia, a França e a Grã-Bretanha. Aparentemente, a Rússia teria a palavra mais importante a dizer: três décadas e meia antes, ela tinha obtido, na guerra contra a Turquia, a independência dos países balcânicos. Também a própria União Balcânica, mas com fins pacíficos, foi criada precisamente com seu apoio, refere o perito do Instituto Russo de Estudos Estratégicos Piotr Multatuli:
"Essa União permitia à Rússia impedir uma grande guerra europeia. A Áustria-Hungria e a Alemanha já não podiam agir tão facilmente contra nenhum desses países, ou contra a Rússia, por se ter forjado uma poderosa "Entente balcânica". Mas, infelizmente, todos esses pequenos países, a Bulgária, a Sérvia, a Grécia, o Montenegro e a Romênia, perseguiram seus interesses estritamente nacionais, e entendidos de uma forma errada.
Eles queriam fundar a Grande Bulgária, a Grande Sérvia e assim por diante. Daí resultou que, apesar da oposição da Rússia e da intervenção pessoal do Imperador Nicolau II, a Bulgária bombardeou território sérvio que, inclusivamente, tentou invadir. Em seguida, todos esses Estados se uniram contra a Bulgária."
"Ou tudo ou nada", declarou então o czar búlgaro Fernando I, tendo recusado todas as propostas da Rússia para uma regulação pacífica. Ele estava convencido que a Macedônia, metade de cuja população era constituída por búlgaros, iria ser incorporada em seu país. Mas essa euforia bélica não durou muito. Depois da Sérvia, da Grécia e do Montenegro, também a Romênia entrou na guerra. Para além disso, a Turquia, que tinha acabado de ser derrotada, também se envolveu. A Bulgária não tinha qualquer hipótese e ela foi obrigada a aceitar as condições do Tratado de Bucareste.
O fim da União Balcânica e o Tratado de Bucareste aumentaram ainda mais a tensão na região. Mais tarde, esta iria ser uma das razões que iriam provocar o início da Primeira Guerra Mundial, considera o perito do Instituto de Estudos Eslavos Alexander Karasev:
"Por um lado, a Sérvia, o Montenegro e a Romênia aumentaram seus territórios. Eles saíram vencedores. A Bulgária, devido ao aventureirismo de seus círculos dirigentes, foi derrotada e de uma forma bastante séria. Dessa forma, a região ficou numa situação de grande tensão. Isso explica o desejo de revanche dos círculos dirigentes da Bulgária."
O Tratado de Bucareste foi anulado em 1915. A Bulgária, que combatia ao lado da Áustria-Hungria e da Alemanha, tomou a Macedônia à Sérvia. Depois da derrota das Potências Centrais, ela foi obrigada a abandoná-la. Em 1941, voltou a conquistá-la, desta vez combatendo ao lado da Alemanha nazista. Depois da chegada do Exército Soviético, voltou a perdê-la. Não é difícil de verificar que a tendência das forças no poder na Bulgária para essas alianças infelizes era ditada pela mesma disputa histórica territorial. Também ao longo de toda a época do socialismo se verificou a mesma tensão nas relações entre a Iugoslávia e a Bulgária.
A República da Macedônia obteve sua independência nacional em 1991, mas durante os vários anos seguintes foi alvo de bloqueio econômico por parte da Grécia que considerava inadmissível o nome helênico desse país e os símbolos helênicos na sua bandeira. A Bulgária, que foi o primeiro país a reconhecer a independência da Macedônia, não deixou, no entanto, de frisar que a língua macedônia era apenas um dialeto do búlgaro.
Como dizia o mestre da dialética Friedrich Hegel, os acontecimentos históricos se repetem por duas vezes: primeiro como uma tragédia e depois como uma farsa. Esta última é mais alegre e, portanto, é mais fácil de abandonar. A União Balcânica, que foi uma esperança da Rússia há um século, não durou muito tempo nessa altura. Mas seu apelo para a realização de conversações de paz continua a ser atual.
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